9 de novembro de 2016

Como formar os melhores professores do mundo, érica fraga


Apu Gomes/Folhapress
Alunos em sala de aula de colégio estadual na zona leste de São Paulo
Alunos em sala de aula de colégio estadual na zona leste de São Paulo
"Um professor finlandês recebeu o mais alto nível de educação do mundo".
Essa frase abria um anúncio do sindicato dos docentes da Finlândia no fim da década de 1980.
Nessa época, o país europeu, uma superpotência educacional, havia passado por uma reforma dura no regime de formação de seus professores, que envolveu o fechamento de instituições de ensino de má qualidade e a concentração dos cursos em universidades de primeiro nível.
Essas histórias são contadas pela jornalista americana Amanda Ripley no ótimo livro "As crianças mais inteligentes do mundo" sobre as trajetórias dos sistemas educacionais finlandês, sul coreano e polonês.
A Finlândia estabeleceu como meta ter professores com excelente qualificação. Segundo Ripley, todos os docentes finlandeses se formam entre os 30% com maior desempenho em suas turmas de ensino médio. Isso explica as propagandas alardeando a qualidade dos docentes do país.
E as consequências são enorme respeito pela profissão, remuneração próxima à de outras carreiras de ensino superior e excelente aprendizagem dos alunos.
Há muitas lições dessa história para o Brasil.
Ao contrário do que ocorre na Finlândia, nossos professores não são alvo de grande prestígio nem tem remuneração que possa ser considerada boa, embora os salários tenham melhorado nos últimos anos.
Isso faz com que a carreira seja pouco atrativa para os estudantes de melhor desempenho na escola e cria uma espécie de círculo vicioso que afeta, negativamente, a aprendizagem.
Uma análise feita pelo economista Geraldo Andrade da Silva Filho para o Inep (instituto ligado ao Ministério da Educação) mostra que, em 2013, 45% dos ingressantes em cursos de Pedagogia no Brasil vinham do grupo de alunos com as notas 25% mais baixas no Enem. E apenas ínfimos 0,5% eram oriundos dos 10% com melhor desempenho no exame.
Uma tendência interessante apontada pelo especialista é que, nos municípios afetados pela lei de 2008 que estabeleceu um piso salarial nacional para professores em início de carreira, há indícios de que a qualidade dos alunos novatos em Pedagogia melhorou, entre 2010 e 2013.
A fatia de ingressantes com as piores notas caiu, embora a minúscula parcela dos estudantes com excelente desempenho no Enem não tenha se alterado.
É importante persistir no caminho da valorização dos professores para que a busca pela profissão por alunos mais qualificados dê saltos significativos.
Mas, para atrair bons estudantes, também é necessário tornar os cursos de Pedagogia e Licenciatura mais interessantes e práticos.
Na Finlândia, a formação dos aspirantes a professores inclui um ano (de um total de seis) de treinamento em sala de aula.
No Brasil, sabe-se que os cursos destinados aos futuros docentes são excessivamente teóricos. Segundo levantamento da pesquisadora Bernadete Gatti, somente 7,5% das disciplinas dos cursos presenciais de Pedagogia são destinadas ao conteúdo do que será ensinado em sala de aula.
Além da valorização da carreira e da reformulação de currículos, é preciso ainda monitorar com atenção redobrada a qualidade dos cursos destinados à formação de professores, principalmente com a forte expansão das matriculas em modalidades de ensino à distância nessa área nos últimos anos.
São tarefas árduas –mais ainda em tempos de recessão e cortes de gastos públicos–, porém urgentes. 

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