19 de abril de 2015

CLÓVIS ROSSI O mundo não te espera, Brasil


O país vai ficando à margem de todos os grandes arranjos que estão sendo negociados no planeta
Líderes do Congresso norte-americano aprovaram a concessão do chamado "fast track" para que o Executivo negocie a TPP (Parceria Transpacífico), um conglomerado de 12 países da órbita do Pacífico.
Significa que, se o plenário do Congresso aceitar o acordo, os Estados Unidos podem negociar com mais liberdade essa mega-acordo de livre comércio. O Congresso, a quem cabe decidir sobre acordos comerciais, só poderá aprovar ou rejeitar em bloco o entendimento que vier a ser firmado, sem emendá-lo.
É uma medida que acelera qualquer negociação, porque os parceiros perdem o medo de fechar um acordo que, depois, o Congresso poderia picotar, aceitando aquilo que julgar conveniente para os Estados Unidos, mas rejeitando itens que achar prejudiciais.
O "fast track" serve para realçar ainda mais a paralisia da diplomacia brasileira, que vem desde o primeiro período Dilma Rousseff.
A TPP envolve não apenas gigantes como os EUA, Canadá, Austrália e Japão, mas também parceiros latino-americanos do Brasil, casos de Peru, Chile e México.
A previsível inclinação desses países pela TPP deixará inexoravelmente manca a prioridade brasileira para a integração latino-americana.
Não se trata de aceitar acordos de livre comércio como a panaceia universal. Como quase tudo na vida, eles têm luzes e sombras.
Mas o Brasil é um país com negociadores competentes o bastante para conseguir, nas negociações comerciais, aumentar as luzes e minimizar as sombras. Pior do que qualquer negociação, mesmo a mais complexa, é a ausência delas.
O Brasil acaba ficando à margem de tudo ou, então, contentando-se com a menor fatia do bolo dos arranjos em andamento.
Exemplo concreto: o governo brasileiro festeja o banco dos Brics, do qual é um dos fundadores, como um tremendo êxito. É um bom passo, mas insignificante diante, por exemplo, do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura.
Ambos os bancos são liderados pela China, o Brasil está nos dois, mas a qual você acha que os chineses darão prioridade, ao banquinho com os três parceiros dos Brics ou ao bancão com mais de 50 países, entre eles grandes potências europeias, como Reino Unido e França?
É evidente que, agora, o Brasil não pode competir com a China. Ficou para trás nos últimos 30 anos.
Mas é igualmente evidente que não pode continuar parado, sob pena de se tornar cada vez mais irrelevante no cenário internacional.
Se há algum interesse do governo brasileiro em achar algum tema que dê consistência à visita que a presidente Dilma Rousseff fará em junho aos Estados Unidos, o melhor à mão é a negociação comercial.
O primeiro passo, aliás, já foi dado pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, que defendeu o estreitamento das relações com mercados que possam oferecer maior potencial e possibilidades de negócios, como os Estados Unidos, que devem ser colocados no centro da estratégia de política comercial.
Seria, ademais, coerente com o enfoque liberal da nova equipe econômica.

Folha de S.Paulo, 19/4/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário