ANÁLISE |
HÉLIO SCHWARTSMAN ARTICULISTA DA FOLHA Se quiser iniciar uma boa polêmica educacional, tudo o que tem a fazer é afirmar que o número de alunos em sala de aula não afeta o desempenho acadêmico. Pais, professores e pedagogos dirão que você enlouqueceu. Apenas um punhado de economistas o defenderá, oferecendo algumas estatísticas que apoiariam sua tese. A polêmica tem razões psicológicas, ideológicas e metodológicas. Para começar, é difícil ir contra a intuição básica de que, quanto menor for a turma, mais atenção individual. O problema com intuições é que, embora sejam altamente convincentes, nem sempre estão corretas. Em termos ideológicos, o debate é carregado porque, para apoiar a teoria de que os EUA deveriam deixar de colocar mais dinheiro no sistema público de ensino e passar a cobrar resultados, grupos conservadores usaram e abusaram de trabalhos econométricos, o que tornou automaticamente suspeitos todos os economistas que falam sobre educação. A principal dificuldade para estimar o peso real do tamanho da classe, porém, é de ordem metodológica. Não é nada trivial isolar esse fator das demais variáveis. Um exemplo simples: a maioria prefere turmas menores, mas os ricos têm mais sucesso que os pobres em consegui-las para seus filhos; o resultado é que as classes pequenas tendem a ter uma super-representação de ricos, e a condição social é uma das principais variáveis de sucesso escolar. O resultado desse e de muitos outros fatores de confusão é que todos os trabalhos que tentaram medir a influência do tamanho da classe são vulneráveis a críticas. Não obstante, os estudos de melhor qualidade apontam um efeito que vai de pequeno a nulo. O mais favorável à redução das turmas é um trabalho feito no Tenessee nos anos 80, que indicou que o estudante posto numa turma pequena aprende por ano o equivalente a um ou dois meses a mais do que o colega alocado na sala cheia. Na melhor das hipóteses, o tamanho das turmas é um fator difícil de medir. Só isso já significa que ele não é uma bala mágica capaz de resolver os problemas da educação. Pode até ter algum efeito, mas ele provavelmente é bem menor do que o sugerido por nossas intuições e pelo lobby do professorado. No caso do Brasil, há poucos estudos. Um trabalho de Naercio Menezes Filho, do Insper, concluiu que, como o número de horas-aula é tão mais relevante do que o tamanho da classe, valeria a pena juntar mais crianças na turma para que elas passem mais tempo na escola. |
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