21 de agosto de 2011

Os sonhos engajados da juventude 2.0. Jovens de hoje: Crescei e aparecei!


21 de agosto de 2011
 Correio Braziliense | Revista do Correio | BR
O jovem de hoje quer ser bem-sucedido na profissão e ter seus talentos reconhecidos. Mas, segundo pesquisa, o rótulo de individualista começa a cair por terra. Há uma vontade e uma disposição crescentes de ajudar o outro e fazer um mundo melhor

Sai o mártir, o revolucionário, o contraventor da moral e dos bons costumes. O jovem de hoje começa a ter uma cara. E não é necessariamente aquela delineada pelo espírito saudosista dos anos 1960 e 1970, que imprimia uma feição majoritariamente egocêntrica à geração que fixou o olhar numa tela de computador e passou a desbravar o mundo de dentro do quarto. Rotulada de início como individualista e consumista, a juventude começa a ver e a ser vista também sob outro prisma. A pesquisa O sonho brasileiro, realizada pela empresa de pesquisa comportamental BOX 1824 e divulgada em junho, revelou que a geração nascida na internet também quer mudar o mundo - mas quer fazer isso à sua maneira. Ela pensa no outro, mas sem deixar de mirar sua satisfação pessoal.
Segundo o sociólogo Gabriel Milanez, responsável pelo estudo, a empresa queria ser socialmente responsável e resolveu entregar para a sociedade o que sabia fazer melhor: pesquisas. "Reparamos que a primeira geração de brasileiros globalizados, que cresceram conectados, com mais possibilidades de interferir no mundo, estava agora na faixa etária de 18 a 24 anos e, ao mesmo tempo, o Brasil estava em seu melhor momento tanto internamente quanto externamente. Essa combinação deveria ser interessante, e foi daí que partiu o projeto", conta. Foram feitas 1.784 entrevistas em 173 cidades para mapear esse jovem que, segundo o sociólogo, nasceu em rede, conectado com os problemas do coletivo e mais propenso ao diálogo do que as gerações passadas.
A faixa etária pesquisada não foi arbitrária. Gabriel afirma que esse grupo é o centro primário de influência na sociedade. As pessoas mais novas aspiram ser como esses jovens, ter o que eles já têm, uma liberdade maior e alguma independência financeira. Ao mesmo tempo, os mais velhos não querem ser como eles, mas se inspiram em quem tem entre 18 a 24 anos. "Eles são como antenas para captar o espírito do tempo. Daqui a 20 anos, quando olharmos para trás, nos lembraremos do comportamento dos jovens atuais", explica o sociólogo.
O resultado da pesquisa trouxe algumas surpresas. A maior delas foi a relação dos jovens com a noção de coletivo. "Nos anos 1970, a ideia de sociedade era muito pautada na figura do mártir, que se doava por uma causa e podia até morrer por ela. Hoje, o jovem se preocupa com o coletivo, mas não deixa de pensar em si mesmo. Existe uma interdependência entre o bem-estar individual e o da sociedade", esclarece Gabriel. A socióloga e pesquisadora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais Miriam Abramovay, que estuda a juventude, explica que toda a literatura existente sobre essa geração afirma que ela é individualista e consumista. "O jovem agora quer aparecer, ter destaque na sociedade e ser reconhecido. Quanto mais ele aparece, mais importante é", garante. Ao mesmo tempo, ela não descarta que os jovens podem se importar com o coletivo de forma diferente das gerações passadas. "Ser jovem é querer mudar o mundo, eles podem querer romper com as regras da sociedade contemporânea, mas de uma forma mais individualista."

Outro eixo da pesquisa revela o que os pesquisadores chamam de sonhos possíveis. O jovem de hoje é pragmático, quer o que é viável e o que pode ser vivenciado como degrau para outras metas. "Na época da ditadura, os ideais eram revolucionários, de grandes mudanças no futuro, tudo ia ser radicalmente diferente depois de uma grande revolução. A juventude atual cresceu em um país sem inflação e sem ditadura, então ela projeta desejos possíveis e sabe que se desejar grandes mudanças pode se frustrar", conta Gabriel Milanez.

O trabalho também exerce grande influência nessa geração. Quando perguntados quais eram seus desejos para o futuro, 55% responderam que sonham com formação profissional e emprego. "O que a gente vê por trás disso, que é diferente dos pais, é que esse jovem está valorizando sim o dinheiro, a carreira, a estabilidade, mas a satisfação pessoal é tão importante quanto. Essa não é uma geração do ou, é a geração do e: quer ter estabilidade e fazer o que gosta", explica Gabriel. Ele avalia que, graças a essa nova noção, a definição de sucesso também é transformada. Deixa de ser acúmulo de poder e dinheiro e se foca na estabilidade, na satisfação pessoal e na tentativa de ter relevância social pelo trabalho.
A experiência da socióloga Miriam Abramovay em estudos com os jovens mostra ainda que eles acreditam muito mais em si próprios do que os adultos. "Eles querem ter um lugar no mundo do futuro, ter uma profissão e reconhecimento e acham que vão conseguir. Ao mesmo tempo, são realistas e têm muito medo do desemprego", destaca.

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