Meta do governo é reduzir índice para 52% até 2015; dado inclui problemas diversos registrados por diretores no ambiente escolar
01 de agosto de 2011 | 0h 00
Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo
Cerca de 62% das escolas estaduais de São Paulo registraram, durante o ano passado, situações diversas de violência dentro do ambiente escolar, de acordo com relatos dos próprios diretores. São roubos, depredações, pichações, violência contra alunos, professores e funcionários e até brigas entre estudantes. A meta do governo é reduzir esse número para 52% até 2015.
Robson Fernandjes/AE
Prevenção. Saída da Escola Estadual Antonio Firmino de Proença, na Mooca, é acompanhada pela ronda da polícia
O cenário atual e a meta a ser atingida constam do novo Plano Plurianual (PPA) para o período 2012-2015, ao qual o Estado teve acesso. O documento, que contém os objetivos e os investimentos até o próximo mandato, deveria ter sido concluído na sexta-feira, de acordo com o cronograma oficial. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) deve enviar o projeto à Assembleia Legislativa neste mês.
O PPA prevê, para amenizar as situações de roubos, depredações, pichações e violência física contra alunos, professores e funcionários, além das brigas entre estudantes, um orçamento total de R$ 573.578.940 para o período 2012-2015.
O dinheiro será usado em programas que promovam parcerias entre a escola, a comunidade e a sociedade civil. Entre as iniciativas previstas estão ações interdisciplinares de prevenção e proteção nas escolas, com encontros de formação de educadores, e o programa Escola da Família, que existe desde 2003 e mantém as escolas abertas com atividades nos fins de semana.
A assessoria de imprensa do governo do Estado disse, em nota, que "o Plano Plurianual 2012-2015 está em elaboração" e "a divulgação de qualquer versão preliminar obtida em sistemas internos da administração é precipitada, certamente incompleta, e pode levar a conclusões equivocadas". Já a Secretaria de Educação afirmou, também em nota, que o índice de 62% está expresso de forma bastante abrangente (leia mais nesta página).
Os registros de violência usados como referência constam nos questionários do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) de 2010, respondidos por 4.960 diretores de escolas.
O Saresp avalia, anualmente, o desempenho dos alunos dos 3.º, 5.º, 7.º e 9.º anos do ensino fundamental e do 3.º ano do médio da rede estadual, em língua portuguesa e matemática.
Em cada edição, além das provas, o Saresp tem questionários que são respondidos por pais, alunos, professores e diretores, com o objetivo de também avaliar a qualidade da educação.
Experiências. Para professores de escolas estaduais que já vivenciaram situações de violência dentro do ambiente de trabalho, a insegurança faz parte do cotidiano. "Em 15 anos na rede, já presenciei muita coisa: destruição de mesas, carteiras, vidros e lousas. E os alunos destroem por maldade mesmo", diz a professora Ana (nome fictício), de 62 anos, que leciona geografia e história em escolas da zona leste. "Também não levamos celular para a aula porque já houve casos de roubo dos telefones."
Ana passou por um caso grave de agressão. Há cinco anos, um aluno chutou a porta da sala de aula por fora, e ela, que estava próxima, acabou caindo no chão. Segundo a professora, algumas cadeiras caíram em cima dela. "Eu desmaiei com a pancada na cabeça", lembra. Hoje, ela está em processo de readaptação, auxiliando professores e a direção de uma escola. Ela não pensa em voltar a lecionar.
Brigas entre alunos e conflitos entre pais de estudantes também são comuns nas escolas. Sinval Soares, de 26 anos, dá aulas de artes no Capão Redondo, zona sul, e já presenciou alguns. "Já vi até briga de um pai com um estudante que não era filho dele", lembra. "Parece que essas pessoas não têm noção de cidadania." Para ele, a ronda escolar deveria ser mais eficaz.
A mãe de Sinval, Ginoveva Soares, de 58 anos, também é professora. Ela, que leciona biologia, foi espancada pela mãe de um aluno da 7.ª série em junho, em uma escola estadual da mesma região. Ginoveva havia mandando o estudante para a diretoria, por mau comportamento.
"Tenho medo de sair de casa e muita angústia por ter sido afastada", diz ela, que foi diagnosticada com estresse pós-traumático e depressão aguda. "Eu amo o que faço, amo dar aulas."
Políticas públicas. Para os especialistas em educação, o alto índice de 62% deve ser analisado a partir das áreas com maior número de denúncias. "O governo deve verificar os locais de maior incidência", explica Mozart Neves Ramos, do Todos pela Educação. "A violência do entorno normalmente acaba aparecendo dentro da escola, que acaba refletindo o ambiente em que ela está inserida, especialmente em territórios de maior vulnerabilidade social."
De acordo com ele, as ações para combater esse tipo de situação no ambiente escolar devem fazer parte de um conjunto de políticas de Estado, envolvendo outras áreas, como saúde e segurança pública.
"Com tanta coisa que a Secretaria de Educação já faz, como avaliações, programas de ensino e projetos de transporte e merenda, por exemplo, se ela cuidar de algo assim sozinha certamente vai fracassar", diz Ramos, que já foi secretário de Pernambuco.
O especialista em educação Ernesto Martins Faria concorda. Ele ainda destaca que um bom diretor também pode melhorar o quadro. "Ele vai ter o poder limitado, ainda mais em unidades que ficam em áreas mais críticas", afirma. "Mas com uma postura de líder, boa comunicação com os professores e comprometimento com a escola, pode fazer a diferença." / COLABOROU PAULO SALDAÑA
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