O Globo , 25/4/2015
À medida que o ano de 2015 avança, os Estados membros da Organização das Nações Unidas olham inquietos para o relógio: aproxima-se a data-limite para um balanço dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), e já se sabe que a essa agenda está inconclusa.
Há países onde é praticamente nula a perspectiva de cumprimento das metas, e alguns dos ODM estão em situação mais crítica que outros. É o caso do objetivo número 2, que prevê a universalização da educação fundamental.
A despeito de esforços em diferentes esferas, quase 60 milhões de crianças no planeta ainda não frequentam uma escola. Como esperar desenvolvimento sustentável de populações que mal sabem ler e escrever, especialmente em um mundo que demanda cada vez mais informação e conhecimento?
Essa vem sendo considerada uma “agenda pendente”, que justificou a realização, por UNESCO e UNICEF, do Encontro Global sobre Educação, em novembro de 2013. A proposta dos ministros dessa área, à época, era promover o que chamaram de “empurrão” (“Big Push”) para que, até 2015, fossem atingidas as metas estabelecidas na Conferência Mundial Educação para Todos, realizada na Tailândia em 1990.
O ex-diretor do Grupo de Parcerias Globais do movimento Educação para Todos, Olav Seim, já alertava, em 2013, que as conquistas obtidas podem mesmo dar a falsa impressão de avanço quando, na realidade, o número de crianças fora da escola e os investimentos em educação cresceram para, em seguida, estagnar.
Para a Sheikha Moza bint Nasser, presidente da Fundação “Education Above All” (Educação acima de Tudo), do Catar, “o que precisamos é de vontade política, nos comprometer com o princípio de que a educação deve estar no centro dos objetivos do desenvolvimento, como elemento que possibilita todas as outras áreas”.
Em termos de agenda pós-2015, retoma-se a preocupação com a qualidade da educação. Parece haver consenso entre especialistas em políticas educacionais quanto à necessidade de se valorizar mais o conteúdo efetivamente ensinado e aprendido – de maneira a preparar crianças e jovens para a vida e o mercado de trabalho do século 21 – e menos os índices de matrícula ou de professores por estudante, ainda que esses dados tenham sua importância.
Embora o objetivo educacional da agenda pós-2015 preveja abrangência maior (da pré-escola ao ensino superior), isso não é necessariamente positivo. De forma relativa, a nova agenda reduz a prioridade ao ensino fundamental. Daí se buscar agora atenção especial à agenda inconclusa, o ODM 2.
Jorge Werthein, Doutor em Educação pela Universidade de Stanford,
Senior Education Advisor, Education Above All Foundation
Nenhum comentário:
Postar um comentário