18 de outubro de 2014

Locomotiva científica

Pode parecer má nova para a ciência paulista, mas é uma boa notícia para o Brasil: a pesquisa científica está um pouco menos concentrada no Estado de São Paulo. A produção de conhecimento e inovação é bom indicador de que uma região de fato se desenvolve, e não apenas expande sua economia.

A dispersão se manifesta como perda relativa de participação de USP, Unicamp e Unesp no total de artigos em periódicos de relevância internacional. De 2004 a 2006, a fatia paulista era de 44%; em 2012 e 2013, recuou para 37%.
Há que fazer duas qualificações a respeito dessas cifras. Primeiro, cabe assinalar que a mudança é pequena e pode bem representar mais uma flutuação do que uma tendência, a qual só os dados dos próximos anos poderão confirmar.
Além disso, seria mais correto dizer que a produção paulista retornou ao patamar que ocupava antes. Em 1981, representava os mesmos 37% da pesquisa nacional.
De todo modo, é um percentual mais próximo do peso do Estado no PIB brasileiro, pouco abaixo de um terço da riqueza produzida no país. Numa economia com menos discrepâncias regionais, seria de esperar que as parcelas de pesquisa e produto fossem mais próximas.
Uma das razões para o decréscimo paulista está sem dúvida na prolífica criação de universidades federais na última década, sobretudo durante o governo Lula. Hoje há 63 dessas instituições espalhadas pelo território nacional, 18 delas inauguradas desde 2003.
Essa não é a história toda, contudo. Embora São Paulo tenha perdido participação, a pesquisa feita no Estado se distancia do restante do país em repercussão internacional --segundo o indicador de qualidade e relevância representado pela quantidade de citações originadas pelos artigos científicos.

A média nacional, que crescia lentamente desde os anos 1980, oscila desde 2003 em torno de 0,69 citação por estudo publicado. Não chega a ser surpresa, pois novos grupos de pesquisa demoram alguns anos para se fazer notar no competitivo cenário internacional.
As universidades paulistas, por outro lado, sobretudo as duas com maior tradição em pesquisa (USP e Unicamp), seguem em trajetória ascendente, com escores por artigo de 0,84 e 0,80, respectivamente.
Esse desempenho resulta de décadas de fomento à ciência com rígidos controles de qualidade. Faz bem o governo federal em expandir o sistema científico nacional, mas em algum momento precisará zelar para que sua produção, além de crescer, adquira relevância aos olhos do mundo.
Folha de S.Paulo, 18/10/2014

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