Não há como o usuário deixar o Facebook sem sofrer consequências. Ele não tem alternativas. Ou aceita as regras ou cai no ostracismo on-line
Um monopólio não é determinado pela essencialidade do produto monopolizado, mas pela ausência de alternativa viável.A Microsoft, por exemplo, foi multada pela Comissão Europeia em meio bilhão de euros em 2004 por formação de monopólio não porque seus produtos eram essenciais, mas porque dominavam o mercado.
Tradicionalmente, monopólios surgem por imposição legal, restrição de acesso a matéria-prima, propriedade intelectual, ou processo de fabricação.
O Facebook não é essencial, mas é um novo modelo monopolístico, criado pelo somatório de nossas escolhas individuais.
Se a maior parte da comunicação social on-line de massa ocorre por meio de sua plataforma, não há opção exceto utilizá-la. Como um buraco negro, criada a massa crítica, torna-se impossível escapar.
Possíveis alternativas, como Google+, não são verdadeiras alternativas. Uma plataforma de comunicação só é útil se os interlocutores podem ser atingidos por ela. Daí o Facebook ter assumido condição análoga à de um monopólio. E daí surgirem problemas inerentes.
Primeiro, regras de economia de mercado não funcionam em monopólios. Não há como o usuário deixá-lo sem sofrer consequências simplesmente porque não há alternativas viáveis. O usuário não tem poder de barganha: ou aceita as regras ou cai no ostracismo social on-line.
Ademais, o usuário não é o cliente. O cliente são as empresas de marketing. Usuário e suas informações pessoais são o "produto" que o Facebook oferece aos anunciantes. É na capacidade de vender informação do usuário que reside o valor de mercado da empresa, o que gera conflito de interesses.
Terceiro, o grupo de jovens que controla a empresa é também legislador e juiz de padrões morais impostos ao usuário. Em 2011, a empresa excluiu imagens da pintura "Origem do Mundo", de Gustave Courbet, porque mostrava uma vagina. Neste ano, excluiu fotos do Jamurikumalu no Alto Xingu porque havia índias nuas. E nos últimos dias, excluiu fotos de manifestantes nus.
Não se trata aqui se tais jovens têm problemas em lidar com a própria sexualidade, mas que impõem seus padrões de moralidade a milhões de usuários. Proíbe-os de ler ou ver aquilo que não ofende o usuário, mas ofende quem comanda a empresa. Vale lembrar: quem viu tais fotos optou por seguir determinada página ou usuário.
Por fim, suas decisões não passam por um processo transparente. O usuário não tem chance de explicar-se, defender-se ou recorrer. Nem sequer sabe como ou por quem a decisão é tomada. Tampouco sabe que está sendo julgado. É apenas informado de sua condenação.
É como se, certo dia, você acordasse e descobrisse que alguém (sabe-se lá quem) decidiu que você não pode mais telefonar ou receber cartas.
Fosse um país, o Facebook não seria apenas o terceiro maior do planeta: sua conduta seria equiparável à da Coreia do Norte.
Não fosse um monopólio, o usuário se socorreria na competição. Mas, sendo-o, cabe ao legislador controlar e limitar a conduta da empresa em relação a seus usuários.
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