9 de setembro de 2014

RUF 2014: Melhores no ensino buscam autonomia para seus alunos


Universidades bem posicionadas no Ranking Universitário Folha adotam novos métodos de ensino
Escolas como UFRJ, UFMG e USP dividem alunos em grupos para solucionar problemas reais da profissão
BRUNO BENEVIDESSTEFANIE SILVEIRADE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo, 9/9/2014

Dar aos alunos autonomia e responsabilidade para solucionar problemas é o objetivo de métodos adotados em universidades com ensino bem avaliado no RUF 2014.
As características aparecem em cursos da UFMG, UFRJ, UnB, UFSCar e USP, que ficaram entre as melhores na análise que considera fatores como opinião dos avaliadores do Ministério da Educação. Os resultados foram divulgados nesta segunda (8).
Por meio de diferentes metodologias, a ideia é fazer os estudantes buscarem soluções para situações da futura profissão, em vez de ficarem nas cadeiras da sala de aula de forma passiva.
Em matéria sobre mediação de conflitos no curso de direito na UFMG, o professor apresenta casos em que pode haver conciliação entre as partes, como a briga de vizinhos devido a uma obra.
A turma foi dividida em três. Cada vizinho foi representado por um grupo e o terceiro fez o papel de conciliador. Ao professor coube balizar as discussões.
A metodologia foi pesquisada na França pela professora Adriana Orsini. "Você só consegue passar a matéria se não fizer o ensino que o [educador] Paulo Freire chamava de bancário', que é aquela história de ficar num pedestal despejando coisa."
Nas aulas de engenharia química da UFRJ, o professor divide a sala em grupos e dá um tema para cada um estudar por uma semana. No horário da aula, o grupo entra em um site para responder conjuntamente a questões elaboradas pelo professor.
A metodologia foi inspirada em experiências da Universidade Harvard e do MIT (instituições americanas).
"É preciso ter mudança cultural na universidade brasileira. Ela é, basicamente, a mesma em que o meu bisavô estudou", disse o professor Eduardo Sodré, da UFRJ.
Na medicina da UFSCar, os estudantes também são divididos em grupos, em vez das aulas tradicionais, para resolver problemas reais na área, desde o início do curso.
Já na enfermagem da Universidade de Brasília, alunos simulam em robôs situações reais de atendimento.
Na Escola Politécnica da USP, estudantes atuam em equipes para resolver problemas propostos por empresas. Dali já saíram soluções para rotulagem de alimentos.
As inovações foram implementadas em algumas disciplinas dos cursos dessas tradicionais instituições. "A universidade é conservadora", afirma Sodré, da UFRJ.

SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULOA terceira edição do RUF (Ranking Universitário Folha) foi recebida com críticas e elogios por leitores do jornal, estudantes e dirigentes de instituições de ensino superior do país.
A maioria dos que entraram em contato com a Folha nesta segunda-feira (8) buscou informações sobre a metodologia do ranking de universidades e dos rankings de cursos --o RUF classifica 192 universidades brasileiras e cada um dos 40 cursos com mais ingressantes no país.
Para o presidente da ABMES (Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior), Sólon Caldas, alguns critérios do RUF tendem a valorizar mais as instituições públicas de ensino.
Um exemplo é a proporção de professores com dedicação integral ou parcial no total do corpo docente, que vale 4% da nota recebida pelas universidades no RUF.
Nas universidades mantidas pelo governo, 93% dos docentes têm dedicação integral ou parcial --o restante são os chamados "horistas". Nas particulares, os horistas representam cerca de metade.
"É inviável financeiramente que uma instituição privada tenha tantos docentes em tempo integral quanto uma escola pública", diz Caldas.
Já para Renato Pedrosa, do grupo de estudos de ensino superior da Unicamp, as pesquisas de opinião, que valem 40% da nota das universidades, tendem a valorizar mais as escolas privadas e com muitos alunos.
Para Rafael Alcadipani, especialista em organizações da FGV, rankings são importantes para que a sociedade tenha "uma noção de classificação das coisas" --como instituições de ensino. "Por outro lado, é preciso lembrar que rankings usam critérios, e critérios sempre deixam coisas de fora", diz.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário