9 de setembro de 2014

Ensino superior: Número de formandos no ensino superior cai pela primeira vez desde 2003

Instituições privadas ganham terreno nos governos Lula e Dilma e já recebem três de cada quatro alunos, segundo Censo da Educação Superior

Gabriel Castro, Veja, 9/9/2014
Ensino superior
(Thinkstock/VEJA)
O número de novos alunos e o de formandos no ensino superior caiu em 2013, de acordo com dados do Censo da Educação Superior divulgados nesta terça-feira pelo Ministério da Educação. O total e ingressantes (novas matrículas) recuou 0,2%, motivado pela redução da oferta de vagas A distância, que foi de 5%. As vagas presenciais cresceram 1% no período. O ministério alega que o controle de qualidade sobre os cursos causou o fechamento de vagas.
O total de concluintes (alunos formados no ano) também caiu entre 2012 e 2013. A queda foi de 5,7%.  Mais uma vez, os cursos A distância foram responsáveis pelo resultado ruim; nessa categoria, a redução foi de quase 50%. "Havia cursos com finalidade bem específica; eles cumpriram o ciclo e não foram renovados", diz Francisco Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Em 2013,15,8% das vagas do ensino superior eram de ensino a distância.
De acordo com o censo, o Brasil tinha 2.391 instituições de ensino superior no ano passado. Dessas, 195 eram universidades, 140 centros universitários, 2.016 faculdades e 40 Institutos Federais técnicos ou similares. O número total de alunos era de 7.305.977 — ou 7.526.681, quando incluídos os estudantes de pós-graduação.
A participação do setor privado no total geral de matrículas passou de 70% para 74% das vagas entre 2012 e 2013. "É natural que esse ritmo de crescimento não ocorra no mesmo nível que ocorreu a partir da primeira década de 2000. Nós estamos fazendo um esforço significativo e achamos que todas as politicas que nós temos adotado vão ter um efeito importante", diz o ministro da Educação, Henrique Paim.
Quase dois terços dos alunos presenciais frequentam cursos noturnos. Os cursos de bacharelado são 67,5% das vagas, enquanto as licenciaturas correspondem a 18,9% e os cursos tecnológicos representam 13,7%. Os cursos de ciências sociais, negócios e direito têm mais de 40% das vagas do ensino superior.
Na modalidade de ensino a distância, quase 40% dos estudantes são de licenciatura, o que deve um aumento no número de professores formados em cursos não-presenciais. A preocupação passa a ser a oferta de cursos com um mínimo de qualidade. "Para que a gente possa fazer que mais professores tenham sua formação adequada, nós temos que usar, sim, a ferramenta a distância, porque o problema de formação está concentrado nos municípios mais distantes", afirma o ministro.  Ele diz que o ministério acompanha de perto a qualidade desses cursos e tem marcos regulatórios adequados para assegurar o cumprimento dos padrões.
A taxa bruta de matrículas no ensino superior continua abaixo da meta do Plano Nacional de Educação traçou para 2010. O índice (que calcula a relação entre o total de alunos no curso superior ou já formados e o total de jovens entre 18 e 24 anos) foi de 28,7% em 2013.
Já a taxa líquida, que considera apenas os jovens nessa faixa etária que estão numa universidade ou já concluíram um cursos superior, o índice é de 18,8%.
Os números mostram um crescimento constante, mas de forma mais lenta do que a necessária. O Plano Nacional de Educação (PNE) previa, para 2010, uma meta bruta de 50% estudantes em relação ao total de jovens, e de 30% na taxa líquida.


O ministério afirma que o patamar inicial era muito baixo, e que o ritmo atual de crescimento deve permtiir que a próxima meta seja alcançada. O PNE atual prevê que a taxa líquida alcance 33% da população em 2024.

Total de formandos no ensino superior tem queda inédita

Quantidade de concluintes de graduação caiu pela 1ª vez desde 2002, quando a série histórica teve início
Segundo MEC, redução está concentrada em 14 instituições; parte delas teve que diminuir vagas após supervisão
FLÁVIA FOREQUEDE BRASÍLIA, Folha de S.Paulo, 10/9/2014
O número de alunos se formando em graduação no Brasil caiu 5,65% entre 2012 e o ano passado. É a primeira redução desde 2002, quando a série histórica começou.
Segundo o censo do ensino superior, 991 mil estudantes concluíram o curso em 2013. No ano anterior, foram 1,05 milhão. Os dados consideram tanto cursos presenciais como à distância.
Em números absolutos, as maiores quedas se concentram nos cursos presenciais de instituições privadas e estaduais e no ensino a distância das federais.
A condição financeira do aluno e a mudança de curso após o ingresso na faculdade estão entre os fatores apontados pelo setor privado para esse movimento.
Problemas na educação básica também são citados para explicar a queda. "A principal [causa]é a deficiência na formação básica do aluno, ele não consegue acompanhar o ritmo", diz Sólon Caldas, diretor-executivo da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior).
O Ministério da Educação disse em nota que 97% da redução está concentrada em 14 instituições de ensino superior entre as mais de 2.400 existentes no país. "Destas 14 instituições, a maioria passou por processo de supervisão que resultou em suspensão, redução de vagas ou descredenciamento."
O ministro Henrique Paim (Educação) disse que, como em anos anteriores, o número de matrículas no ensino superior continua crescendo.
O ritmo de expansão, no entanto, vem caindo nos últimos anos. Em 2013, foram registrados 7,3 milhões de matrículas --um aumento de 3,81%. No ano anterior, o percentual foi de 4,4%.
Esse ritmo de crescimento teve queda mais expressiva no setor público. Entre 2013 e 2012, o aumento foi de 1,85%, frente a 7% no período anterior.
Os novos dados mostram também queda no número total de calouros, ainda que num percentual modesto. De 2012 para 2013, o número de ingressantes foi 4,1 mil menor, num universo da ordem de 2,7 milhões.
Uma queda mais expressiva ocorreu entre 2008 e 2009, quando a quantidade de calouros caiu de 2,3 milhões parar 2 milhões. Para o setor privado, esse movimento foi decorrente da crise econômica.
Nesse caso, a avaliação do MEC é de que tiveram impacto no resultado medidas de supervisão da pasta, que incluem a proibição de vestibular de cursos mal avaliados.

ENSINO SUPERIOR - CENSO 2013

ALUNOS FORMADOS
991 mil em 2013
1,05 mi em 2012
-5,65% de queda
CURSOS NO BRASIL
32.049 em 2013
31.866 em 2012
0,57% de aumento



Número de formandos no ensino superior cai pela 1ª vez em 10 anos

LISANDRA PARAGUASSU E VICTOR VIEIRA - O ESTADO DE S. PAULO
09 Setembro 2014 | 18h 03

De acordo com o MEC, 991.010 pessoas se graduaram em 2013, 59,4 mil a menos do que em 2012


Atualizada às 00h07 de 10/09

O número de estudantes que concluem o ensino superior no Brasil caiu 5,6% em 2013, a primeira queda em dez anos. Hoje, há um formando (36%) para cada três ingressantes - em 2009, essa proporção era de 46%. Os dados do Censo do Ensino Superior são vistos pelo Ministério da Educação como acomodação em um quadro de crescimento muito forte. Para especialistas, o modelo de expansão do sistema no País pode ter chegado ao limite. 
Segundo dados do censo, divulgados nesta terça-feira, 991.010 pessoas se graduaram, 59,4 mil a menos do que em 2012. E a proporção de concluintes também caiu, para 36% dos alunos - queda de 9 pontos porcentuais desde 2010. Segundo o presidente do Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas Educacionais (Inep), Francisco Soares, a queda se explica pelo aumento considerável no número de vagas abertas. “É natural que, hoje, tenha mais alunos entrando do que saindo”, afirmou. 
Para especialistas, como Leandro Tessler, da Unicamp, o recuo pode indicar dificuldades econômicas de mais pessoas bancarem graduações particulares sem ajuda de bolsas e financiamentos - e seria preciso investigar as desistências. “Estamos próximos do limite de possibilidade de pagamento de cursos”, observa.
Em nota, o MEC informou que 97% da queda no número de concluintes se concentrou em 14 instituições, dez delas privadas. Esse grupo sofreu sanções recentes da pasta, como fechamento ou redução de vagas no vestibular. Para instituições que encerraram as atividades, como ocorreu com em 2013 com a UniverCidade e a Gama Filho, ambas do Rio de Janeiro, o MEC garantiu que os egressos teriam o direito de se formar em outras faculdades.
O censo mostra ainda que o ritmo de expansão do ensino superior brasileiro diminuiu. Depois de alcançar um pico de crescimento de 10% a mais de vagas criadas entre 2007 e 2008, esse índice vem caindo consistentemente, alcançando um avanço de apenas 3,7% entre 2012 e 2013. No mesmo período, o número de estudantes que iniciaram um curso em instituições públicas de ensino caiu quase 3%, e subiu apenas 0,5% no ensino privado. 
O recuo no número de ingressantes aconteceu em maior proporção nas instituições particulares. O ministro da Educação, Henrique Paim, atribuiu o fato aos cursos a distância. O censo mostra que a redução do número de ingressantes foi de mais de 20 mil nos cursos presenciais e ficou praticamente estável naqueles a distância. 
Do mesmo modo, essa seria a explicação para parte da queda no total de formandos entre 2012 e 2013, concentrada nos cursos a distância e em instituições públicas. “Foram turmas específicas, criadas para uma determinada formação. Quando o curso acabou, elas não foram renovadas”, disse Paim. 
O total de formandos no ensino a distância na rede federal caiu de 5.942 para 758 entre 2012 e 2013. Já no caso da queda nas privadas, Paim admite que são necessários mais estudos para descobrir as causas. 
PNE. O censo indica o quanto o Brasil ainda precisaria crescer para alcançar as metas de do novo Plano Nacional de Educação. O PNE determina que, em 10 anos, 50% dos jovens de 18 a 24 anos estejam no ensino superior. Hoje, a taxa é de 28,7% 

    Modelo de expansão do ensino superior dá sinais de limite

    Estado de S.Paulo, 10/9/2014
    Bruno Morche*
    Os dados do Censo da Educação Superior 2013 mostram uma redução no ritmo de expansão do ensino superior brasileiro. A diminuição no processo de ampliação das matrículas pode ser observada em ambos os setores: público e privado.

    Cabe salientar que a expansão do ensino superior observada nas últimas décadas ocorreu majoritariamente no setor privado. Enquanto em 1995 a proporção de matrículas em instituições privadas era por volta 60% e 40% nas públicas, os dados do censo de 2013 mostram que hoje aproximadamente 74% das matrículas estão naquele setor. O que se observa, quando analisamos os dados do censo, é que apesar da expansão a porcentagem de jovens de 18 a 24 anos nesse nível de ensino ainda é de apenas 15,10%, taxa ainda muito inferior a de outros países.
    Estudos comparados que venho desenvolvendo entre o ensino superior brasileiro e o de outros países emergentes sugerem que este modelo de expansão brasileiro, baseado em um pequeno número de instituições públicas totalmente gratuitas e um grande setor privado, possivelmente encontraria limites no início desta década.
    Dentre alguns motivos destaco: (1) no que diz respeito ao setor público, encontra limites de financiamento do governo para uma expansão quantitativa significativa dado seu elevado custo por aluno - de acordo com dados da OCDE de 2010 o custo por aluno em uma universidade pública brasileira chega a mais de 13 mil dólares -; (2) em relação ao setor privado, os limites residem na diminuição da demanda dado o número alto de vagas que já foi oferecido e o limite da capacidade econômica da população em continuar provendo recursos que permita a expansão desse setor; (3) por fim, o problema recorrente das baixas taxas de acesso e conclusão do ensino médio que passam a representar um funil no acesso ao ensino superior: o número de concluintes do EM em 2012 foi de 1.877.960, pouco acima dos 1.855.419 formados nesse nível de ensino 10 anos antes, em 2002.
    Não apenas a expansão das matrículas reduziu seu passo, como o número de ingressantes e concluintes também diminuiu. Apesar da queda no ritmo da expansão, cabe chamar a atenção para o forte aumento das matrículas nos cursos na modalidade a distância e dos tecnológicos.
    * É PESQUISADOR DA ÁREA DE ENSINO SUPERIOR NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

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