Jeremy Adelman acaba de publicar uma fascinante biografia do economista Albert Hirschman, que morreu em dezembro, aos 97 anos.
Hirschman foi professor no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, instituição independente criada em 1930 pelo filantropo Louis Bamberger e sua irmã, Caroline Bamberger Fuld, para permitir que acadêmicos elaborassem suas ideias sem obrigações letivas.
Albert Einstein era membro do instituto. Um dos diretores da instituição foi o físico Robert Oppenheimer, diretor do Projeto Manhattan, que produziu a primeira bomba atômica. Oppenheimer se opunha à bomba de hidrogênio e acabou perseguido durante a histeria anticomunista promovida pelo senador Joseph McCarthy nos anos 50. Foi diretor do instituto até 1966. Morreu no ano seguinte, de câncer.
De 1972 a 1975, fui membro do instituto. Carl Kaysen, o sucessor de Oppenheimer como diretor, tentou em 1972 apontar o sociólogo Robert Bellah, da Universidade da Califórnia, para a instituição. Isso atraiu a oposição feroz de alguns matemáticos do instituto. Bellah havia sido comunista na época em que era aluno da Universidade Harvard, entre 1947 e 1949, quando deixou o partido. Mais tarde, foi vítima da era McCarthy. Culpava McGeorge Bundy, diretor de artes e ciências em Harvard de 1954 a 1957, que insistiu para que denunciasse ex-companheiros, o que Bellah se negou a fazer.
Kaysen havia sido assistente de Bundy no Conselho de Segurança Nacional no governo John Kennedy. Bundy então presidia a Fundação Ford. Tragicamente, Tammy, a filha de Bellah, cometeu suicídio em Berkeley em 1973, quando ele visitava o instituto.
Hirschman raramente falava de seu passado. Adelman revela os detalhes. Nascido em Berlim, em 1915, filho de uma família judia de classe média alta, deixou a Alemanha em 1933, ingressou no POUM -grupo anarquista em Barcelona- durante a Guerra Civil Espanhola e, no processo, perdeu qualquer simpatia pela União Soviética. Em 1939, alistou-se no exército francês. Em 1940, de Lisboa, ajudou Marc Chagall, Marcel Duchamp e Hannah Arendt, entre outros judeus, a escapar dos nazistas. Depois, trabalhou nos Estados Unidos para a OSS, a organização que precedeu a CIA.
Após a guerra, Hirschman foi tradutor no primeiro tribunal de crimes de guerra na Alemanha. Mais tarde se tornou funcionário do Federal Reserve e trabalhou no Plano Marshall. Passou alguns anos na América do Sul trabalhando para o governo da Colômbia. Depois, tornou-se professor em Harvard. Hirschman era um candidato muito mais difícil de rejeitar e, em 1973, Kaysen o apontou com sucesso para se unir ao antropólogo Clifford Geertz na nova escola de ciências sociais do instituto.
Folha de S.Paulo, 28/3/2013
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