25 de novembro de 2011
Último Segundo - IG | Educação | BR
Técnicos de diferentes países discutem como - e por que - uma avaliação específica ajudaria a melhorar qualidade de ensino
O Ministério da Educação pode ajudar a criar uma nova avaliação educacional dedicada exclusivamente aos estudantes da América Latina. A proposta está em discussão entre integrantes dos ministérios responsáveis pelos sistemas educacionais de outros países como Argentina, Colômbia, Costa Rica, Peru, Equador e Chile, entre outros.
Para os defensores da ideia, a avaliação internacional mais popular na aferição da qualidade de ensino oferecida nos países - o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa) - não é capaz de medir as especificidades da região. Por conta disso, não contribui de forma efetiva para melhorar o aprendizado das crianças e dos adolescentes desses países.
"O Pisa foi criado para avaliar o que o mercado demanda das crianças. Na América Latina, as escolas têm outras prioridades, não consideradas por eles. A questão não é ser contra o Pisa, mas, para ser uma boa avaliação, ela precisa mobilizar as escolas, as famílias e contribuir para mudanças. O que não acontece", opina Gustavo Iaies, diretor da Fundação Centro de Estudos de Políticas Públicas (BSAS), da Argentina.
Gustavo defende que o Brasil, o México, a Colômbia e o Chile assumam a elaboração e a aplicação do teste, caso os governos latinos aprovem o projeto. Segundo o pesquisador, esses países possuem institutos com capacidade técnica para isso. Ele ressalta que, para outros como El Salvador e Bolívia, uma avaliação regional seria fundamental para mudar o ensino.
Liliana Pascual, diretora nacional de Informação e Avaliação da Qualidade Educativa do Ministério da Educação da Argentina, concorda que uma proposta como essa fortaleceria a integração dos países latinos, inclusive nos currículos escolares. No entanto, ela acredita que essa é uma discussão mais política do que técnica e teme uma sobreposição de atividades.
"Uma avaliação como essa deveria ser aplicada a um público diferente - o ensino médio e a partir de disciplinas diferentes das já avaliadas em outras provas. Seria muito interesse se ela pudesse fortalecer o conhecimento dos estudantes a partir de educação para valores, cidadania, por exemplo", pondera Liliana.
Só mais uma
Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do MEC, que participa das discussões, concorda que a ideia é boa, mas acredita que a decisão de criá-la ou não deve ser tomada sem pressa. Antes, ela defende que é preciso definir como o teste não se tornaria só mais uma avaliação - e mais trabalho - para professores, estudantes e gestores.
"Não pode ser simplesmente uma prova a mais. Precisamos saber em que medida uma nova avaliação poderia ajudar a educação dos países latino-americanos", ressalta. Pilar lembra que a diversidade e o trabalho de inclusão feito pelas escolas da América Latina são maiores do que nas européias e não aparecem no Pisa. "Aí seria interessante", emenda.
Para Clayton Gontijo, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), nos moldes atuais, as avaliações educacionais não mostram o quanto as escolas contribuem para a formação dos alunos. "As condições iniciais dos estudantes e o avanço que eles tiveram não são medidos. Quem recebe alunos nota 2 e faz com que eles saiam com nota 6 foi mais eficaz do que quem recebe alunos nota 6, que saem com 7. Mas isso não aparece", diz.
Segundo o educador, provas aplicadas em diferentes momentos, no início da vida escolar e na saída, como ocorre hoje com a avaliação da educação superior brasileira, seriam boas estratégias.
Além de definir se uma nova avaliação implicaria em deixar de participar do Pisa ou não, técnicos de alguns países consideram fundamental a inclusão dos professores da educação básica nos debates sobre o tema. "Os professores são sempre pouco ouvidos e depois culpados pelo fracasso dos estudantes", critica Pilar.
Pesquisas em andamento
O Brasil está participando de outras iniciativas para analisar os sistemas educacionais da América Latina. Desenvolvidos pelo Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação da Oficina Regional daUnesco para a América Latina e o Caribe (Orealc), dois estudos já foram concluídos e outro será realizado em 2013.
O Primeiro Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Perce) foi feito em 1997 com alunos da 3ª e da 4ª séries do ensino fundamental nas áreas de Linguagem, Matemática e Fatores Associados. O Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Serce), realizado em 2006, avaliou alunos da 3ª e da 6ª séries do ensino fundamental em Matemática, Linguagem (leitura e escrita) e Ciências na América Latina e no Caribe. Em 2013, se pretende fazer outro.
Para os defensores da ideia, a avaliação internacional mais popular na aferição da qualidade de ensino oferecida nos países - o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa) - não é capaz de medir as especificidades da região. Por conta disso, não contribui de forma efetiva para melhorar o aprendizado das crianças e dos adolescentes desses países.
"O Pisa foi criado para avaliar o que o mercado demanda das crianças. Na América Latina, as escolas têm outras prioridades, não consideradas por eles. A questão não é ser contra o Pisa, mas, para ser uma boa avaliação, ela precisa mobilizar as escolas, as famílias e contribuir para mudanças. O que não acontece", opina Gustavo Iaies, diretor da Fundação Centro de Estudos de Políticas Públicas (BSAS), da Argentina.
Gustavo defende que o Brasil, o México, a Colômbia e o Chile assumam a elaboração e a aplicação do teste, caso os governos latinos aprovem o projeto. Segundo o pesquisador, esses países possuem institutos com capacidade técnica para isso. Ele ressalta que, para outros como El Salvador e Bolívia, uma avaliação regional seria fundamental para mudar o ensino.
Liliana Pascual, diretora nacional de Informação e Avaliação da Qualidade Educativa do Ministério da Educação da Argentina, concorda que uma proposta como essa fortaleceria a integração dos países latinos, inclusive nos currículos escolares. No entanto, ela acredita que essa é uma discussão mais política do que técnica e teme uma sobreposição de atividades.
"Uma avaliação como essa deveria ser aplicada a um público diferente - o ensino médio e a partir de disciplinas diferentes das já avaliadas em outras provas. Seria muito interesse se ela pudesse fortalecer o conhecimento dos estudantes a partir de educação para valores, cidadania, por exemplo", pondera Liliana.
Só mais uma
Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do MEC, que participa das discussões, concorda que a ideia é boa, mas acredita que a decisão de criá-la ou não deve ser tomada sem pressa. Antes, ela defende que é preciso definir como o teste não se tornaria só mais uma avaliação - e mais trabalho - para professores, estudantes e gestores.
"Não pode ser simplesmente uma prova a mais. Precisamos saber em que medida uma nova avaliação poderia ajudar a educação dos países latino-americanos", ressalta. Pilar lembra que a diversidade e o trabalho de inclusão feito pelas escolas da América Latina são maiores do que nas européias e não aparecem no Pisa. "Aí seria interessante", emenda.
Para Clayton Gontijo, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), nos moldes atuais, as avaliações educacionais não mostram o quanto as escolas contribuem para a formação dos alunos. "As condições iniciais dos estudantes e o avanço que eles tiveram não são medidos. Quem recebe alunos nota 2 e faz com que eles saiam com nota 6 foi mais eficaz do que quem recebe alunos nota 6, que saem com 7. Mas isso não aparece", diz.
Segundo o educador, provas aplicadas em diferentes momentos, no início da vida escolar e na saída, como ocorre hoje com a avaliação da educação superior brasileira, seriam boas estratégias.
Além de definir se uma nova avaliação implicaria em deixar de participar do Pisa ou não, técnicos de alguns países consideram fundamental a inclusão dos professores da educação básica nos debates sobre o tema. "Os professores são sempre pouco ouvidos e depois culpados pelo fracasso dos estudantes", critica Pilar.
Pesquisas em andamento
O Brasil está participando de outras iniciativas para analisar os sistemas educacionais da América Latina. Desenvolvidos pelo Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação da Oficina Regional daUnesco para a América Latina e o Caribe (Orealc), dois estudos já foram concluídos e outro será realizado em 2013.
O Primeiro Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Perce) foi feito em 1997 com alunos da 3ª e da 4ª séries do ensino fundamental nas áreas de Linguagem, Matemática e Fatores Associados. O Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Serce), realizado em 2006, avaliou alunos da 3ª e da 6ª séries do ensino fundamental em Matemática, Linguagem (leitura e escrita) e Ciências na América Latina e no Caribe. Em 2013, se pretende fazer outro.
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