22 de agosto de 2011

Para dar certo, os sistemas educacionais devem esperar o melhor de todos os alunos, sem diferenças


22 de agosto de 2011
Educação e Ciências | Folha de S. Paulo 


A "maldição das expectativas"
Fernando veloso
NO ÚLTIMO ARTIGO, mostrei que, apesar do elevado retorno monetário em concluir o ensino médio no Brasil, as taxas de matrícula e conclusão são baixas nesse nível.
Uma possibilidade é que os jovens de famílias menos favorecidas tenham baixas expectativas de concluir o ensino médio. Isso, por sua vez, os levaria a abandonar precocemente os estudos.
Em livro recém-lançado, "Poor Economics: A Radical Rethinking of the Way to Fight Global Poverty", os economistas Abhijit Banerjee e Esther Duflo discutem essa questão.
Os dois pesquisadores dirigem o Poverty Action Lab no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, e têm realizado inúmeras avaliações de experimentos sociais ao redor do mundo.
Nesses experimentos, dois grupos são sorteados. A avaliação é feita comparando-se os resultados do grupo que foi alvo de determinada intervenção (grupo de tratamento) com os do grupo que não sofreu nenhuma (grupo de controle).
A metodologia de avaliações experimentais tem tido enorme repercussão acadêmica e em instituições multilaterais, como o Banco Mundial. No livro, Banerjee e Duflo utilizam lições dos experimentos para construir uma interpretação da pobreza que permita que sejam desenhadas políticas mais eficazes.
Na área de educação, o principal argumento é que os sistemas educacionais de países em desenvolvimento são estruturados de modo a preparar os alunos para os exames altamente seletivos de acesso ao ensino superior.
Segundo os autores, isso leva os professores a concentrarem esforços nos melhores alunos e, seja por falta de iniciativa ou de apoio, a não darem a devida atenção aos estudantes que enfrentam dificuldades.
Por sua vez, os pais e os jovens de famílias menos favorecidas não acreditam que vão conseguir avançar nos estudos. Em função disso, acabam desistindo, o que confirma suas expectativas. Isso caracteriza o que Banerjee e Duflo chamam de "maldição das expectativas".
Sua recomendação é que os sistemas educacionais passem a ter como objetivo principal fornecer habilidades básicas para todas as crianças e os jovens. Para isso, devem oferecer acompanhamento individualizado para os alunos com pior desempenho e criar uma cultura de expectativas elevadas.
Nesse sentido, defendem o modelo "No Excuses", citando os exemplos bem-sucedidos das escolas "charter" do Knowledge is Power Program, da Harlem Children's Zone (ambos nos EUA) e os programas educacionais da Pratham, uma ONG da Índia.
A principal mensagem é que qualquer criança ou jovem é capaz de aprender se todos fizerem o esforço necessário.
FERNANDO VELOSO, 44, é pesquisador do IBRE/ FGV.


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