29 de novembro de 2016

Estudo não aumenta eficiência do trabalho no Brasil, diz pesquisa



O avanço da escolaridade no país nas últimas décadas não foi acompanhado do aumento esperado de eficiência do trabalhador brasileiro.
A experiência internacional mostra que, à medida que acumulam mais anos de estudo, os profissionais de uma nação, normalmente, se tornam mais produtivos, contribuindo, com isso, para o crescimento da economia.
Dados preliminares de uma pesquisa feita por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, revelam que isso não parece estar ocorrendo no Brasil.
Entre 1980 e 2010, cada ano a mais de estudo no país foi seguido de um aumento extra de produção de apenas US$ 200 por trabalhador.
O número é irrisório se comparado ao que ocorreu em outros países. Cada ano a mais de escolaridade foi acompanhado de uma expansão de US$ 3.000 de produção por trabalhador no Chile e de US$ 6.800 na Coreia do Sul.
De acordo com Paes de Barros, é possível que a qualidade e o conteúdo do ensino nas escolas brasileiras expliquem por que o país tem sido um ponto fora da curva.
"Pode ser que esse aumento de educação não tenha significado econômico, por isso tenha muito pouco impacto sobre a produtividade", diz.
MENORES GANHOS
A piora na qualidade da educação no Brasil também pode ser uma das causas da rápida queda do ganho extra de renda que os trabalhadores conseguem ao aumentar sua escolaridade. Em 2004, cada ano a mais de estudo resultava em um salário 9,6% maior no país. Em 2014, esse retorno caiu para 7,2%.
Outro fator que contribuiu para essa redução, segundo Paes de Barros, foi o aumento do salário mínimo, que elevou a renda do trabalhador pouco escolarizado.
Uma terceira explicação para a queda do prêmio salarial foi a expansão da demanda da nova classe média por serviços menos qualificados, nos últimos anos.
"Nós nos tornamos uma economia intensiva em mão de obra pouco qualificada. Isso tem a ver com o tipo de estrutura de demanda que a economia brasileira gerou."
Embora esse movimento tenha contribuído para a redução da desigualdade de renda, ele também pode estar afastando o jovem brasileiro da escola: "Isso não ajuda a incentivar as pessoas a estudar mais".
EVASÃO ESCOLAR
Um dos principais focos da pesquisa conduzida pelo economista —que tem apoio do Instituto Ayrton Senna, do Insper, da Fundação Brava e do Instituto Unibanco— é entender as causas da elevada evasão escolar no Brasil.
O estudo mostra que, a cada ano, mais de um quarto dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos tem um dos seguintes destinos: nem se matriculam na escola (15%); abandonam os estudos (7%) ou são reprovados por falta (4%).
A meta oficial do governo de universalizar o acesso dessa faixa etária à escola até 2016 não foi cumprida.
Segundo dados divulgados na semana passada pelo IBGE, a parcela de jovens de 15 a 17 anos na escola chegou a 85% em 2015. Esse percentual tem aumentado em ritmo lento nos últimos anos. E os prognósticos de evolução não são positivos.
Pelas contas de Paes de Barros e sua equipe, o Brasil precisaria avançar a um ritmo 23 vezes maior que o atual para universalizar o acesso de jovens de 15 a 17 anos à escola em uma década.
Segundo o economista, o objetivo da pesquisa é ajudar os gestores educacionais a entender as causas do baixo engajamento do jovem com a escola e, com isso, adotar as medidas cabíveis.
No estudo, Paes de Barros e seus coautores explicam que há três grandes causas para o afastamento entre o jovem brasileiro e a escola.
O primeiro grupo de fatores está ligado a problemas como pobreza extrema, distância grande entre o domicílio do jovem e a escola e gravidez precoce.
O segundo motivo é o que eles chamam de "falta de interesse informada" do jovem pela educação formal. "Isso tem muito a ver, por exemplo, com a falta de flexibilidade do currículo do ensino médio", afirma o economista.
Por último, há o caso de jovens que têm pouco interesse pela escola por falta de informação adequada. 

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