31 de outubro de 2014

Mais escolarizadas, mulheres recebem 68% da renda dos homens


Porcentual de mulheres com nível superior é maior, assim como elas têm as menores taxas de analfabetismo e de abandono escolar. Mesmo assim, continuam atrás em rendimento e inserção no mercado de trabalho

Cuiabá é a capital em que a renda feminina chega mais perto da masculina
Cuiabá é a capital em que a renda feminina chega mais perto da masculina (Thinkstock/VEJA)
Com índices de escolaridade superiores aos dos homens, as mulheres brasileiras continuam atrás quando analisados o rendimento e a inserção no mercado de trabalho. Os dados constam na pesquisa Estatísticas de Gênero, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e correspondem a uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010.
Além de terem menor taxa de analfabetismo, de 9,1% contra 9,8% dos homens, as mulheres chegam mais ao nível superior, com uma taxa de 15,1% de frequência na população de 18 a 24 anos, enquanto os homens somam 11,3%. Também no ensino médio, as mulheres estão mais presentes na idade escolar certa, de 15 a 17 anos, com 52,2% de frequência, contra 42,4% dos homens.
Outro indicador que aponta maior escolarização feminina é a taxa de abandono escolar precoce, que contabiliza os jovens de 18 a 24 anos que não concluíram o ensino médio nem estavam estudando. Esse percentual chega a 31,9% entre as mulheres e 41,1% para os homens.
Apesar desse cenário, o rendimento mensal médio das mulheres equivalia a 68% do masculino, em 2010.
Para a coordenadora de População e Indicadores Sociais do IBGE, Bárbara Cobo, a delegação de tarefas às mulheres prejudica a igualdade no emprego e na renda: "por motivos que vão além das políticas educacionais e de mercado de trabalho, você não vê essa maior escolarização das mulheres sendo refletida em inserção no mercado de trabalho. Um dos principais motivos é a questão da maternidade. A mulher ainda enfrenta a questão da dupla jornada e, muitas vezes, os cuidados com pessoas da família e serviços domésticos ainda estão substancialmente a cargo delas", analisa.

Bárbara destaca que mulheres e homens têm salários parecidos no início da carreira, mas as diferenças se agravam ao longo da vida: "o desempenho dela depende da escolarização, mas também depende de políticas públicas que permitam que tenha onde deixar as crianças para trabalhar e da legislação trabalhista. Essa parte também pesa a partir do momento que as licenças maternidade e paternidade são muito diferenciadas. Em cargos de direção, você vê nitidamente a diferença de acesso entre homens e mulheres", disse a pesquisadora.
Em números absolutos, a pesquisa mostrou rendimento médio para os homens de 1.587 reais, contra 1.074 reais das mulheres. Em 2000, a desigualdade era ainda maior, com mulheres recebendo 65% do rendimento médio dos homens. Essa melhora, no entanto, não se deu em todas as partes do país, já que, no Norte e Nordeste, a taxa caiu de 71% e 72% para 69% e 68%k, respectivamente. Os homens do Sudeste eram o grupo com maior renda, em 2010, com 1.847 reais, enquanto as mulheres do Nordeste tinham a menor, de 716 reais.
Segundo a pesquisa, Cuiabá é a capital em que a renda feminina chega mais perto da masculina, com 80%, enquanto em Curitiba a proporção fica em 63%. Entre 2000 e 2010, apenas Porto Velho e João Pessoa tiveram aumento da desigualdade de renda, com queda de 72% para 67%, na cidade nortista, e 71% para 69% na nordestina.

A taxa de atividade das mulheres com mais de 16 anos, que indica o percentual das que estão trabalhando ou procurando trabalho, cresceu entre 2000 e 2010 de 50,1% para 54,6%, enquanto a dos homens caiu de 79,7% para 75,7%. Quando analisada a formalização desse trabalho, a pesquisa mostra que os homens tiveram um crescimento maior no emprego com carteira assinada em relação às mulheres. Em 2000, 50% dos homens e 51,3% das mulheres tinham emprego formal, valores que aumentaram para 59,2% e 57,9% em 2010, respectivamente.
Entre as mulheres ocupadas, 19,2% têm nível superior, enquanto os homens somam 11,5%. Na outra ponta, 45,5% dos homens que trabalham não têm instrução ou declaram ter o ensino fundamental incompleto, taxa que é de 34,8% entre as mulheres.
Outra conclusão da pesquisa é que as mulheres são maioria em áreas de formação com menor remuneração. A presença delas é maior nas áreas de educação (83%) e humanidades e artes (74,2%), as duas com menor renda média: de 1.810,50 reais e 2.223,90 reais, respectivamente. Já na área de engenharia, produção e construção, que tem rendimento médio de 5.565,10 reais segundo o Censo 2010, elas são apenas 21,9% das pessoas formadas. A segunda área mais bem remunerada, agricultura e veterinária, com 4.310,60 reais de renda salarial, tem a segunda menor presença feminina (27,4%).


(Com Agência Brasil)

Aumenta desigualdade entre homens e mulheres no mercado formal de trabalho, aponta IBGE


Aumentou o percentual de mulheres com carteira de trabalho, mas o índice cresceu mais entre os homens - Editoria de arte
RIO - Dados da pesquisa “Estatísticas de Gênero”, divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE, mostram que cresceu a desigualdade entre homens e mulheres no mercado formal de trabalho, embora tenha aumentado a proporção de pessoas do sexo feminino em idade economicamente ativa trabalhando ou buscando emprego — a chamada taxa de atividade. O estudo, elaborado com base em dados do Censo 2010, conclui ainda que as diferenças salariais entre elas e eles ainda é grande, já que as mulheres recebem cerca de 70% do rendimento médio dos homens. Além disso, subiu o número de pessoas de sexo feminino que trabalham por conta própria. Outra estatística do estudo chama atenção: um terço das mulheres de 16 anos ou mais não apresentam qualquer rendimento.
A pesquisa aponta que vem diminuindo o abismo entre a participação de homens e mulheres no mercado. Ainda que a taxa de atividade dos homens seja superior à das mulheres, essa diferença caiu de quase 30 pontos percentuais em 2000 para pouco mais de 21 em 2010, o que se deve não apenas ao maior crescimento desta taxa entre as mulheres, mas também à sua redução entre os homens. A variação foi de 79,7% para 75,7% entre o sexo masculino e de 50,1% para 54,6% entre o feminino. Com o corte por idade, o IBGE verificou que, entre as jovens mulheres, a taxa de atividade cresceu de forma mais branda que o observado para os demais grupos etários.
Apesar do aumento do emprego ou da procura por um trabalho entre as mulheres em idade economicamente ativa, no quesito formalização, a situação feminina continua desfavorável. A formalização entre as mulheres passou de 51,3% para 57,9%, mas foi inferior ao observado entre os homens: de 50% para 59,2%. Essa taxa é a porcentagem da população ocupada em trabalhos formais. O maior índice entre as mulheres está em Florianópolis e a menor, em Belém.
No recorte envolvendo o emprego com carteira assinada, a proporção de homens com carteira assinada cresceu mais do que a das mulheres. Esse índice aumentou de 32,7% em 2000 para 39,8% em 2010 entre as trabalhadoras. No caso das pessoas de sexo masculino, esse crescimento foi mais acentuado: de 36,5% para 46,5%.
- O aumento da formalização dos homens foi mais intensa do que a das mulheres. Os homens já tinham um indicador maior que o das mulheres, e quando o indicador deles acelera mais que o das mulheres, embora o das mulheres tenha avançado, você aumenta um pouco a desigualdade nesse fator - afirmou Bárbara Cobo, da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.
Outro dado do levantamento é que aumentou a proporção de mulheres trabalhadoras com 16 anos ou mais que atuam por conta própria. Esse índice era de 16,7% em 2000 e 17,3% em 2010. No caso do homem, houve redução, de 28,2% para 24,7%.
MULHERES RESPONSÁVEIS PELAS FAMÍLIAS
O IBGE, com base em dados coletados no Censo 2010, verificou que a proporção de famílias que tinham a mulher como responsável foi de 37,3% em 2010. Em 2000, esse percentual era 22,2%. Essa situação acontecia mais nas áreas urbanas (39,3%) do que no meio rural (24,8%). A pesquisa concluiu que em 87,4% desses casos, a família é constituída pela mulher e por filhos, sem cônjuge. O instituto fez um cruzamento que confirmou que 30,3% das famílias que contam com filhos de até 5 anos de idade têm a mulher como responsável. A cidade em que mais mulheres são responsáveis pelas famílias é Pugmil, em Tocantins.
Quando o Censo se refere a domicílios - e não somente a famílias -, a pesquisa constata que 38,7% das mulheres são responsáveis pelas casas. Isso porque, numa mesma residência, podem morar dois núcleos familiares distintos. A mulher e o marido, com filhos, que moram junto com os sogros são considerados como famílias conviventes.
UM TERÇO DAS MULHERES NÃO TÊM RENDIMENTO
O instituto analisou ainda a contribuição de cada gênero para a composição da renda familiar e constatou que, em 2010, as mulheres de 10 anos ou mais contribuíam em média com 40,9% do rendimento da família — contra 33% em 2000 — e o homem, com 59,1%. Esse percentual é diferente, de acordo com a estrutura familiar: para aquelas formadas por casais, as médias da participação do rendimento feminino foram de 33,5%, quando não havia filho; e de 31,7%, quando havia filho na família, enquanto nas chamadas famílias monoparentais – com a mulher responsável e sem cônjuge e com filho – o indicador atingiu 70,8%. Quanto mais baixo é o rendimento da família, maior a contribuição percentual da mulher.
A pesquisa do IBGE mostrou que ainda é alto o percentual de mulheres de 16 anos ou mais sem qualquer tipo de rendimento. Em 2010, a taxa era de 30,4%, contra 45,3% em 2000.
MAIS IDADE, MAIS DESIGUAL
Pela primeira vez, o instituto fez uma comparação entre os grupos nos extremos das tabelas, os homens brancos e as mulheres pardas. Verificou que o rendimento médio das mulheres pretas ou pardas (R$ 727) correspondia a 35% do rendimento médio dos homens brancos (R$ 2.086).
O rendimento médio da população ocupada aumenta com a idade para ambos os sexos, assim como a desigualdade de rendimento por sexo. Isso significa que, quando entram para uma empresa como estagiários, por exemplo, homens e mulheres recebem o mesmo salário. A diferença passa a existir na medida em que vão ganhando experiência. Em média, as jovens de 18 a 24 anos de idade recebiam 88% do rendimento dos homens, enquanto as mulheres de 60 anos ou mais de idade apresentavam um rendimento equivalente a 64% do rendimento dos homens nesta faixa etária. A maior desigualdade entre os rendimentos médios de homens e mulheres está em Tocantins.
- Já de algum tempo para cá, as mulheres têm se escolarizado mais, são maioria entre os universitários, têm maior taxa de frequência escolar, menos atraso escolar em relação aos homens. Mas, por motivos que vão além das perspectivas educacionais, você não vê esse maior preparo das mulheres sendo refletido no mercado de trabalho. Um dos vários motivos que a gente pode apontar é a questão da maternidade. A mulher ainda enfrenta a questão da dupla jornada de trabalho. Os cuidados com a família e com os afazeres domésticos estão substancialmente a cargo das mulheres. As mulheres têm que conciliar trabalho, maternidade e afazeres domésticos - explica Bárbara.
NA ÁREA DA SAÚDE, UMA DAS MAIORES DIFERENÇAS SALARIAIS
O estudo mostra que as áreas gerais de formação nas quais as mulheres de 25 anos ou mais de idade estão em maior proporção — Educação (83,0%) e Humanidades e Artes (74,2%) — são justamente as que registram os menores rendimentos médios mensais entre as pessoas ocupadas (R$ 1.810,50 e R$ 2.223,90, respectivamente).
Outro dado mostra que o rendimento feminino não se iguala ao masculino em nenhuma das áreas gerais. Isso se mantém mesmo quando a proporção de mulheres se torna equivalente à dos homens, em áreas como Ciências Sociais, Negócios e Direito, em que as trabalhadoras es recebiam apenas 66,3% do rendimento dos homens. As maiores diferenças salariais entre os dois gêneros estão principalmente nos setores de serviços (no qual mulheres recebem 53,2% do rendimento médio dos homens), saúde e bem estar social (na qual o percentual é de 55,6%), além de agricultura e veterinária (cuja razão é de 62,5).

Analfabetismo caiu mais entre as mulheres, aponta IBGE

GLOBO - Últimas notícias by Juliana Castro  /31/10/2014

As taxas de analfabetismo, em 2000 e 2010 - Editoria de arte
RIO - Entre 2000 e 2010, o analfabetismo entre mulheres recuou 28,8% e entre os homens, 24,7%, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE na pesquisa “Estatísticas de Gênero”. No último Censo, as pessoas dos dois gêneros com 15 anos ou mais de idade apresentavam taxas de analfabetismo próximas — 9,1%, entre as mulheres e 9,8%, entre os homens. No entanto, permanecem significativas as desigualdades regionais por cor ou raça e entre as áreas urbanas e rurais permaneceram.
A pesquisa fez um raio-x sobre a mulher em vários quesitos, de escolaridade à renda, passando pela maternidade. Nesse último caso, o levantamento verificou que recuou a proporção de mulheres, em todas as faixas etárias, que têm filho. Essa redução foi constatada inclusive entre as jovens. Notou-se que o percentual de mulheres de 15 a 19 anos com ao menos um filho nascido vivo diminuiu de 14,8%, em 2000, para 11,8%, em 2010. Em grande parte dos municípios nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, além do Paraná, as taxas eram superiores às da média nacional. A maior taxa está em Roraima (20,1%) e a menor, no Distrito Federal (8%). O município em que esse percentual é maior é Jacareacanga, no Pará.
Além da discrepância de perfil entre regiões, há diferenciação entre as raças. Enquanto 8,8% das brancas de 15 a 19 anos de idade tinham ao menos um filho nascido vivo, entre as pretas ou pardas, o indicador foi de 14,1%, em 2010.
ACESSO À ESCOLHA SEMELHANTE
Entre 2000 e 2010, o IBGE cita que foi praticamente universalizado o acesso à escola na faixa etária de 6 a 14 anos de idade, sendo que o maior incremento ocorreu entre as crianças de 4 a 5 anos de idade. Nessa faixa, a frequência escolar passou de 51,4% para 80,1%. Houve um aumento de apenas 5,6 pontos percentuais na frequência escolar dos jovens de 15 a 17 anos de idade em 10 anos — elevando-se de 77,7% para 83,3%. A pesquisa conclui que a evolução do acesso à escola entre 2000 e 2010 foi similar para mulheres e homens nessas três faixas etárias.
Outro dado mostra que o percentual de jovens de 15 a 17 anos que cursavam o nível apropriado à sua idade subiu de 34,4% em 2000 para 47,3% em 2010, mas havia disparidade entre meninos e meninas. A taxa no ensino médio para os homens era de 42,4% e a feminina era de 52,2%.
A proporção de jovens de 18 a 24 anos de idade que não haviam completado o ensino médio e que não estavam estudando caiu de 47,2% em 2000 e para 36,5% em 2010. A incidência é significativamente maior entre os homens. Em contraposição, em 2010, havia uma proporção maior de mulheres entre os universitários nessa idade: 57,1%. Nenhum desses fatores se reflete a favor dos mulheres no mercado de trabalho, já que elas continuam ganhando menos, mesmo quando exercem a mesma função de um homem.
PESSOAS MORANDO SOZINHAS
Ao analisar as famílias, a pesquisa apontou ainda que em, 2010, 6,9 milhões pessoas viviam sozinhas. O IBGE chegou a essa número por meio dos chamados domicílios do tipo unipessoal, que correspondem a 12,1% do total. Na área urbana, a proporção de unidades domésticas do tipo unipessoal foi de 12,4% e, na área rural, a proporção de unidades domésticas formadas por duas ou mais pessoas com laços de parentesco foi de 89,3%.
MIGRAÇÃO E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
O IBGE levantou dados sobre a migração da população. Constatou que, na região Norte, ela intensifica a concentração de pessoas do sexo masculino porque entraram mais homens que mulheres (113,9 homens para cada 100 mulheres) e saíram mais mulheres que homens (95,9 homens por 100 mulheres). No Nordeste, proporcionalmente saíram mais homens que mulheres.
O Censo 2010 verificou também que 45,6 milhões de pessoas (23,9% da população total) — 25,8 milhões de mulheres e 19,8 milhões de homens — tinham deficiência visual, auditiva, motora e mental ou intelectual. Em termos de deficiência “severa” (as que declararam ter “grande dificuldade” ou “não consegue de modo algum” para enxergar, ouvir ou caminhar/subir escadas) ou deficiência mental/intelectual, foram identificadas 12,8 milhões de pessoas, sendo 7,1 milhões de mulheres e 5,7 milhões de homens.

30 de outubro de 2014

Conversando com o autor Latino-Americano: Alejandro Crimson

 

O antropólogo argentino participou de atividade nesta quarta-feira (29/10) que integrou a programação do 38º Encontro Anual da ANPOCS
O antropólogo argentino Alejando Crimson, da Universidad Nacional de San Martín (Buenos Aires), foi o convidado para a estreia da sessão “Conversando com o autor latino-americano”, espaço destinado a destacados pesquisadores na América Latina, em sintonia com o esforço de ampliar o escopo da internacionalização das ciências sociais brasileiras. A atividade, ocorreu nesta quarta-feira (29), e integrou a programação do 38º Encontro Anual da ANPOCS (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).
Em sua palestra, intitulada “Argentina exotizada, como si hiciera falta”, o pesquisador abordou as 70 mitomanias que os argentinos falam sobre seu país e sobre si mesmos, pesquisa publicada em seu mais recente livro “Mitomanias Argentinas”, um estudo antropológico da linguagem coloquial tanto nos momentos de soberba como de autodenegrição do cotidiano dos argentinos. A ANPOCS bateu um papo com ele após sua conferência para saber mais sobre o assunto. Confira na entrevista abaixo!

ANPOCS: Na sua palestra você expôs uma seleção de 70 mitomanias que os argentinos falam do seu país e de si próprios. Você poderia citar algumas e falar sobre elas?
Alejandro Grimson: Tem uma [mitomania] muito forte de que a Argentina é um país europeu. Isso tem uma grande influência no sentido do imaginário social sobre a nação, que contribui para a soberba, muito conhecida dos argentinos, mas, também, para a frustração deles para com o país existente de fato. É antiga essa história da ‘europeidade’ da Argentina, um país branco, no sul da América, que tem uma conotação de superioridade, e eu faço uma crítica disso. Mas, por outro lado, os argentinos sabem que o seu país não é a Europa. Além do que eles superestimam a Europa, imaginando-a melhor do que de fato é. Eu sempre falo que os europeus adorariam morar na Europa imaginada pelos Argentinos, como se fosse um território perfeito, tudo funciona perfeito, não tem desigualdade, não tem problema nenhum.
A segunda mitomania muito importante é a ideia de que todo o tempo no passado foi melhor do que o presente: ‘A Argentina já foi um grande país, uma grande potência, perdeu tudo e hoje é um desastre’. Essa ideia é um obstáculo para entender quais coisas hoje funcionam melhor e pior do que no passado. Mas, é uma ideia que regula tudo e que faz com que os cidadãos olhem tudo o que acontece no país, na política, na democracia, na economia, na educação, na saúde como se fosse sempre pior do que no passado. E é obvio que não é assim. Porque, por exemplo, a Argentina nunca na sua história teve 30 anos de democracia continuada, hoje a Argentina tem o menor índice de analfabetismo também, muito mais universidades do que em outra época… Então, há fatores que pioraram e que melhoraram. E essa realidade é muito mais complexa.
Outra mitomania é que ‘na Argentina não tem racismo porque não tem negros’, o que já é uma ideia racista. O uso do termo negro na Argentina é muito classista porque todos os pobres são considerados negros, assim como todos os favelados, os peronistas e os torcedores do clube de futebol mais popular. Então, por um lado, segundo a mitomania, não há negros, por outro lado, na linguagem popular, metade da população é negra.

ANPOCS: Como foi o processo e o que você concluiu com este estudo?
G.: Eu venho fazendo pesquisas há cerca de vinte anos na Argentina e, há quatro anos, eu decidi tentar colocar essas pesquisas e também outras pesquisas das ciências sociais argentinas em tensão com a linguagem coloquial dos argentinos. E tentar saber exotizar essa linguagem, porque é uma linguagem que está no meu corpo, na minha própria fala, na fala de amigos… Essas frases que eu cito são frases que você escuta durante a sobremesa do domingo, no boteco, no trabalho, no ônibus, na mídia. Assim, a ideia foi exotizar isso, criar metodologicamente uma distância e então ir registrando as frases, pouco a pouco. A partir daí, fazer uma crítica dessas frases com dados da pesquisa antropológica e sociológica, mas numa linguagem para um público comum. É meu primeiro livro dedicado a um público que não é só acadêmico, embora as informações que o livro oferece aos leitores são informações da academia, da universidade e das pesquisas.

ANPOCS: Queria comentar algo que você disse sobre os argentinos acharem que o passado é sempre melhor do que o presente. Você acha que isso, de alguma forma, contribui para a polarização amor x ódio dos cidadãos argentinos em relação ao atual governo da Cristina Kirchner?
G.: A ideia da decadência da Argentina nasceu no final da década passada, depois da ditadura, no ano 1976, que destruiu o aparelho industrial da Argentina, que era importante, e também deu golpes muito duros para a universidade e para a educação. Os anos 80, quando volta a democracia no ano 1983, o governo praticamente não tem orçamento, é uma situação de crise permanente. E, nos anos 90, chega um neoliberalismo extremo na Argentina quando o governo do [Carlos Saúl] Menem assume, e tem essa situação que o governo cria a paridade dólar X peso, um dólar vale um peso e vice-versa, mas isso gera uma situação que culmina em um processo de recessão no ano 1998 e que vai até o ano 2002. E essa recessão esteve acompanhada de aumento de desemprego, que foi de 15% para 22%. Tem toda uma coisa de que a classe média na Argentina está em processo de desaparecimento. O governo Kirchner produz também uma divisão onde os opositores do governo atual tem um discurso de que a Argentina continua no processo de decadência e o oficialismo politico acha que o país já resolveu esse processo.
A minha posição é uma posição de distanciamento crítico para tentar compreender essa divisão, desde as ciências sociais, e tentando contribuir para um debate público menos polarizado do que se tem hoje na Argentina.

ANPOCS: Você recebeu diversos prêmios com as suas obras, como o “Relatos de la diferencia y la Igualdad”, que ganhou o prêmio FELAFACS, como a melhor tese em comunicação na América Latina. Depois de publicar “La Nacion em sus limites, interculturalidad y comunicación”, você também recebeu o prêmio Bernardo Houssay pelo Estado Argentino, como o mais destacado pesquisador jovem nas Ciências Sociais. De certa forma, nos seus estudos você sempre busca estudar a questão dos contrastes e dos limites culturais…?
G.: Eu pesquiso, por um lado, uma sociedade -pode ser um bairro, uma comunidade, um Estado, uma nação-, que pode ser compreendida como uma configuração cultural. Isso significa que você tem uma grande heterogeneidade dentro de qualquer sociedade, mas que essa heterogeneidade tem um tipo de associação histórica particular dentro de cada uma delas. Então, quando você estuda cada sociedade, você pode fazer uma comparação com como funciona essas heterogeneidades em outras configurações. Porque você pode ter desigualdade em duas sociedades, mas em cada sociedade essa desigualdade é processada de uma forma particular, tem formas particulares de conflito e de confronto, que tem a ver com sua própria história e contexto. Então, isso tem uma potencialidade comparativa que eu consegui desenvolver. Em parte da minha tese de doutorado, eu abordei as fronteiras do Brasil e da Argentina. Em outra parte, num projeto posterior, que é um livro que se chama “Paixões Nacionais”, diz uma comparação bastante abrangente entre cultura política no Brasil e Argentina.

No seu mais recente livro “Mitomanias Argentinas”, no qual foi baseada sua conferência, você propôs um modo de abordagem crítico do sentido comum que teve repercussão na televisão…
G.: Lá, na Argentina, há vários anos, o Ministério da Educação criou um canal educativo, chamado Encuentro, muito respeitado, no qual se procura abordar a ciência, a matemática, a biologia, a física, a filosofia com uma linguagem acessível para o público. Nesse canal, a gente desenvolveu um programa de televisão em oito capítulos baseado no livro “Mitomanias Argentinas”, num intento de aproximar a Antropologia da Sociedade Contemporânea para o grande público. Elaboramos esse programa, homônimo ao livro, no qual combinamos os conceitos da antropologia ao humor. Chamamos alguns humoristas para algumas piadas, porque a antropologia e o humor tem algo em comum: assim como essa ciência precisa de uma distância [de seu objeto de estudo] para compreender, o humor sobre o próprio país também implica uma reflexão, um convite lúdico para refletir sobre determinado assunto. Então, esses programas tem uma parte bastante engraçada e teve muito sucesso na televisão. Está na web, as pessoas podem assistir ao programa pela internet.

ANPOCS: É a primeira vez que você participa como palestrante de um Encontro da ANPOCS?
A.C.: Sim.

ANPOCS: O que você achou de participar do encontro?
A.C.: É um programa muito interessante, pois coloca muitas discussões estratégicas sobre as ciências sociais contemporâneas, os seus desafios, os seus problemas, as suas agendas. Eu acho muito interessante conhecer de perto os debates que hoje tem as ciências sociais brasileiras. Eu fiz o doutorado no Brasil, na Universidade de Brasília, mas finalizei faz doze anos. Então, mesmo que eu tenha feito uma tradução para o espanhol do livro “Antropologia Brasileira Contemporânea”, que é uma coletânea, isso me deixou atualizou apenas neste campo. Vir à ANPOCS vai muito além da Antropologia, é possível ver a agenda de outros campos das Ciências Sociais brasileira.

ANPOCS: Você selecionou algumas mesas para assistir aqui no Encontro?
C.: Eu fui para a mesa do Luiz Eduardo Soares, fui para outras mesas hoje,  e pretendo ir para a mesa do Luiz Eduardo Cardoso.
 
(Natasha Ramos/Ascom ANPOCS)

Indígenas reivindicam que Educação respeite suas identidades culturais

A intenção é reforçar o direito a educação específica para esses povos

Mais de 100 professores indígenas, representando 49 etnias de todas as regiões do país, se reuniram, hoje (29), na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Brasília, para o lançamento do Manifesto sobre Educação Escolar Indígena no Brasil – Por uma Educação Descolonial e Libertadora. A intenção é reforçar o direito a educação específica para esses povos e dar visibilidade à importância que os processos de educação próprios dos indígenas têm na manutenção e preservação de sua cultura e identidade.



“Hoje, o projeto que é apresentado para as escolas das comunidades indígenas é idêntico ao apresentado para o sistema não indígena. Isso não é bom para gente porque a gente perde nossos valores, destratando nossa própria identidade cultural, nossas crenças e religiões”, ressalta Flauberth Guajajara, professor e representante da etnia Guajajara, do Maranhão.
De acordo com Eunice Dias de Paula, missionária do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), para que a preservação desse universo sociocultural dos indígenas seja possível é importante a presença de uma pessoa que transmita, no papel de professor, a cultura daquele povo baseado na vivência e experiência autêntica. “Um professor indígena é fundamental para essa escola funcionar, porque ele faz parte daquela cultura”.
Dados divulgados em 2012, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apontam que a realidade é diferente. O quadro que compõe as 2.954 escolas indígenas, distribuídas em 26 estados, a maioria dos professores é representado por pessoas que não fazem parte daquela sociedade. Os indígenas professores são 7.321 de um total de 15.289, menos da metade.
Eunice avalia que essa situação é reflexo de um desrespeito dos governos, principalmente os estaduais. “No MEC [Ministério da Educação] tem o setor da diversidade onde o pessoal faz força para que o respeito às leis sejam implementadas. O problema todo é que a responsabilidade da educação escolar indígena ficou para os estados e dentro dos estados isso não se efetiva”, ressalta.

(Agência Brasil)

29 de outubro de 2014

Entender a sustentabilidade, José Eli da Veiga


Por José Eli da Veiga
Você sabia que está para terminar a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável 2005-2014, instituída pela ONU?
Sabia que a representação da Unesco no Brasil publicou em português o "Plano Internacional de Implementação" dessa chamada "Deds", já em maio de 2005?
Sabia que uma "Conferência Mundial sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável" foi realizada em Bonn, no início de 2009, para fazer o balanço dos primeiros anos da Deds e planejar os demais?
Entre 24 países, só o Brasil preferiu amesquinhar a sustentabilidade à bitola ambientalista
Não deve se preocupar o interessado no assunto que se surpreendeu ao ter de responder negativamente a tais perguntas. Nosso amplo, geral e irrestrito, desconhecimento sobre essas iniciativas se deve a uma peculiaridade nacional: a estranha preferência por uma "Educação Ambiental (EA)" que é contrária à valorização do "desenvolvimento". Uma postura atrasada do sistema educacional brasileiro que isolou o país em tentativa de remar contra a maré.
Difícil de acreditar? Pois então consulte os seis textos sobre "Educação Ambiental no Brasil" que o Ministério da Educação divulgou, em março de 2008, no periódico eletrônico "Salto para o Futuro" (ISSN 1982-0283). Na contramão da quase unanimidade mundial obtida pela ONU por meio da Unesco, essa publicação advoga a necessidade de combater a legitimação do "desenvolvimento sustentável", pois mais correto seria que a dimensão ambiental fosse desvinculada das implicações políticas, econômicas, sociais, culturais, etc., que sempre estiveram na essência da noção de "desenvolvimento".
Avessos ao crescente consenso que foi se formando a partir do início dos anos 1980 sobre o desenvolvimento sustentável como maior desafio deste século, os defensores da manutenção da EA acham que um real avanço da consciência ambiental precisa depreciar a noção de desenvolvimento. Por isso, fizeram o Brasil se opor à Deds, em nome da rejeição ambientalista a esse novo valor que é a sustentabilidade do desenvolvimento.
Para a Unesco "a educação para o desenvolvimento sustentável (EDS) deve incluir todos os âmbitos do desenvolvimento humano, abrangendo os desafios urgentes que o mundo enfrenta: direitos humanos, pela paz e segurança humana, igualdade de gênero, diversidade cultural e compreensão intercultural, saúde, HIV/Aids, governabilidade, recursos naturais, mudanças climáticas, desenvolvimento rural, urbanização sustentável, prevenção e atenuação de desastres naturais, redução da pobreza, responsabilidade e deveres das empresas e, enfim, a economia de mercado".
A "Declaração de Bonn", que saiu da conferência mundial de 2009, afirma que a EDS "enfatiza abordagens criativas e críticas, pensamento de longo prazo, inovação e capacitação para lidar com a incerteza e para resolver problemas complexos, realçando a interdependência entre meio ambiente, economia, sociedade e diversidade cultural, do nível local ao global, e tendo em conta o passado, presente e futuro".
Evidências sobre a excepcionalidade brasileira estão nos trabalhos de dois especialistas internacionais: o francês Pierre Clément e a italiana Silvia Caravita. Principalmente em amplo relatório de 2011 com foco exclusivo no ensino secundário, e em capítulo para o livro "Topics and Trends in Current Science Education" (Springer, 2014). Nos outros 23 países examinados não houve essa resistência em aceitar a superioridade da EDS. Só o Brasil preferiu amesquinhar a sustentabilidade à bitola ambientalista. Problema que talvez possa ser dissimulado pelo jargão "Educação para a Sustentabilidade" (EfS na sigla em inglês).
Não é por outro motivo que nossos professores do ensino médio pairam em generalidades quando precisam responder perguntas sobre os significados de "desenvolvimento sustentável" e "sustentabilidade". São raríssimos os que tiveram notícia de que a ONU instituiu o período 2005-2014 como a Década da EDS, e nenhum dos entrevistados em recente sondagem feita em São Paulo mostrou saber que existe o programa multimídia "Teaching and Learning for a Sustainable Future" disponibilizado pela Unesco desde 2010.
É imprescindível, portanto, uma iniciativa que ofereça apoio a professores do ensino médio dispostos a melhorar sua capacitação nesse âmbito temático. A proposta é que, com base nos resultados de conversas com autores dos melhores livros sobre sustentabilidade, que ocorrerão no Sindicato dos Professores (Sinpro/SP) no início de 2015, sejam depois produzidos curtos vídeos com o objetivo de disseminar o máximo possível a diferença entre cultura da sustentabilidade e reducionismo ambientalista. Uma experiência que certamente incentivará outras propostas voltadas à formação científica permanente daqueles que têm a missão de introduzir os jovens ao principal desafio do século XXI.
Tal iniciativa, intitulada "Entender a Sustentabilidade", que terá patrocínio do Instituto Natura, será apresentada e discutida na terça-feira 11 de novembro em workshop na Cidade Universitária (IEE/USP), para o qual os interessados poderão solicitar inscrição por e-mail: comunicação@iee.usp.br
José Eli da Veiga, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP e autor do e-book "The Global Disgovernance of Sustainability", escreve mensalmente às terças. Página web: www.zeeli.pro.br


Leia mais em:
http://www.valor.com.br/opiniao/3751944/entender-sustentabilidade#ixzz3HYsAOEV7

MATIAS SPEKTOR Diplomacia da transição


Pela 1ª vez em 20 anos, um governo recém-eleito não pegará o país em trajetória internacional ascendente
A diplomacia do primeiro mandato de Dilma Rousseff não teve distinção conceitual daquela implementada pelo ex-presidente Lula.
Ela manteve intactos os elementos centrais. Primeiro, a busca de relações corretas, não antagônicas, com os Estados Unidos. Segundo, cooperação ativa com vizinhos na tentativa de transformar a América do Sul num espaço geopolítico próprio e com orientação de esquerda.
Terceiro, o compromisso irreversível com disciplinas internacionais em livre comércio, direitos humanos, meio ambiente, finanças e não proliferação nuclear.
Quarto, ênfase em coalizões com países em desenvolvimento capazes de contestar a visão do Norte sobre governança global de forma moderada, sem rupturas. Quinto, o alinhamento da máquina do Estado ao projeto de internacionalização do capitalismo brasileiro.
Muitos elementos desse pacote foram herdados de governos prévios ao PT. No entanto, foi com Lula e depois com Dilma que viraram projeto estratégico preciso.
Ajudou para isso a crença segundo a qual a política externa é um campo de batalha bem definido do partido na disputa contra a oposição liderada pelo PSDB.
No entanto, a interseção entre a diplomacia de Lula e a de Dilma em seu primeiro mandato começa e termina aí. Na prática, ao implementar sua política externa no dia a dia, o primeiro mandato de Dilma não representou continuidade em relação a Lula. Por quê?
Alguns dos motivos dizem respeito à política interna. Como Dilma nunca enxergou na diplomacia uma alavanca para ganhar autoridade em casa, o assunto recebeu atenção limitada. Além disso, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia, os dois pesos-pesados da diplomacia lulista, ficaram no governo, mas encarregados de tocar outras coisas.
Dilma tampouco concebeu a diplomacia como combustível de baixo custo para manter a militância petista e os movimentos sociais energizados.
Em direitos humanos, agiu de olho em Belo Monte e para evitar críticas ao sistema prisional. No quesito LGBT, agiu apenas no fim do mandato, atenta à ameaça de Marina Silva.
Os principais motivos da descontinuidade do mandato de Dilma em relação a Lula foram, acima de tudo, internacionais.
Ela enfrentou um sistema menos maleável e mais hostil. Em seu governo, a crise financeira global bateu com força, o G8 recuperou o terreno perdido para o G20, a América do Sul ficou mais difícil de operar, e as crises de Líbia, Ucrânia, Síria e Estado Islâmico restauraram a agenda das grandes potências, em detrimento dos países emergentes.
O escândalo da espionagem americana e as dificuldades de reviver a OMC só pioraram a situação.
O resultado disso é que a posição relativa do Brasil no mundo em 2014 é pior do que a de 2010.
Pela primeira vez em 20 anos, um governo recém-eleito não pegará o país em trajetória internacional ascendente.
O grupo de colaboradores presidenciais que sairá vitorioso do embate interno nestas oito semanas de transição será forçado a levar essa realidade em conta.
Folha de SP, 29/10/2014

28 de outubro de 2014

Brasil cai nove posições e fica em 71º entre 142 países em igualdade de gênero





RIO - O Brasil caiu nove posições em um ranking global de igualdade de gênero produzido anualmente pelo Fórum Econômico Mundial. De acordo com o estudo “Global Gender Report 2014”, o país ficou na 71ª posição em um total de 142 nações analisadas.

O recuo interrompe uma escalada brasileira na tabela desde 2010, quando ocupávamos o 85º lugar dentre 135 países. O ranking procura avaliar como está a distribuição de riqueza e oportunidade para homens e mulheres de acordo com cada economia nacional.
Para isso, economistas observaram o país segundo quatro variáveis: participação econômica e oportunidades (questões salariais e condições trabalhistas); desempenho educacional (alfabetização, número de matrículas); saúde (taxa de natalidade por sexo e expectativa de vida) e poderio político (representatividade de homens e mulheres nas diferentes instituições públicas nacionais).
E foi justamente neste último quesito que o Brasil teve o pior desempenho no relatório de 2014, ocupando a 74ª posição. O país que reelegeu pela primeira vez uma mulher para a presidência da República tem uma das piores representações do gênero feminio no Congresso Nacional: uma parlamentar para cada 10 homens, aproximadamente. É uma das piores proporções nos 142 países analisados.
No geral, o Brasil recebeu 0,694 pontos numa escala em que o 1 é a igualdade máxima de gênero.
No ranking somente de questão de salários e trabalho, o país caiu para 81º lugar. No Brasil, segundo o estudo, a participação das mulheres em posições de chefia de administração é quase metade da masculina. Comparando apenas a diferença entre salários, nós ficamos lá embaixo da tabela, na 124ª posição.
Já nos itens “saúde” e 'educação”, o Fórum Econômico Mundial colocou o Brasil ao lado de outras nações desenvolvidas como absoluta igualdade de gênero.
Em geral, o relatório classificou a Islândia como o país mais "igual" do mundo, seguido de perto pela Finlândia, Noruega e Suécia. No outro extremo da escala, o Iêmen é o país menos igual, à frente do Paquistão e do Chade.
Os autores do estudo disseram que, na média global de 2014, mais de 96% da diferença de de saúde, 94% da diferença de escolaridade e 60% da diferença na participação econômica haviam sido superadas desde o primeiro gênero relatório, publicado em 2006. Mas o painel de especialistas advertiu: "nenhum país no mundo alcançou a plena igualdade de gênero."
De acordo com o relatório, vai levar 81 anos para a diferença de gênero em todo o mundo ser superada, se o progresso mantiver o ritmo atual. "O relatório continua a destacar a forte correlação entre a diferença de género de um país e seu desempenho econômico", escreveram eles.
"Como as mulheres representam metade da base potencial de talentos de um país, a competitividade de uma nação a longo prazo depende significativamente de como se educa e se utiliza a mão de obra feminia."
Confira os primeiros 20 países do ranking:
Islândia
Finlândia
Noruega
Suécia
Dinamarca
Nicarágua
Ruanda
Irlanda
Filipinas
Bélgica
Suíça
Alemanha
nova Zelândia
Holanda
Látvia
França
Burundi
África do Sul
Canadá
Estados Unidos

Cuáles son los abusos que sufren los adultos en redes sociales



Hombre le grita a pantalla de computadora
El 73% de los adultos usuarios de internet en EE.UU. dijo haber presenciado una situación de abuso.
Los padres de adolescentes se enfrentan en estos tiempos con un problema que hasta hace poco más de una década no existía: el riesgo del abuso o acoso en redes sociales, foros y otros ámbitos de interacción que nacieron con internet.
Pero un reciente estudio advierte que además de preocuparse por sus hijos deben saber que ellos mismos también pueden convertirse en víctimas.
Un 40% de los adultos de Estados Unidos ha sufrido algún tipo de hostigamiento o acoso en internet, de acuerdo con un trabajo del Proyecto de Internet del instituto de investigación Pew.
La encuesta de Pew, sobre 3.217 personas, arroja otro resultado que revela la extensión del problema: 73% de los adultos usuarios de internet han sido testigos de alguien sufriendo abuso en línea.
Y también muestra que los perpetradores suelen ser personas desconocidas para las víctimas.
El estudio da cuenta de seis tipos de abuso, que suelen darse principalmente -aunque no exclusivamente- en redes sociales.
  • Insultos - los sufre el 27% de adultos usuarios de internet, según Pew
  • Intentos intencionados de avergonzar - 22%
  • Amenazas de violencia física - 8%
  • Acoso/ acecho en línea - 8%
  • Acoso sostenido en el tiempo - 7%
  • Acoso sexual - 6%
Los insultos o agresiones verbales son el tipo más común de estas agresiones.
De hecho, suele bastar con recorrer la sección de comentarios de algunos espacios de la web (medios, redes sociales) para encontrar a alguien insultando a otra persona.
Pero los diferentes tipos de abusos suelen solaparse.
Es así en el ámbito de los videojuegos en línea, donde es persistente el acoso sexual hacia las mujeres, un comportamiento que suele venir acompañado por insultos y otro tipo de agresiones.

"Te voy a encontrar"

También se dieron en conjunto en un caso que tuvo lugar en Reino Unido en 2013.
Caroline Criado-Perez
Criado-Perez recibió amenazas de violación en Twitter.
Caroline Criado-Perez, una activista que promovía el uso de figuras femeninas en los billetes de libras esterlinas recibió una catarata de abuso en Twitter en julio de 2013.
En enero pasado dos personas, una mujer de 23 años y un hombre de 25, fueron a prisión por escribir los mensajes, que incluían insultos y amenazas.
Criado-Perez dijo sentirse aliviada de ver que la justicia había entendido el impacto que el abuso le había causado.
Uno de los mensajes que recibió le decía que se "calle" y hacía referencias abusos sexuales, para luego amenazar con un "te voy a encontrar".
Este caso también podría catalogarse como de acoso o acecho en línea y hostigamiento sostenido en el tiempo, por la insistencia de los mensajes.

La hija de Robin Williams

Es un tipo de agresión al que suelen estar sometidas más las mujeres que los hombres.
Otro caso reciente de hostigamiento ocurrió a poco de conocerse la noticia del suicidio del actor Robin Williams en agosto pasado.
Su hija Zelda, de 25 años, comenzó a recibir mensajes ofensivos a través de Twitter, que incluyeron imágenes retocadas que sugerían ser el cuerpo de su padre.
Ante la seguidilla de comentarios agresivos Zelda Williams decidió borrar su cuenta de Twitter, aunque luego la volvió a abrir.
Williams está dentro del rango de edad de personas más vulnerables a recibir abuso en línea, según el estudio de Pew: los adultos jóvenes, principalmente mujeres, de entre 18 y 29 años.

La respuesta

La autora del estudio de Pew, Maeve Duggan, dijo que le resultaba "impactante ver cuántas variedades de acoso afectan a diferentes grupos en plataformas diversas y el tipo de reacciones que el acoso en línea genera".
Lo que hizo Zelda Williams es lo menos habitual, según la investigación.
La mayoría simplemente ignora las agresiones.