22 de agosto de 2011

A diversificação da base econômica de Brasília


22 de agosto de 2011
Educação e Ciências | O Estado de S. Paulo | Economia | BR

Paulo R. Haddad - O Estado de S.Paulo

Quando Brasília foi construída, esperava-se que sua população total não ultrapassasse de 500 mil a 600 mil habitantes em 2000. O Censo Demográfico do IBGE em 2000 já indicava que essa população superava os 2 milhões de habitantes. Ela estava, em 2010, acima dos 2,5 milhões de habitantes, caminhando para um número em torno de 3 milhões de habitantes em 2020.
Mesmo supondo que os fluxos imigratórios para Brasília fossem iguais a zero ao longo dos próximos anos, o próprio crescimento da sua atual força de trabalho exigiria a geração de dezenas de milhares de empregos para absorver os novos entrantes nos diferentes mercados de trabalho na capital e no seu entorno.
A principal base econômica de Brasília é formada pela administração pública federal, e outras atividades relevantes como construção civil, comércio varejista e demais serviços são induzidas predominantemente pela dinâmica de expansão da base econômica. Não é possível esperar que essa base continue a crescer para gerar efeitos multiplicadores sobre as compras locais de bens e serviços capazes de absorver os novos e crescentes demandantes de emprego, uma vez que o setor público federal se encontra restringido por um regime de ajuste fiscal.
É preciso, pois, diversificar a base econômica de Brasília visando a criar novos focos de dinamismo para sua economia, sob pena de se ver, de um lado, um grande número de famílias cada vez mais dependentes das políticas sociais compensatórias e, do outro lado, a formação de um estrato significativo de jovens desempregados com elevada propensão à marginalidade social. Uma proposta como essa ainda encontra fortes resistências entre muitos formadores de opinião arraigados em Brasília, que sonham com uma cidade restrita às funções administrativas federais na hierarquia urbana do País, como ocorre com as capitais de muitos países. Bonn, por exemplo, que foi capital da República Federal alemã entre 1949 e 1989, tem atualmente pouco mais de 300 mil habitantes.
A identificação, a promoção e a consolidação de novas atividades econômicas básicas que possam gerar alternativas de desenvolvimento sustentável para Brasília não se limitam à produção de um estudo "de fora para dentro" elaborado por especialistas e posto à disposição das lideranças políticas e comunitárias locais. Ao contrário, trata-se de um processo de "autodescoberta" em que essas lideranças vão, ao longo do tempo da história do município e de sua área de influência, delimitando, por meio de iniciativas empreendedoras próprias, as "vocações definidas" locais e microrregionais.
A estratégia de promoção de novas bases para o sistema de geração de renda e de emprego em Brasília deve levar em consideração o tipo de investimento que, em princípio, seja capaz de influenciar de forma efetiva o seu processo de desenvolvimento econômico e social. Há projetos de investimento estruturantes que são capazes de atrair outros novos investimentos em razão das compras e vendas intersetoriais que realizam. Há projetos de investimentos aglomerativos em indústrias/setores que, em condições favoráveis (incentivos, infraestrutura econômica e social desenvolvida no município ou microrregião, acesso a financiamentos, etc.), atraem novos investimentos de uma mesma indústria, denominada de polo industrial, como, por exemplo, a indústria moveleira, a calçadista, confecções, etc.
Há, também, os projetos de investimentos agrupados que são formados por investimentos isolados, mas que, para se concretizarem, exigem vários outros investimentos complementares, tais como a existência de externalidades e de indústrias e atividades de prestação de serviços especializados.
Ao longo do tempo, há inúmeras vocações definidas por empreendedores de Brasília que evidenciam elevado grau de competitividade sistêmica, conforme estudos realizados pelo Sebrae, pelo governo do Distrito Federal (DF), por associações empresariais do DF, universidades, etc. Citam-se alguns exemplos dessas vocações definidas cujas potencialidades estão à espera de um processo de planejamento de médio e de longo prazos para serem devidamente mobilizadas como novos focos de dinamismo econômico: agricultura orgânica; a cadeia produtiva de tecnologia de informação e comunicação; a floricultura empresarial; o segmento de móveis de design; o turismo cívico ou de eventos; a indústria de vestuário profissional; etc.
Como destaca Michael Porter, os fundamentos da competitividade moderna estão no desenvolvimento científico e tecnológico incorporado nas organizações públicas e privadas. Nesse sentido, a sustentabilidade de uma base econômica tem muito mais que ver com a qualidade do capital humano e intelectual que comanda cada uma das suas atividades do que com eventos efêmeros de natureza macroeconômica (apreciação ou desvalorização cambial) ou de políticas regionais (sistemas de incentivos em regime de guerra fiscal), que podem gerar competitividades espúrias.
Não há, pois, como negar que em Brasília há uma megaconcentração de capital humano e capital institucional que formam os potenciais locacionais mais expressivos para a diversificação de sua estrutura produtiva.
PROFESSOR DO IBMEC/MG, FOI MINISTRO DO PLANEJAMENTO E DA FAZENDA DO GOVERNO ITAMAR FRANCO

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