EDITORIAIS
editoriais@uol.com.br, Folha de S.Paulo, 3/4/2015
A prostração do governo Dilma Rousseff (PT) não se verifica apenas diante da crise política e econômica. Também em face da questão ambiental --desmatamento e mudança do clima, sobretudo-- o Planalto se encontra na defensiva.
O ano de 2015 entrará para a história como aquele em que se adotou o Acordo de Paris, com a ambição de combater os efeitos do aquecimento global. O Brasil, com o trunfo da redução de 83% nas derrubadas de floresta amazônica de 2004 a 2014, poderia ser um dos líderes da negociação. Mas não é.
Em 2009, na frustrada Conferência do Clima em Copenhague, o país surpreendeu o mundo com um compromisso voluntário de cortar em 80% o desmatamento na Amazônia. As taxas de destruição indicam que a meta será cumprida.
Nada está garantido, entretanto. Em primeiro lugar, os índices anuais de desmate ainda oscilam muito. Em 2013, após quatro anos de quedas, registrou-se aumento de 29%. Em 2014, redução de 18%.
A área devastada, nos últimos seis anos, variou em torno de 5.000 km2. O governo federal parece dar-se por satisfeito com esse desempenho, embora seja uma das maiores taxas de desmatamento do mundo.
Em segundo lugar, há indícios de que a destruição pode recrudescer neste ano. O sistema oficial de monitoramento por satélite (Prodes) só divulgará o novo dado anual (agosto de 2013 a julho de 2014) na véspera da Conferência de Paris, mas sistemas de alerta indicam aceleração das derrubadas desde agosto passado.
Em terceiro lugar, especialistas afirmam que o governo Dilma não só diminuiu os dispêndios em prevenção e combate ao desmatamento como também mudou seu perfil.
Divulgado na terça-feira (31), levantamento do portal Infoamazônia sobre gastos realizados na área registrou redução de 72% nos desembolsos na comparação com o segundo mandato de Lula.
Além disso, as despesas privilegiaram ações de repressão do Ibama, em prejuízo daquelas de regularização fundiária e criação de alternativas econômicas à exploração predatória. Sem estas, será difícil dar novos passos na redução do desmatamento e de sua contribuição para o aquecimento global.
Por fim, o governo deixou de apresentar, no prazo encerrado na terça, suas novas metas para combater o efeito estufa após 2020. Os EUA detalharam como pretendem cortar de 26% a 28% de sua poluição até 2025; outros também divulgaram seus planos, como Suíça, União Europeia, Noruega e México. O Brasil parece inclinado a só fazê-lo na última hora, em outubro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário