Correio Braziliense
Interessados , mas pouco informado
» MAX MILLIANO MELO
Levantamento do MCT mostra grande interesse dos brasileiros por temas como meio ambiente, saúde e ciência. No entanto, a população ainda tem dificuldades para citar nomes de pesquisadores e instituições de pesquisa do país
Não é esporte nem política, muito menos economia.
Os temas que andam atraindo o interesse dos brasileiros são meio ambiente e saúde. Os assuntos foram os mais citados em uma recente pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que mediu o índice de curiosidade da população em relação a nove tópicos.
Além disso, ciência e tecnologia, na quinta posição da lista, é o assunto que mais cresceu na curiosidade dos brasileiros desde 2006, quando o levantamento foi feito pela primeira vez. Atualmente, 85% das pessoas dizem que gostam de se informar sobre as recentes descobertas científicas e os últimos lançamentos tecnológicos. Já o índice de interesse pelos dois assuntos que lideram o ranking foi 94%.
Para especialistas, o resultado é reflexo do avanço científico que o Brasil vive e da ampla discussão a respeito do clima no planeta. "Nos últimos quatro anos, o país passou por diversas tragédias naturais, como as grandes secas na Amazônia e as enchentes no Sul e Sudeste. Isso contribui para que os temas ambientais tenham maior relevância para os cidadãos", opina Ildeu de Castro, diretor de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia do MCT. "Além disso, a preocupação mundial com os efeitos do aquecimento global também se refletem na população brasileira, que culturalmente sempre se preocupou com o meio ambiente", completa.
Se o meio ambiente sempre esteve na cabeça dos brasileiros, o salto apresentado pelo tema ciência e tecnologia surge como uma surpresa - em 2006, o índice de pessoas que se mostravam curiosas sobre o assunto era de 76%. "Atualmente, o Brasil forma 60% de todos os doutores da América Latina e somos responsáveis por metade de todos os artigos científicos publicados na região. O desempenho cada vez melhor do Brasil nas ciências acaba sendo sentido pela população, que valoriza mais o assunto", comenta Castro.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgados em novembro do ano passado, o Brasil é o 13º maior produtor de ciência em todo o mundo. Entre 1992 e 2008, a participação nacional em artigos científicos publicados em periódicos internacionais subiu de 0,8% para 2,7%.
Ainda segundo o relatório, intitulado O estado da ciência ao redor do mundo, nos últimos 27 anos o número de doutores formados no Brasil pulou de 554 para 10,7 mil.
"Hoje, as pessoas perceberam que a ciência é essencial para o dia a dia. Quando ocorre um problema, como as recentes enchentes na região serrana do Rio, logo em seguida o interesse das pessoas se volta para pesquisadores que podem explicar, prever ou mesmo resolver o problema", opina Aldo Malavasi, secretário- geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). "Isso se reflete também nos tomadores de decisão, que cada vez mais passam a ver a ciência como uma área estratégica.
Aumentam os investimentos na área, que resultam em mais conhecimento, num círculo virtuoso", completa Ildeu de Castro.
Desconhecimento Se por um lado o mundo científico desperta cada vez mais curiosidade, o conhecimento produzido em terras tupiniquins não faz o mesmo sucesso. Mais de 80% dos entrevistados não soube citar o nome de nenhum centro de pesquisa ou cientista brasileiro. Ou seja, há interesse, mas ainda falta informação. Entre as instituições lembradas por aqueles que souberam mencionar alguma entidade, o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz estão no topo da lista. Já na relação dos pesquisadores, os sanitaristas Oswaldo Cruz e Carlos Chagas encabeçam o ranking. "Isso é fruto da deficiência crônica no ensino de história da ciência no Brasil, que é praticamente inexistente. Os pesquisadores lembrados são de um século atrás, são mais conhecidos até por aparecerem nos conteúdos de história geral", diz Castro.
A outra razão do desconhecimento da ciência verde e amarela é a falta de espaço destinado a discussão da ciência. Para os especialistas, existe pouca abertura da mídia para esse fim.
"Poucos jornais dedicam editorias para a cobertura de ciência.
Não existe um canal especializado, e os programas de tevê que tratam do assunto, em geral, são relegados aos horários menos nobres", analisa Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Outra falha apontada pelos estudiosos - e que se refletiu na pesquisa do MCT - foi a baixa ocorrência e má distribuição de locais científicos abertos a visitação.
Museus, zoológicos, jardins botânicos e bibliotecas ainda são escassos e localizados apenas nas capitais, especialmente na Região Sudeste. Oitenta e seis por cento dos entrevistados disseram não ir a museus de arte, 71% contaram que não frequentam bibliotecas e 78% responderam não ir a zoológicos.
"É preciso que as pessoas tenham espaços onde possam vivenciar a ciência e conhecer de perto o que é produzido no Brasil, já que essa é uma das formas mais importantes de se aprender e valorizar a ciência e o meio ambiente", completa Malavasi, da SBPC.
Não é esporte nem política, muito menos economia.
Os temas que andam atraindo o interesse dos brasileiros são meio ambiente e saúde. Os assuntos foram os mais citados em uma recente pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que mediu o índice de curiosidade da população em relação a nove tópicos.
Além disso, ciência e tecnologia, na quinta posição da lista, é o assunto que mais cresceu na curiosidade dos brasileiros desde 2006, quando o levantamento foi feito pela primeira vez. Atualmente, 85% das pessoas dizem que gostam de se informar sobre as recentes descobertas científicas e os últimos lançamentos tecnológicos. Já o índice de interesse pelos dois assuntos que lideram o ranking foi 94%.
Para especialistas, o resultado é reflexo do avanço científico que o Brasil vive e da ampla discussão a respeito do clima no planeta. "Nos últimos quatro anos, o país passou por diversas tragédias naturais, como as grandes secas na Amazônia e as enchentes no Sul e Sudeste. Isso contribui para que os temas ambientais tenham maior relevância para os cidadãos", opina Ildeu de Castro, diretor de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia do MCT. "Além disso, a preocupação mundial com os efeitos do aquecimento global também se refletem na população brasileira, que culturalmente sempre se preocupou com o meio ambiente", completa.
Se o meio ambiente sempre esteve na cabeça dos brasileiros, o salto apresentado pelo tema ciência e tecnologia surge como uma surpresa - em 2006, o índice de pessoas que se mostravam curiosas sobre o assunto era de 76%. "Atualmente, o Brasil forma 60% de todos os doutores da América Latina e somos responsáveis por metade de todos os artigos científicos publicados na região. O desempenho cada vez melhor do Brasil nas ciências acaba sendo sentido pela população, que valoriza mais o assunto", comenta Castro.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgados em novembro do ano passado, o Brasil é o 13º maior produtor de ciência em todo o mundo. Entre 1992 e 2008, a participação nacional em artigos científicos publicados em periódicos internacionais subiu de 0,8% para 2,7%.
Ainda segundo o relatório, intitulado O estado da ciência ao redor do mundo, nos últimos 27 anos o número de doutores formados no Brasil pulou de 554 para 10,7 mil.
"Hoje, as pessoas perceberam que a ciência é essencial para o dia a dia. Quando ocorre um problema, como as recentes enchentes na região serrana do Rio, logo em seguida o interesse das pessoas se volta para pesquisadores que podem explicar, prever ou mesmo resolver o problema", opina Aldo Malavasi, secretário- geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). "Isso se reflete também nos tomadores de decisão, que cada vez mais passam a ver a ciência como uma área estratégica.
Aumentam os investimentos na área, que resultam em mais conhecimento, num círculo virtuoso", completa Ildeu de Castro.
Desconhecimento Se por um lado o mundo científico desperta cada vez mais curiosidade, o conhecimento produzido em terras tupiniquins não faz o mesmo sucesso. Mais de 80% dos entrevistados não soube citar o nome de nenhum centro de pesquisa ou cientista brasileiro. Ou seja, há interesse, mas ainda falta informação. Entre as instituições lembradas por aqueles que souberam mencionar alguma entidade, o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz estão no topo da lista. Já na relação dos pesquisadores, os sanitaristas Oswaldo Cruz e Carlos Chagas encabeçam o ranking. "Isso é fruto da deficiência crônica no ensino de história da ciência no Brasil, que é praticamente inexistente. Os pesquisadores lembrados são de um século atrás, são mais conhecidos até por aparecerem nos conteúdos de história geral", diz Castro.
A outra razão do desconhecimento da ciência verde e amarela é a falta de espaço destinado a discussão da ciência. Para os especialistas, existe pouca abertura da mídia para esse fim.
"Poucos jornais dedicam editorias para a cobertura de ciência.
Não existe um canal especializado, e os programas de tevê que tratam do assunto, em geral, são relegados aos horários menos nobres", analisa Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Outra falha apontada pelos estudiosos - e que se refletiu na pesquisa do MCT - foi a baixa ocorrência e má distribuição de locais científicos abertos a visitação.
Museus, zoológicos, jardins botânicos e bibliotecas ainda são escassos e localizados apenas nas capitais, especialmente na Região Sudeste. Oitenta e seis por cento dos entrevistados disseram não ir a museus de arte, 71% contaram que não frequentam bibliotecas e 78% responderam não ir a zoológicos.
"É preciso que as pessoas tenham espaços onde possam vivenciar a ciência e conhecer de perto o que é produzido no Brasil, já que essa é uma das formas mais importantes de se aprender e valorizar a ciência e o meio ambiente", completa Malavasi, da SBPC.
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