Na rede pública da Região Sudeste, cerca de 54% aprendem leitura e escrita, mas só 35% dominam
matemática
26 de agosto de 2011 | 0h 00
Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo
A Região Sudeste, apesar de ter alguns dos Estados mais ricos do País, não apresenta as maiores médias se observadas as redes públicas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. No caso de leitura, 54,4% dos alunos das escolas estaduais e municipais desses Estados aprenderam os conteúdos estipulados. Em escrita, essa taxa cai para 53,8% e em matemática, piora ainda mais: 35,6%.
Epitacio Pessoa/AE-18/8/2011
Cuidado. No colégio I. L. Peretz, alunos têm acompanhamento
A situação melhora nas redes privadas do Sudeste. No caso de leitura, por exemplo, 85,1% das crianças estão com o aprendizado satisfatório, por exemplo.
Nas escolas particulares paulistanas frequentadas pelas classes sociais mais altas, a realidade segue esses dados. Em grande parte delas, o objetivo é, ao fim do 1.º ano do ensino fundamental - portanto, aos 6 anos - ter a sala toda sabendo ler e escrever com facilidade.
"Começamos efetivamente a ensinar a leitura e a escrita nessa idade", explica Isabel Cossalter, coordenadora do ensino fundamental 1 do Colégio I. L. Peretz. "É nessa faixa que ocorre todo o trabalho de letramento para alfabetização, para a criança decodificar as letras e realmente entender o que está lendo."
O acompanhamento individual do aluno, de acordo com as pedagogas, é essencial nessa etapa. "Dentro da sala, conto com uma professora auxiliar, que ajuda a olhar cada criança individualmente", afirma a professora do 3.º ano da escola, Sandra Biskier. "A classe também é pequena, com cerca de 15 alunos, para facilitar todo esse processo."
As escolas destacam que as principais dificuldades da alfabetização residem nas diferenças de níveis que os alunos apresentam no início do processo, já que há quem chegue sabendo ler e escrever porque aprendeu em casa. "Estamos recebendo crianças cada vez mais novas e, portanto, essas diferenças devem ser observadas", ressalta Isabel.
Na Escola Carlitos, onde a meta de alfabetização também é o final do 1.º ano do fundamental, quando chegam ao 3.º, as crianças passam a aprofundar a relação com a língua. "Eles já estão em outro ciclo e devem começar a produzir textos sabendo encadear as ideias", explica Laura Piteri, diretora pedagógica.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Gladys Rocha, professora da Faculdade de Educação da UFMG
1. Como você vê a grande diferença entre as escolas públicas e privadas?
Essa questão é relacionada ao nível socioeconômico das crianças. A diferença entre os dois sistemas de ensino equivale a dois anos de escolaridade. É quase uma reprodução da desigualdade social do País. Espera-se que, com a obrigatoriedade da matrícula a partir dos 4 anos, a situação melhore.
2. O que pode ser feito em relação às dificuldades que as crianças têm em ler e escrever ao final do ciclo de alfabetização?
Temos dois problemas, a apropriação da alfabetização por si só, o que significa o domínio das habilidades de leitura e escrita; e a consolidação dessa alfabetização, que infere que, após ser alfabetizado, o aluno seja capaz de ampliar essas habilidades aprendidas. Não basta saber ler e escrever.
3.A educação deve ser uma política compensatória de desigualdades socioeconômicas?
Temos um problema estrutural e histórico - isso é fato. Mas não acredito que a escola consiga compensar as mazelas sociais. É claro que ela tem uma função social indiscutível e funciona como um fator de mobilidade social, mas não acredito que ela, sozinha, dê conta de tudo isso. Para solucionar esse quadro, dependemos de um conjunto de fatores que passam, é claro, pela questão do ensino. Mas a responsabilidade também é da família e do poder público. As crianças estão tendo o seu direito de aprender afetado. Estamos produzindo crianças escolarizadas que são analfabetas.
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