28 de novembro de 2016

Escola do século 19 precisa se adaptar a alunos do século 21

SABINE RIGHETTICOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se fosse possível voltar ao século 19, encontraríamos uma sociedade muito diferente da atual, com transporte animal, urbanização limitada e poucos recursos médicos. Algo, no entanto, estaria praticamente igual aos dias de hoje: a escola. As instituições de ensino que conhecemos -com sala de aula, lousa, alunos enfileirados, professor e livro didático– surgiram no século 19.
“Naquela época, a ideia da nova disposição de alunos e do uso de recursos como a lousa era viabilizar o ensino simultâneo de um grupo de alunos”, diz Daniel Chiozzini, da PUC-SP, especialista em história da educação.
Até então, a educação era restrita a certos grupos e baseada na memorização.
Hoje, as escolas que inovam são aquelas que fazem algo diferente desse modelo, seja do ponto de vista pedagógico, didático ou mesmo arquitetônico -por exemplo, em uma nova disposição dos alunos na sala.
De acordo com Paulo Blikstein, especialista em educação e inovação da Universidade de Stanford, nos EUA, uma das fronteiras da inovação da atualidade é o aprendizado por projetos -e não por disciplinas.
Os alunos são convidados a responder uma pergunta, por exemplo de sua comunidade, e têm de desenvolver uma solução em grupo -o que, de quebra, trabalha os chamados “aspectos não cognitivos” do aprendizado (como a capacidade de se expressar, de resolver conflitos no grupo e de ser resiliente).

antesdepois
LOUSA EM GIZ
Modelo de aula expositiva com giz surgiu no século 19
ALUNOS EM FILEIRAS
Assistem aula de maneira passiva em modelo que lembra uma igreja: professor fala, alunos ouvem em silêncio
CONTEÚDO SEGREGADO Trabalhar conteúdo por meio de aulas expositivas oferecidas de maneira segregada (como física, química e biologia)

No Brasil, escolas inovam trabalhando com os alunos em grupos e sem provas.
Há casos até em que as salas de aula foram extintas, como na escola municipal Campos Salles, em Heliópolis (zona Sul da cidade). Lá, o aprendizado acontece em grupos, em um único espaço de estudos, com conteúdo escolhido pelos alunos. Não há provas.
Quem também trabalha sem avaliações -e até sem séries– é o projeto Âncora, na Grande São Paulo.
Já o tradicional colégio paulistano Bandeirantes oferecerá em 2017 aulas de laboratório de física, química, biologia e artes de maneira conjunta em uma mesma disciplina -com vários docentes.
Se der certo, a proposta será considerada inovadora.
Isso porque, para ser uma “inovação” de fato, dizem os especialistas em educação ouvidos pela Folha, as mudanças nas escolas têm de impactar o comportamento dos gestores, dos professores e dos alunos em termos de aprendizado, ou seja, elas têm de ser eficientes.
“Inovação na escola pode ser medida por mais motivação dos alunos para o estudo e melhores desempenhos”, diz Fernando Abrucio, especialista em políticas públicas de educação da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.
Trocando em miúdos: uma escola que altera sua lógica e consegue engajar alunos e melhorar resultados em exames pode ser considerada uma instituição inovadora.
“Trata-se de criar e implementar, com sucesso, novas ferramentas, metodologias ou modelos”, diz Rafael Parente, fundador do Labi (Laboratório de Inovação Educacional), ONG que desenvolve estudos na área.
Para Chiozzini, da PUC-SP, é importante não restringir a inovação na educação apenas a aspectos tecnológicos -caso, por exemplo, de instalação de lousa digital.
Inovação tecnológica sozinha não melhora os resultados na educação.
“Se usarmos a tecnologia apenas para fazer o que sempre fizemos, será decepcionante”, diz Richard Culatta, especialista dos EUA em inovação na educação do governo Barack Obama.

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