5 de agosto de 2011

Bônus de SP não deve morrer com o de NY




TENDÊNCIAS/DEBATES

LESLIE FINGER


Ao contrário do programa de Nova York, em São Paulo o pagamento de bônus aos professores da rede pública é mais consistente e claro

Quando a cidade de Nova York cancelou seu programa de bônus para professores, um projeto-piloto que começou em 2007 em 205 escolas, a mídia brasileira imediatamente questionou o que isso significaria para o Brasil.
Um estudo da Rand Corporation mostrou que o programa, parecido com políticas de bônus para professores em vários lugares do Brasil, inclusive São Paulo, não melhorou o desempenho dos alunos.
Como alguém que ensinou numa escola pública no bairro de Washington Heights durante o programa, sei o que isso significa para o Brasil: absolutamente nada.
Havia problemas no sistema, o que causava dúvidas sobre a validade das generalizações desse estudo. Por exemplo, em 2007-2008, a prova do bônus foi aplicada no meio do ano letivo; portanto, os resultados dos alunos refletiam apenas alguns meses de ensino com os incentivos do bônus.
Outra questão foi uma grande controvérsia em 2009, no meio da implementação. Os resultados da prova nacional Naep comprovaram que os alunos não estavam melhorando em matemática e que os testes nova-iorquinos eram muito fáceis. No ano seguinte, as provas ficaram bem mais difíceis e a porcentagem de alunos aprovados caiu de 82% para 54%.
Para que os incentivos funcionem, é preciso saber esperar.
A bonificação pode melhorar a profissão, posto que os melhores candidatos irão para onde podem ganhar mais. No entanto, essa iniciativa era praticamente um segredo. Só ouvi falar dela após deixar a rede. Contatei muitos professores e ninguém sabia os detalhes dele. Se soubessem, talvez teriam se candidatado para ensinar nas escolas que dele participavam.
Minha ex-colega Margaret Marrer, uma professora excelente, que está prestes a fundar uma escola, mudou de escola em 2009. Quando perguntei se ela sabia do programa, respondeu: "Nunca ouvi falar!".
Educação no Brasil e nos EUA é bastante diferente. Os autores desse estudo estão certos de que a existência de medidas de "accountability" impediram que o programa nova-iorquino continuasse.
Ao contrário do Brasil, nos EUA todos os testes padronizados anuais estão ligados a sérias consequências. Neste ano, Nova York deverá fechar 22 escolas por baixo desempenho. Nesse contexto nova-iorquino, incentivos de bônus não agregaram muito.
Por dois meses tenho falado com pessoas ligadas à educação em São Paulo. Ao contrário do programa de Nova York, aqui o bônus é mais consistente e claro. Apesar de não serem perfeitos, o Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo) e os incentivos têm melhores divulgação e explicação.
Há muitos estudos sobre esse assunto, com resultados bons e ruins, e o estudo da Rand não é de forma alguma a palavra final. Pesquisadores do Banco Mundial estão estudando programas brasileiros de bônus. Isso dirá muito mais sobre o impacto dessa política no Brasil do que os resultados de Nova York.
Assim, o cancelamento não significa que esse tipo de programa não funciona ou que o Brasil deveria parar de experimentar o pagamento por mérito.

LESLIE FINGER é doutoranda em ciências políticas da Universidade Harvard (EUA) pesquisando políticas educacionais de mérito no Brasil.

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