5 de novembro de 2011

Desigual e injusto - Zuenir Ventura


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Saber que o Brasil melhorou alguns de seus indicadores sociais deveria ser motivo de comemoração. Ter avançado em itens como expectativa de vida e renda per capita deveria nos deixar orgulhosos. Passamos a viver em média 73,5 anos e não mais 73,1, como no ano passado. E ganhamos US$ 10.162, em lugar dos US$ 9.812 de 2010. Afinal, pulamos para o 84º lugar no ranking de desenvolvimento humano da ONU e alcançamos o grupo “elevado”.

O desânimo vem quando começamos a comparar os números. Em IDH, estamos à frente da China, muito bem, mas atrás da Argentina (45), nosso eterno rival, e de Cuba (51), um país para o qual olhamos com desprezo por causa do atraso político, mas temos que abaixar a cabeça quando se trata de progresso social. Quanto à duração de vida, vive-se no Japão quase dez anos mais do que aqui.

Em matéria de educação então, mola do avanço de qualquer nação, é escandalosa a nossa desvantagem: nossa média dos anos de escolaridade é de 7,2, enquanto em Cuba é de 9,9 e na Noruega, de 12,6.
Parecem absurdas essas contradições, e são. Como um país pujante, que detém a sétima economia do planeta, paraíso da biodiversidade ambiental e cujo protagonismo político no mundo causa admiração pode ser tão assimétrico e irregular? Em Portugal e França, por exemplo, onde estive recentemente, o sonho de muita gente é vir para o Brasil.

Conversei com brasileiros querendo retornar e portugueses querendo se mudar para esse Eldorado visto de longe. O disparate está em todos os níveis. A pesquisa de uma empresa de gestão de negócios indica que um executivo aqui pode ganhar o dobro do que ganha um colega do mesmo nível nos EUA e na Europa, o que vem despertando a cobiça de profissionais estrangeiros. Enquanto isso, o salário de um professor brasileiro é quatro vezes mais baixo do que o de um colega espanhol.

O problema é que somos desiguais não só em relação a outros países, mas também e principalmente entre nós mesmos, onde as distâncias sociais são indecentes.

Em Brasília — só para citar uma cidade nova e planejada — o mundo da riqueza é separado do da miséria por cerca de 20 quilômetros e por alguns séculos de desenvolvimento.

Temos escolas-modelo, mas em outras as crianças desaprendem. Há hospitais exemplares para poucos, como o Sírio Libanês (Lula que o diga), e os públicos, a maioria, que nos mata de vergonha e culpa.
Em suma: mais do que desigual, o Brasil é injusto.

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