17 de setembro de 2014

Taxas de homicídio podem cair à metade em 30 anos




RIO - A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Universidade de Cambridge deram início ontem à Conferência Mundial de Redução da Violência com perspectivas positivas: taxas de homicídio vêm diminuindo em vários países do mundo desde meados da década de 1990 e índices de violência podem ser reduzidos à metade em apenas 30 anos. Análise de dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime sobre 88 países mostra que 68 deles apresentaram queda nos números de assassinatos, entre 1995 e 2010, contra apenas 20 nações em que houve alta. Os locais com maior queda se concentram na Europa e na Ásia. Por outro lado, nas Américas Central e do Sul estão os países com as maiores altas. O Brasil aparece no levantamento como um dos que tiveram queda das taxas de homicídio, de 9,8%. Em grande parte da África, não foi possível coletar os dados.

Tajiquistão (-90%), Albânia (-80,3%) e Turquia (-74,4%) estão no topo dos países em que os índices estão em queda. Trinidad e Tobago (242,9%), Venezuela (143,7%) e Belize (124%) aparecem na outra ponta do ranking. Estratégias de policiamento mais eficazes, melhores serviços de proteção à criança e mudanças de atitudes das sociedades estão entre as causas apontadas para redução da violência onde houve queda. Já as nações com alta têm problemas institucionais, como corrupção, baixo investimento em saúde e educação e polícia ineficaz.
- Exemplos de redução de homicídios bem sucedida, ao longo dos últimos 15 anos, podem ser encontrados em todo o mundo: do Canadá e Itália para a Nova Zelândia e China. Mas, se quisermos alcançar um declínio mundial em homicídio, precisamos aprender com essas histórias de sucesso e entender o que eles fizeram certo - disse o diretor do Centro para a Redução da Violência de Cambridge, Manuel Eisner, co-organizador do evento.
O encontro, que vai até sexta-feira, reúne 150 cientistas e criminologistas para estabelecer um roteiro para reduzir as taxas globais de violência. Os especialistas pretendem chamar atenção para a necessidade de focar pesquisas sobre a redução da violência nos países em desenvolvimento. Segundo dados divulgados pela organização da conferência, quase metade (45%) dos homicídios em todo o mundo são cometidos em 23 países, onde apenas 10% da população mundial vive. Contudo, só 5% de todas as avaliações de prevenção da violência eficaz têm sido realizados fora sociedades ocidentais ricas.
O professor Robson Sávio Souza, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC-Minas relaciona a melhoria mundial a mudanças na relação entre Estado e sociedade. E vê possibilidades de mudança positiva também para o Brasil.
- Acho que fatores como melhoria do sistema de Justiça criminal e a democratização da sociedade estão relacionados a esses números. Acredito que, do ponto de vista global, outro fator importante é a mudança de estratégia de guerra contra as drogas que sempre gerou letalidade - argumenta. - Apesar de no Brasil ainda haver um problema seríssimo de homicídios, também vejo perspectivas promissoras. Há um maior inconformismo da sociedade em relação ao problema da segurança, o que acho que redundará em uma reforma a médio prazo.
André Zanetic, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), lembra que a perspectiva de queda das taxas de violência até 2040 se baseia na tendência de 15 anos, sem levar em conta mudanças futuras.
- Não há nada que garanta que o ambiente social e político vá continuar o mesmo. É um retrato realista, mas otimista ao considerar que essas condições não vão mudar. É importante destacar ainda que há uma desigualdade importante. A melhora é basicamente em países desenvolvidos - analisa, acrescentando que, no caso do Brasil, o Mapa da Violência, baseado em números do Ministério da Saúde, indicam uma alta sútil nas taxas de homicídio no mesmo período.

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