21 de agosto de 2011

Ecos de 1968



Protestos simultâneos pelo mundo lembram os de 43 anos atrás, mas especialistas veem agora manifestação mais clara contra a desigualdade
CAROLINA MONTENEGRO
DE SÃO PAULO

Jovens tomam as ruas em protestos. Multidões fazem barulho em cidades do mundo todo. A repressão é dura. O ano é 1968.
Muitas dessas cenas, porém, poderiam se passar em 2011. Desde o começo do ano, uma impressionante onda de manifestações se espalha pelo globo, algumas inspiradas nas outras.
Primeiro, veio a Primavera Árabe, em busca de democracia. Depois, os "indignados" da Europa, querendo empregos. Seguiram-se estudantes chilenos e uma onda de protestos na Inglaterra que muitos consideram mero vandalismo. Enfim, o movimento anticorrupção indiano.
"É impressionante a quantidade de manifestações de rua hoje. O sistema político roubou a voz dos jovens e a capacidade deles serem ouvidos. A rua se tornou o palco para a política, como em 68", diz Saskia Sassen, socióloga da Universidade Columbia (Nova York) e autora de "Sociologia da Globalização" (Editora Artmed).
"Podemos comparar os dois momentos, mas o que acontece agora é o desejo de uma sociedade razoável, decente, com educação, emprego.
Uma busca por justiça social ainda mais ampla do que em 68. As pessoas veem seus governos enriquecidos e se revoltam", acrescenta.
Em comum entre os protestos, Sassen vê como pano de fundo a desigualdade. Eugenio Tironi, sociólogo chileno e colunista do jornal "El Mercurio", diz que o motivo por trás do mal-estar não é a desigualdade em si, mas a menor tolerância dos jovens.
"A geração de hoje é quatro vezes mais escolarizada do que há 20 anos. Haviam dito a eles que o caminho para o fim da desigualdade era a educação", afirmou.
Tironi vê hoje uma revolução da classe média e diz que os jovens chilenos lutam por novas instituições, em atitude utópica, paralela à da geração de 60.
"Temos instituições que foram criadas para colocar o país em ordem, depois da ditadura de Pinochet (1973-90), e agora precisamos de instituições que respondam à complexidade e diversidade. Acredito que elas surgirão a partir desses protestos."
Tironi e Sassen concordam que o mundo atravessa um momento de mudanças. E a tendência é que os protestos continuem, por todo canto. "Acho que estamos vendo apenas o começo. Há uma busca por mais democracia e mais igualdade", diz a especialista.

Colaborou JOÃO BATISTA NATALI, de São Paulo 


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