11 de novembro de 2011

A Polícia Militar na USP PAULO ARANTES, MARCUS ORIONE E JORGE LUIZ SOUTO MAIOR



Com a PM no campus, há a presença física que sempre se coloca à disposição para eventual repressão de atos ligados à expressão de ideias
Todos concordam que, no Estado de Direito, ninguém está acima da lei. Com base nessa premissa, não é possível conceber-se espaços isentos do controle de legalidade estatal. Por que, então, se essa é uma premissa razoável, defender que a Polícia Militar não possa fincar raízes na USP para o controle da legalidade? Por que ela pode estar em outros espaços públicos e não se pode conceber sua presença ali?
Primeiro, para que a legalidade seja observada, não basta a presença da PM, sendo que há outros meios mais eficazes para a sua preservação -seja na USP, seja em qualquer lugar. Aliás, poderíamos dizer que o ideal é que a legalidade, cujos instrumentos decorram de processos efetivamente democráticos, não dependa de qualquer tipo de fiscalização para ser respeitada.
Segundo, e mais relevante, para que uma universidade pública tenha importância para um país, faz-se indispensável que seja um centro de excelência em geração de ideias. Para que elas possam ser geradas, a liberdade é fundamental.
A partir daí, os pensamentos gestados se transformam em atos, que podem ser elaborados também no plano político.
A presença constante de qualquer agente com potencialidade repressiva, e que possa ser acionado por um poder central, certamente é elemento inibidor da gestação de ideias e, por consequência, da força motriz da universidade e de sua relevância para a sociedade.
O limite é tênue entre o crime comum e o político; entre a criminalização de condutas e a de ideias.
Um agente como a Polícia Militar certamente não está, mesmo por não ser essa a sua função no Estado de Direito, habilitado a fazer essa distinção. Somente se põe a executar a ordem superior. A reitoria pode, sob a alegação de suposto interesse público, de ofício, acionar tais meios repressivos.
Pode fazê-lo também se a PM estiver fora do campus universitário? Óbvio que sim. Mas, com certeza, mantendo-se no local um corpo militar, há a presença física que sempre se coloca, não somente de forma simbólica, à disposição para eventual repressão de atos ligados à livre expressão de ideias.
Nem se diga que a criminalização das ideias e das movimentações sociais geradas têm sido, por exemplo, uma exceção na atual gestão.
Atualmente, cinco dirigentes sindicais encontram-se em vias de demissão, e 25 alunos estão às portas da expulsão. Por "coincidência", todos se envolveram em atos políticos de reivindicação.
Ora, um campus militarizado, certamente, é extremamente daninho ao cumprimento das finalidades que são necessárias à construção de uma sociedade em que imperem a igualdade e a justiça.
Afinal, ensina a história, coturno e liberdade de expressão nunca caminharam juntos.
No entanto, resta a pergunta: como fazer para que aquele espaço não fique imune à responsabilização dos crimes comuns? Certamente, a ausência da PM não implica impunidade naquele espaço.
Inicialmente, porque ela sempre pode ser acionada, como se dá com qualquer cidadão que, na cidade de São Paulo, não tem uma viatura no seu bairro.
Por outro lado, não é crível que aquela que chamam de maior universidade da América Latina não possa, a partir de estudos dos maiores especialistas nas diversas áreas do conhecimento, várias ligadas à segurança pública, resolver o seu próprio problema de segurança.
Aliás, seria interessante que o fizessem. Assim, talvez não apenas o problema da militarização no espaço destinado à produção de ideias estaria resolvido. Quem sabe algumas das soluções pudessem ser revertidas para a sociedade que, como um todo, vive também assolada pela crescente militarização, sem que isso represente um efetivo aumento da sensação de segurança.
PAULO ARANTES é professor da FFLCH-USP.
MARCUS ORIONE GONÇALVES CORREIA é livre-docente e professor de direito previdenciário da Faculdade de Direito da USP.
JORGE LUIZ SOUTO MAIOR é professor associado da Faculdade de Direito da USP.

3 comentários:

  1. Então na USP a galera pode fumar maconha que não tem problema!
    Culpa de quem usa e não é universitário!
    Se a PM é repressiva, é repressiva em qualquer lugar!
    Ao invés de criticarem a abordagem da PM, a forma, querem descartar a presença da entidade, como se ela não fosse parte importante da segurança pública!
    Estudar que é bom, mem todos querem! USP não é lugar de usar drogras!!!!

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  2. A Cidade Universitária é um dos únicos locais de são paulo fora do controle direto da PM. Podemos verificar como no link a seguir, http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/subprefeitos/index.php?p=21778 , que de 31 subprefeitos, 28 são coronéis ou tenente-coronéis reformados da Polícia Militar. Se pesquisarmos melhor nas outras agencias do governo municipal, grande parte deles são encabeçados por oficiais da policia militar.

    Se a universidade tem que ter uma maior relação com a sociedade é na denúncia e desmantelamento desse estado policial que vem sendo montado na surdina pelos atuais governantes do município e estado.

    Aqui é um estado civil ainda, ou deram um golpe militar e não estamos sabendo?

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  3. Texto falacioso. Certamente a PM não é o único meio de manutenção da legalidade, mas evidentemente é UM destes meios e é enquanto tal que se faz presente na USP. Quem tenta colocar a PM como panaceia para toda e qualquer ilegalidade são justamente os que pretendem descaracterizá-la enquanto tal para em seguida concluir pela necessidade de removê-la do campus, engodo puro: atacam uma premissa inexistente e plantada pelos seus próprios "contestadores".
    Segundo, essa suposta necessidade de banir a PM para "proteção das ideias" não subsiste, até pelo significado e etimologia platônica da palavra: uma manifestação, seja política ou artística, é a expressão ("manifestação") da ideia já concebida, de modo que AINDA QUE POR HIPÓTESE houvesse a alegada repressão esta incidiria sobre a manifestação da ideia e não sobre a ideia, que se não é manifesta não pode ser reprimida, eis que ignorada! Agora, concretamente, essa concepção de que há repressão às ideias não encontra nenhuma justificativa concreta ou legitimação material, simplesmente porque não existe nenhum caso em que a manifestação legítima de ideias foi reprimida pela PM dentro do campus (lembre-se, por exemplo, que a desocupação da reitoria foi ação determinada pela Justiça e que era conhecida pelos invasores, trata-se, portanto, de ação legítima da PM). Enfim enfim...

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