25 de agosto de 2011

Relação entre o mundo do trabalho e o da escola é essencial e começa no ensino médio


25 de agosto de 2011

Educação e Ciências | Brasil Econômico | Especial -  BR



A escola é a mesma para médico ou poeta, critica Claudio de Moura Castro




MODELO
O economista e educador Claudio de Moura Castro critica modelo de formação profissional brasileiro por ser generalista e não oferecer opções ao estudante.Europa e Estados Unidos dão exemplo

TEXTO LÉLIA CHACON
Para um Brasil em crescimento, a educação profissional é rota estratégica e o alvo principal, os jovens. Os mais de 50 milhões de brasileiros na faixa dos 15 aos 29 anos que estão construindo suas trajetórias em direção ao mundo adulto demandam mais do que nunca oportunidades de formação. "O momento é de grande animação para a educação profissional. Mas há grande perplexidade em relação ao que fazer", avalia o economista Claudio de Moura Castro, pesquisador e especialista em educação, autor do livro Educação Brasileira - Consertos e Remendos (Editora Rocco).
A perplexidade diz respeito ao modelo pa ra aproximar o mundo do trabalho da escola, já no ensino médio. "É crucial acertar esse modelo", diz Moura Castro. "Não é possível pensar a educação profissional do jovem juntando 15 disciplinas, mais o inevitável inglês, a mais 1.000 horas de ensino técnico.
Quem consegue aprender assim?" O Brasil, segundo o educador, não oferece escolha ao estudante, como na Europa e Estados Unidos, por exemplo. "Aqui é escola única com currículo único para quem quer ser médico ou poeta. O modelo europeu tem escolas e programas diferentes, de acordo com os interesses e competências do aluno, como cursos profissionalizantes com e sem acesso ao ensino superior, opções fortes nas matemáticas ou nas ciências humanas. No sistema americano, uma mesma escola oferece uma variedade gigantesca de alternativas, no conteúdo e nível de dificuldade, desde se preparar para ser babá até fazer cálculo matemático avançado ou teatro grego." "O Brasil precisa resolver rápido isso", enfatiza Moura Castro, lembrando que, de cada três estudantes americanos, dois se formam em cursos de dois anos de duração, enquanto no Brasil nove em cada 10 alunos se formam em cursos de quatro anos. Para ele, a melhor proposta governamental para integrar ensino médio e técnico, porque é mais enxuta, está na Educação de Jovens e Adultos.
"É o Proeja, mas não atende a todos, só a partir de certa idade. É um problema porque, no ciclo médio, apenas 10% dos alunos, entre os que estão na idade certa para a série (50% ou 60%), fazem ensino técnico.
Na Europa, são de 30% a 70%. O sistema dual alemão (na fábrica e na escola) cobre dois terços dos estudantes." Impactos da qualificação Ainda que o modelo esteja capenga, o que existe em educação profissional já revela impactos no mercado de trabalho, como os medidos pela pesquisa "Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho", do Centro de Estudos de Políticas Sociais da FGV em parceria com Instituto Votorantim, que analisou alunos de curso profissionalizante, ensino médio técnico e graduação tecnológica.
Uma das constatações é que a chance de uma pessoa com curso profissionalizante concluído estar ocupada é 48,2% maior daquela saída diretamente do ensino médio. A possibilidade de ela estar empregada com carteira assinada chega a 38% e o salário pode ser até 13% maior.
Indo além da empregabilidade, a pesquisa "Juventude e Mercado de Trabalho", recém divulgada pelo Centro Ruth Cardoso, com apoio dos braços sociais do Unibanco e Itaú, avaliou as relações entre as ações de educação profissional, as expectativas dos jovens e as demandas do mercado, ouvindo 880 jovens de 16 a 24 anos, além de educadores, empregadores e gestores de programas na região metropolitana de São Paulo. Segundo a supervisora do estudo, a socióloga Edneia Gonçalves, as conclusões confirmaram muitas hipóteses levantadas. A principal é que a oferta de educação profissional não é suficiente nem eficiente, por uma série de razões. "Os dados mostram grande número de jovens desempregados ou em trabalhos informais e precários, indicando que a educação profissional está distante da demanda real ou potencial da estrutura produtiva", diz Edneia.
As razões apontam para métodos de ensino desinteressantes e avaliações que não exploram dados para o aprimoramento dos cursos.
"Não se faz um diagnóstico do aluno na entrada, o que impede definir a educação almejada a partir do seu perfil, isto é, das experiências que ele tem para enriquecer o ensino e motivá-lo a aprender", resume Edneia.
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"Não se faz um diagnóstico do aluno na entrada, o que impede definir a educação almejada a partir do seu perfil, isto é, das experiências que ele tem para enriquecer o ensino e motivá-lo a aprender"
Edneia Gonçalves, Socióloga e pesquisadora

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