3 de novembro de 2016

Brasil teve a maior piora em índice que mede 'bem-estar' de jovem na escola

Douglas Khal/Lente Quente
Estudantes mostram cartazes confeccionados durante ocupação (Douglas Khal/Lente Quente)
Estudantes mostram cartazes confeccionados durante ocupação
A preocupação sobre que tipo de formação educacional deve ser oferecida aos jovens não é exclusividade do Brasil.
Ficou claro –e isso não é de hoje– que currículos tradicionais, com grades fixas de disciplinas e foco exclusivo na absorção de conteúdo não atendem às necessidades de um mundo de rápidas transformações tecnológicas. Já virou clichê dizer que o principal desafio da escola hoje é ensinar o aluno "a aprender a aprender".
O que muda de um país para outro é a urgência necessária das mudanças e, nesse quesito, o Brasil infelizmente se destaca.
Além do fraco desempenho em exames de aprendizagem, os sentimentos de afastamento e frustração do jovem brasileiro em relação às suas escolas aumentam a um ritmo muito rápido.
A OCDE, instituição responsável pelo exame internacional PISA, calcula um índice que tenta medir o bem-estar dos alunos de 15 anos no ambiente escolar.
Entre 2003 e 2012, o Brasil teve a maior deterioração nessa medida entre os 38 países para os quais há números para o período.
Houve piora em todos os aspectos pesquisados (facilidade em fazer amigos, sentimento de solidão e de "não pertencimento").
O Brasil também teve uma das maiores quedas (a quarta mais expressiva) em outro índice que tenta traduzir como os jovens avaliam a importância da escola em suas vidas.
O percentual de estudantes que discordavam da afirmação "a escola foi uma perda de tempo" caiu, por exemplo, de 97,7% para 92,2% no período.
A OCDE tem tentado medir o impacto desse tipo de sentimento dos alunos em sua aprendizagem. Não encontrou uma relação alta de causa e consequência entre esses dois índices e o desempenho dos alunos em matemática.
Mas a instituição continua preocupada em monitorar essas tendências. Isso se justifica, entre outros fatores, porque o nível de envolvimento do aluno ajuda a prever a tendência ao absenteísmo, um indicador importante do risco de evasão, que, no caso do Brasil, é muito elevada.
Segundo o movimento "Todos pela Educação", 1,7 milhão de jovens brasileiros de 15 a 17 anos (o equivalente a 17% do total) está fora da escola.
O que será que eles pensam sobre a medida provisória de reforma do ensino médio apresentada pelo governo Michel Temer, que busca melhorar a aprendizagem e tornar o ensino mais atraente?
Alunos que ocupam centenas de escolas no país se opõem à proposta. Será que essa posição representa a visão da maioria dos jovens brasileiros ou não? O que defendem exatamente esses estudantes que protestam?
O projeto do governo prevê maior flexibilidade dos alunos para escolher as áreas em que querem se aprofundar e a ampliação do ensino integral. São caminhos vistos como desejáveis por muitos especialistas.
Mas falta entender melhor a opinião dos jovens brasileiros –principalmente daqueles que desistiram da escola– sobre essas mudanças e sobre seus anseios de forma geral. Sem ouvi-los, qualquer reforma corre o risco de afastar esses adolescentes ainda mais da educação, comprometendo seu futuro e, consequentemente, o de todo o país. 


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