15 de agosto de 2011

O que falta ao trabalhador?


15 de agosto de 2011
Educação no Brasil | Correio Braziliense | Opinião | BR




» EDUARDO EUGENIO GOUVÊA VIEIRA
Presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan)

Se a sua resposta à pergunta do título deste artigo foi emprego, você se precipitou. Com o crescimento da economia brasileira, a demanda por bons profissionais está em alta, há empregos disponíveis, mas o que as empresas buscam são trabalhadores mais bem qualificados, e esse é um grande desafio para o país.
Sim, faltam trabalhadores qualificados, realidade constatada por diretores e gerentes da área de fabricação de 607 indústrias de médio e grande porte de todo o Brasil que responderam à nossa mais recente pesquisa. Em 90% dos casos, as empresas encontraram dificuldades na contratação de profissionais com raciocínio lógico mais desenvolvido, capacidade para observar e interpretar dados, resolver problemas, reagir diante de imprevistos.
Outro aspecto que chamou a atenção na pesquisa foi a lacuna apontada em termos de habilidades que transcendem a qualificação profissional e técnica, como liderança e atitude empreendedora. Algumas das questões evidenciadas pelo empresariado devem ser interpretadas como inerentes ao próprio processo de crescimento e consequente entrada de novos profissionais no mercado de trabalho, que, necessariamente, não possuem experiência.
Profissionais de nível sênior não estão disponíveis para ser contratados, e profissionais recém-formados ainda levarão algum tempo para se desenvolverem plenamente em suas funções e adquirirem maior capacidade de liderança, sobretudo considerando a complexa realidade da indústria hoje e o contexto de permanentes e renovados desafios no trabalho.
Mas esses aspectos apontados revelam, também, problemas de fundo, como os relacionados ao raciocínio lógico e à capacidade de solução de problemas, que sinalizam deficiências na formação básica dos jovens que chegam para a capacitação profissional sem competências lógico-matemáticas ou mesmo analíticas.
A educação básica pública de qualidade é um pré-requisito para o desenvolvimento de competências profissionais específicas, e essas deficiências prévias obviamente têm impacto sobre o mercado de trabalho. A indústria, por meio do Sesi e do Senai, tem caminhado decididamente na linha de uma metodologia baseada em desafios e projetos, que favorecem o desenvolvimento dessas competências.
Ao longo dos seus 68 anos, o Senai - que, só no Rio de Janeiro, registrou, nos últimos cinco anos, cerca de 600 mil matrículas e formou 120 mil jovens e adultos para o trabalho em cursos de aprendizagem e qualificação profissional - se tornou uma referência pelas parcerias com instituições educacionais e o setor industrial.
Nosso esforço é significativo para complementar as habilidades que deveriam ter sido previamente desenvolvidas na área de leitura e interpretação e de raciocínio lógico. Isso, por meio do Reforço Escolar do Sesi e da inclusão desses conteúdos nos currículos de educação profissional do Senai - em módulos iniciais ou de forma contextualizada ao longo do curso.
Também nos dedicamos a oferecer educação básica articulada com educação profissional, com visível melhoria do desempenho do aluno em sua qualificação. São, portanto, várias as estratégias por nós utilizadas para enfrentar os desafios da indústria e compensar, na educação profissional, deficits de formação anteriores.
Na verdade, a revelação de que 61% das empresas por nós pesquisadas "pretendem aumentar seu quadro de funcionários nos próximos 12 meses" responde, muito bem, à pergunta que não quer calar no país: o que falta ao trabalhador brasileiro? Nós da indústria, que já sabemos que não é emprego, mas sim qualificação, continuamos a fazer, com louvor, o dever de casa da formação de profissionais.
Mas, se o trabalhador ainda carece de conhecimentos básicos de matemática, raciocínio lógico, iniciativa e empreendedorismo, isso se deve à precária educação pública brasileira, que, se por um lado avançou quantitativamente nos últimos 16 anos, por outro ainda precisa de uma revolução no aspecto da qualidade do ensino. Revolução que os empresários e o Brasil aguardam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário