22 de agosto de 2011

Plano Nacional de Educação recebe quase 3.000 propostas de emenda no Congresso, as quais ameaçam desvirtuar mérito das metas realistas


22 de agosto de 2011
Educação no Brasil | Folha de S. Paulo | Opinião | BR
 Programa remendado

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Desde pelo menos o fim da ditadura militar um projeto de lei não recebia tantas propostas de emenda parlamentar quanto o Plano Nacional de Educação 2011-2020 (PNE) encaminhado ao Congresso pelo governo, na sua redação original, em dezembro de 2010.
As quase 3.000 alterações propostas ao texto nos últimos meses encontram-se agora à espera do parecer do relator do projeto na Câmara, Angelo Vanhoni (PT-PR). O parlamentar promete entregar nas próximas semanas um documento definitivo para a apreciação de seus colegas.
O PNE representa uma carta de compromissos, sem poder de sanção ou cláusulas coercitivas. Por seu intermédio, busca-se definir as principais metas a serem perseguidas pelo poder público, nesta década, no âmbito da educação.
Entre outros objetivos, o plano prevê alfabetizar todas as crianças até os 8 anos de idade; pré-escola para todas as crianças de 4 e 5 anos; período integral em 50% das escolas públicas; duplicar matrículas de ensino técnico de nível médio; e elevar de 30% para 75% o mínimo de mestres e doutores em instituições de ensino superior.
A mobilização em torno do projeto deve ser saudada como um sinal inequívoco do consenso tardio acerca da importância da educação para a superação de problemas crônicos do país.
É preciso cuidar, no entanto, para que o desejo de cada parlamentar de deixar a sua marca em um projeto de inegável relevância ou a tentativa de conciliar a defesa de uma miríade de interesses particulares não ponham a perder o que havia de positivo no texto.
Em contraste com o plano anterior, que em suas 295 diretrizes falhava na tarefa de identificar prioridades e estabelecer objetivos passíveis de serem acompanhados, o novo projeto se mostrou enxuto e realista. Propõe apenas 20 metas, a maioria quantificáveis e verificáveis. Não se pode permitir que uma enxurrada de emendas torne o PNE menos exequível.
Entre as metas que mais receberam emendas está o item que prevê aumentar o nível de investimento público anual no ensino dos atuais 5% do PIB para 7%, em 2020. Deputados propõem agora elevar esse percentual para 10%.
A proposta é não só fantasiosa como deletéria. Dados o pífio investimento histórico e o ambiente de restrição orçamentária, a meta parece inatingível. O objetivo de 7% já é ousado o bastante. A elevação é o caminho mais curto para tornar o PNE um rol de metas inatingíveis e, daí, irrelevantes.
O melhor que o Congresso tem a fazer é restringir ao máximo as alterações no PNE encaminhado originalmente pelo governo e votá-lo o mais rápido possível.

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