29 de setembro de 2014

Computadores, tablets e telefones em sala de aula: banir ou não banir?


NEWTON CAMPOS
27 Setembro 2014 | 23:56, O Estado de S.Paulo
Lá atrás, nos idos de 1980 e 1990, tanto no colégio como na faculdade, lembro-me dos professores que aceitavam (ou não) leituras paralelas ou walkmans em sala de aula. Para quem não sabe, os walkmans eram toca-fitas (de música) portáteis. Alguns professores viam isso como um problema, outros não. Para alguns dos professores que aceitavam essa prática, o conteúdo acessado geralmente tinha alguma importância: uma coisa era ter um aluno lendo a revista Super Interessante numa aula de ciências ou o jornal O Estado de S. Paulo numa aula de economia, outra coisa era ter um aluno lendo Playboy ou escutando música. Em geral, fiquei com a lembrança de que a grande maioria dos professores considerava atividades paralelas como um desrespeito à sua figura ou à do conteúdo proferido.
Atualmente, se pararmos para pensar, o problema continua relativamente parecido. Entretanto, hoje não são apenas as triviais revistas em quadrinhos, fitas-cassete ou jornais que os alunos podem levar para sala de aula. Eles podem levar praticamente toda sua vida e as vidas dos outros com eles: calendários, correios eletrônicos, enciclopédias (Wikipedia), serviços de voz (Skype), tratamento de dúvidas (Google) e mensageria instantânea (WhatsApp), relacionamentos sociais (Facebook), canais de televisão (Netflix) e música (Spotify), além obviamente de todo tipo de documentos e jogos.
Por incrível que pareça, a proposta de banimento destes aparelhos em sala de aula virou um tema de grande discussão nas últimas semanas em vários fóruns de qualidade: The New YorkerMedium e The Chronical of Higher Education, por exemplo, publicaram opiniões a favor e em contra o banimento de computadores, tablets e telefones em sala de aula.
Como professor, acho esta discussão muito pertinente, dado que também tenho sido bastante afetado pelo fenômeno. Dependendo do dia, posso chegar a ter 50% da sala de aula consultando estes aparelhos. O que faço? Devo proibi-los? Compartilho argumentos a favor e em contra da proibição:
A favor do banimento:
- Muitos alunos não possuem discernimento para entender qual interação será mais importante para seu futuro: a discutida em sala de aula ou a de um debate com amigos no Facebook;
- Os alunos são “seduzidos” e até mesmo “atacados” por tantas distrações que mal conseguem se proteger. O banimento lhes protege;
- Como fumantes passivos, alunos que não estão consultando seus aparelhos acabam se distraindo com os que sim o fazem.
Em contra do banimento:
- Estas tecnologias vieram para ficar, devemos conviver com elas e tanto alunos como professores devem aprender a lidar com elas se quiserem ser cidadãos mais conscientes;
- Distrações como estas sempre estiveram presentes, e sempre tivemos que aprender a conviver com elas;
- Professores que proíbem estes aparelhos em sala de aula estão apenas protegendo sua forma antiga de ensinar ao invés de adaptarem sua pedagogia aos novos tempos.
Está difícil decidir como agir. Dependendo da faixa etária dos alunos e da matéria sendo lecionada o problema ganha dimensões desastrosas. Noto que os alunos mais jovens são mais afetados pela sobrecarga de informação. Por outro lado, matérias obrigatórias (que em colégios, são a maioria), tendem a não despertar o interesse de uma parte do alunado, que migram sua atenção rapidamente para seus aparelhos. Mas acho que banir será sempre a decisão mais fácil. Optei por ensinar e aprender a conviver com esta realidade.
Mas e você? Está a favor ou em contra do banimento destes aparelhos da sala de aula? Por quê? Compartilhe sua opinião.

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