21 de janeiro de 2011

Erros não podem ofuscar o calor da lógica do novo Enem



21 de janeiro de 2011
  Jorge Werthein | Folha de S. Paulo

OPINIÃO
JORGE WERTHEIN

ESPECIAL PARA A FOLHA

A sucessão de problemas relacionados à aplicação do Enem tem gerado reações acaloradas. É compreensível que seja assim, especialmente entre alunos que se veem prejudicados com falhas tanto na organização quanto no conteúdo de provas.
São erros que obviamente exigem correção. No entanto, o calor dos protestos não deveria ofuscar a lógica por trás do novo Enem, uma iniciativa de mérito, que pode trazer numerosos benefícios uma vez superados problemas iniciais, muito deles relacionados a questões de logística.
Os erros de natureza operacional derivam da grande importância que o Enem adquiriu ao atrair milhões de estudantes. Nenhuma das falhas deveria pôr em xeque o valor do Enem e do sistema nacional de avaliação.
Deve-se reconhecer, antes de tudo, que o Brasil se mantém líder na região em sistema de informação educacional e de avaliação. Convém que isso fique claro, de maneira a evitar que se interrompa um grande avanço.
Até porque o Enem traz consigo a perspectiva do fim do vestibular, ao lançar um modelo de avaliação mais realista e humano quanto à mensuração da capacidade dos estudantes. Ele representa a concretização de propostas de várias correntes, que há décadas criticam a "peneira" do vestibular e a indústria de cursos preparatórios.
Ao abrir a perspectiva de substituir o vestibular, o Enem traz automaticamente a possibilidade de mudanças no currículo do ensino médio e, por conseguinte, também no do ensino fundamental.
Em vez de esses currículos se estruturarem com o objetivo de capacitar estudantes para um exame, eles passariam a ter em vista uma formação mais ampla e ade- quada às exigências do mundo atual, privilegiando a capacidade de raciocínio e a compreensão, em vez da memorização.
A lógica do Enem, portanto, faz sentido, pois se fundamenta em uma nova visão educacional, mais compatível com o século 21.
JORGE WERTHEIN é doutor em Educação pela Universidade Stanford (EUA), ex-representante da Unesco no Brasil e vice-presidente da Sangari no país e do Instituto Sangari

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