26 de novembro de 2011

JOSÉ GOLDEMBERG :O Brasil está pronto para lidar com a exploração do pré-sal? NÃO; Longo caminho a percorrer


Ainda é cedo para uma completa avaliação da gravidade do acidente que ocorreu num poço perfurado pela Chevron na bacia de Campos, que lançou no mar cerca de 3.000 barris de petróleo, afetando 160 km² do oceano.
O problema desses acidentes não é apenas a proteção do ambiente, mas a segurança física das plataformas e a proteção dos trabalhadores: segurança e proteção do ambiente andam juntos.
O acidente da Chevron não tem a gravidade do acidente no golfo do México, em 2010, que lançou 5 milhões de barris de petróleo no mar e destruiu a plataforma de perfuração (a um custo de US$ 1 bilhão), causando 11 mortes e 17 feridos.
O custo da recuperação das áreas litorâneas degradadas, a compensação pelos prejuízos causados à indústria da pesca e os dispêndios no fechamento do poço são estimados em cerca de US$ 20 bilhões.
Há, porém, várias similaridades entre os dois acidentes: a Chevron, como a British Petroleum (BP) no caso do golfo do México, demorou a dar explicações claras e transparentes e aparentemente ocultou informações, como fizera a BP.
A Agência Nacional de Petróleo (ANP), contudo, deu sinais de vitalidade -o que não é usual- e multou a empresa em R$ 50 milhões, com insinuações de suspender
suas atividades no Brasil, esquecendo talvez que a Petrobras é associada à Chevron nessa área.
Por sua vez, o Ibama -só após o acidente- deu-se conta de que deixou de fazer importantes exigências por ocasião do licenciamento.
O problema, na realidade, é mais profundo: as empresas que operam no setor petrolífero no Brasil, incluindo a Petrobras, não têm uma cultura empresarial que priorize a proteção ambiental, vista, em geral, como um estorvo às atividades de perfuração e produção.
Essa conduta é um aspecto do problema geral de escolher entre desenvolvimento e preservação ambiental, um fantasma que persegue o atual governo, que não consegue perceber que é possível conciliar as duas opções.
Exemplo desses problemas é a euforia com a exploração do pré-sal, que inclusive já levou à aprovação de leis para dividir os royalties de petróleo que eventualmente só será produzido daqui a cinco ou dez anos. Até chegarmos lá, porém, há um longo caminho a percorrer.
O que aconteceu com o poço da Chevron é apenas um aviso, que talvez seja bem-vindo, porque acordará as autoridades para a necessidade de mais transparência na exploração do pré-sal.
Não é preciso entrar em depressão, mas reduzir a euforia em relação ao pré-sal, que lembra os tempos do "Brasil Grande".
Tem sido argumentado, por exemplo, que os poços de pré-sal estão a cerca de 300 quilômetros da costa e que, se houver derramamento de petróleo, ele se dispersará antes de atingir a costa -o que não significa que a vida marinha deverá deixar de ser seriamente afetada.
Outro argumento usado por técnicos da Petrobras é o de que a "melhor tecnologia disponível" está sendo usada na exploração, o que pode até ser verdade.
Contudo não existe experiência para retirar petróleo de reservatório situado abaixo da camada de sal de mais de três quilômetros, o que não foi feito ainda em outros países.
Estamos realmente entrando numa área nova, em que problemas inesperados podem ocorrer. Podemos liderar essa área ou comprometer seriamente seu futuro.
JOSÉ GOLDEMBERG, 83, doutor em ciências físicas pela USP, é professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da mesma universidade. Foi reitor da USP (1986-89), secretário da Ciência e Tecnologia da Presidência da República e ministro da Educação (governo Collor) e secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2002-2006).

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