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Relatório do IPCC reafirma papel central do homem no aquecimento global; países precisam se preparar para as mudanças já em curso
No mês passado, atracou no porto de Roterdã, na Holanda, o primeiro navio cargueiro chinês a navegar até a Europa pelo Ártico.
Cerca de 12 dias mais curta do que pelo canal de Suez (48 dias), essa rota era impensável décadas atrás. Abriu-se graças ao aquecimento global, que tem reduzido a camada de gelo sobre o Ártico.
Entre cientistas, é cada vez maior a concordância quanto ao papel central do homem na alta das temperaturas --hipótese reafirmada no mais recente relatório do IPCC, painel do clima da ONU, com centenas de especialistas.
O documento prevê que a região ártica continuará sofrendo perda contínua de gelo. De 1979 e 2012, a área da calota do Ártico encolheu anualmente de 3,5% a 4,1%.
No cenário mais pessimista, em menos de quatro décadas a região poderá ter seu primeiro verão sem gelo marinho. Embora facilite a navegação, essa mudança pode afetar de maneira considerável o clima do planeta.
O relatório do IPCC também afirma que os oceanos estão se aquecendo de forma cada vez mais rápida, o que provoca a sua expansão.
Para o painel, é "muito provável" que o aumento médio do nível do mar tenha subido de 1,7 milímetro por ano entre 1901 e 2010 para 3,2 milímetros/ano entre 1993 e 2010. A elevação das águas poderia alcançar de 28 cm a 89 cm até 2100, ameaçando populações em áreas costeiras, sobretudo em regiões pobres, onde milhões estão em situação vulnerável.
Segundo os cientistas do IPCC, as últimas décadas foram mais quentes do que qualquer decênio anterior, desde 1850. A estimativa é que, até 2100, a temperatura da Terra possa se elevar em até 4,8° C.
Este quinto relatório é o primeiro desde 2009, quando a credibilidade do IPCC foi arranhada por casos como a divulgação de mensagens de climatologistas do painel que sugeriam manipulação de dados. Os resultados de agora são coerentes com os anteriores.
Se para a maioria dos cientistas há poucas dúvidas sobre o aquecimento, o IPCC deveria se dedicar a estudos mais frequentes, a fim de explicar, por exemplo, por que a temperatura aumentou mais lentamente nos últimos 15 anos.
Sendo peça estratégica para um acordo global sobre emissões de carbono, após o fracasso da Conferência do Clima em Copenhague (2009), é importante que o painel não deixe perguntas sem resposta.
Já estão em curso mudanças no planeta. O desafio é se preparar para elas --com medidas economicamente defensáveis-- e não fazer uma aposta que pode custar caro à espécie humana.
Folha de S.Paulo, 8/10/2013
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