22 de agosto de 2011

Em seminário internacional, especialistas defendem currículo mais preciso de matemática e formação específica para professores


22 de agosto de 2011
Educação e Ciências | Folha de S. Paulo | Saber | BR
 Melhor que calculadora




ANTÔNIO GOIS
DO RIO
Um currículo preciso, com foco e coerente, além de um professor bem preparado, que domine os conceitos daquilo que ensina. Esta é a receita de especialistas para fazer as crianças aprenderem matemática desde cedo.
Ela é baseada não em idiossincrasias, mas em evidências de países que obtêm melhores resultados em testes internacionais.
Ainda que pareça óbvia ou consensual, os mesmos pesquisadores que a defendem sabem o quanto é difícil colocá-la em prática em sistemas educacionais acostumados com outros modelos.
Na semana passada, em seminário internacional sobre o ensino de matemática nas séries iniciais do ensino fundamental realizado pelo Instituto Alfa e Beto no Rio, pesquisadores apresentaram seus mais recentes estudos.
William Schmidt, da Universidade do Estado de Michigan, nos EUA, é quem defende a tese do currículo preciso e coerente, e baseia-se na estrutura usada em países com bom desempenho em matemática nas provas internacionais como o Pisa.
Nos dois anos iniciais do ensino fundamental, em nações como Cingapura, Japão e Coreia do Sul, o currículo concentra-se no ensino de operações e conceitos básicos, como explicar o significado de números inteiros e unidades de medida.
Uma vez que tais conceitos são bem assimilados, parte-se, nas séries seguintes, para tópicos mais avançados, como frações e medidas de área e volume, por exemplo.
Há, portanto, clareza e nexo no que deve ser ensinado e aprendido, respeitando a lógica cumulativa de que, para aprender um conteúdo mais complexo em matemática, é preciso já dominar conceitos fundamentais.
"As evidências mostram que, quanto mais tópicos você tenta ensinar no currículo, pior é a performance do país", explica Schmidt.
Esses países também têm, além de currículo mais preciso, expectativas claras sobre o nível que as crianças devem atingir em cada série.
Em países em que essa centralização do programa de matemática nas séries iniciais não é tão forte -caso do Brasil e dos EUA- , o conteúdo ensinado em cada etapa varia mais de acordo com escolhas individuais dos professores. Como resultado, diz Schmidt, crianças mais ricas acabam tendo um currículo mais avançado do que as mais pobres.
MAIS CONCEITOS Uma dificuldade apontada por ele para mudar o ensino de matemática é que os professores tendem a reproduzir em sala de aula estratégias utilizadas pelos seus mestres para ensiná-los quando crianças.
É por isso que o pesquisador da Universidade da Califórnia Hung-Hsi Wu, também presente no seminário, defende outra mudança nos currículos -desta vez, no das faculdades de educação.
Para ele, o maior erro é continuar acreditando que ensinar nos primeiros anos é algo simples. "Não basta mais ensinar as quatro operações para essa geração. As calculadoras fazem isso com mais eficiência. É preciso ter domínio dos conceitos e da teoria", diz o pesquisador.
Wu dá cursos para professores nos EUA e conta que é considerado exigente: "O problema que percebo não é a falta de teoria pedagógica para dar aulas. Falta é conhecimento da matemática".
O pesquisador da Universidade da Califórnia defende que, já no início do ensino fundamental, haja um professor específico da disciplina. Wu, no entanto, não critica apenas a falta de preparo dos docentes.
Para ele, seus colegas de academia também têm feito muito pouco. "Os especialistas em educação pouco se interessam pelos problemas da sala de aula." |

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