O papa Francisco é o primeiro pontífice latino-americano. Também é o primeiro jesuíta a se tornar papa. Os jesuítas têm uma longa história no Brasil, da qual certamente não se esqueceram.
Durante o século 18, foi do Brasil que os jesuítas primeiro foram expulsos. A fronteira entre o Brasil e o que viria a ser a Argentina era um dos pontos-chave do conflito que opunha os jesuítas às coroas de Portugal e da Espanha.
O Tratado de Madri, em 1750, foi o primeiro acordo negociado entre as duas potências ibéricas sobre fronteiras terrestres na América do Sul. As reivindicações portuguesas quanto à fronteira no interior do continente foram atendidas. Em troca, Portugal cedeu à Espanha a Colônia do Sacramento, na margem norte do rio da Prata.
Antes controlada pela Es-panha, a terra das sete missões jesuíticas se tornaria domínio português. O tratado previa a evacuação das missões dos jesuítas no Uruguai e de seus convertidos guaranis, bem como de mais de 1 milhão de cabeças de gado, para o lado oposto do rio Uruguai. Os jesuítas se opuseram a isso, e as missões jesuíticas recorreram às armas. Uma força militar conjunta de portugueses e espanhóis foi enviada para derrotá-las.
Pombal, principal ministro em Lisboa, e seu irmão, governador do Pará, também estavam em conflito com as missões jesuíticas no Amazonas. Como no caso dos guaranis, ao sul, na Amazônia Pombal pretendia emancipar os índios e encorajar a miscigenação entre eles e os imigrantes europeus. Isso ia de encontro ao preceito filosófico central da política indígena protecionista dos jesuítas. Pombal tinha, porém, o apoio dos colonos brasileiros, com quem os jesuítas há muito estavam em conflito quanto ao acesso à mão de obra indígena.
O terremoto de Lisboa, em 1755, agravou a situação. Em 1758, uma tentativa frustrada de assassinato do rei de Portugal ofereceu a Pombal a desculpa de que precisava para reprimir a oposição jesuítica e aristocrática. Em 1761, o jesuíta Gabriel Malagrida foi acusado de cumplicidade e sentenciado pela Inquisição. Foi a última pessoa a ser queimada na estaca em Lisboa.
Pombal promoveu uma virulenta campanha contra os jesuítas em toda a Europa católica. Em 1773, o papa Clemente 14, da ordem franciscana, suspendeu a ordem jesuítica. Quando ele morreu inesperadamente, no ano seguinte, correram boatos de que alguém havia envenenado seu chocolate quente.
O papa Francisco conhece a história dos jesuítas -e o mesmo vale para os cardeais que o elegeram. Alguns deles brincaram dizendo que o novo pontífice deveria assumir o nome de Clemente 15.
Folha de S.Paulo, 21/3/2013
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