12 de novembro de 2011

Todos pela inovação : RAFAEL PARENTE


12 de novembro de 2011
Educação no Brasil | Correio Braziliense | Opinião | BR


Subsecretário de novas tecnologias educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
É difícil prever a dimensão e a complexidade das oportunidades, desafios e mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais que temos à frente. Já somos 7 bilhões de habitantes na Terra, sendo que 1 bilhão passa fome, e em nenhum outro momento da nossa história tanto conhecimento foi gerado e compartilhado. A globalização, a internet e outras tecnologias têm impactado a forma como pensamos, agimos e nos relacionamos. Só em 2010, mais informação foi gerada do que nos 5 mil anos anteriores. Até 2020, a quantidade de informações digitais crescerá 44 vezes. Em 2023, quando os alunos que hoje têm 11 anos estarão começando suas carreiras, eles usarão tablets com mais capacidade computacional do que a de um cérebro humano. Em 2050, os jovens terão no bolso aparelhos móveis com mais capacidade do que a de todos os cérebros do planeta, juntos. Diferentemente de seus pais e avós, os alunos de hoje mudarão de emprego mais de 10 vezes antes dos 40 anos e provavelmente exercerão funções que ainda não foram criadas.
Para exercer essas novas funções com competência, lidar com novas tecnologias na produção ética e responsável de riquezas, navegar funcionalmente em um novo mundo, com a responsabilidade de aproveitar oportunidades e enfrentar desafios, nossas crianças e jovens precisam, hoje, de uma formação excepcional. Eles precisarão ter autoconfiança, adaptar-se em diferentes contextos, construir relacionamentos rapidamente e, virtualmente, utilizar bem sua criatividade nata e empreender. Precisarão compreender suas forças e fraquezas, emocionais e intelectuais, seus direitos e deveres na vida em comunidade e desenvolver suas potencialidades ao máximo. Precisarão ser autônomos e solidários, compreendendo nossos avanços culturais e, ao mesmo tempo, não só tolerando, mas valorizando diferenças.
No entanto, temos algumas fraquezas sérias no nosso país. Por conta de um atraso histórico no nosso desenvolvimento educacional, precisamos melhorar muito a qualidade da nossa educação pública, nosso sistema educacional está completamente ultrapassado e alguns especialistas acreditam que, se focarmos no básico e tornarmos o sistema que está aí mais eficiente, teremos sucesso. Mas isso não será suficiente. Nossas salas de aula se parecem com aquelas de 1890, quando os primeiros sistemas de educação pública foram concebidos para impulsionar a era industrial. Na época, a instituição escola foi planejada como uma fábrica de produzir operários em massa, de forma impessoal, padronizada e estimulando a conformidade.
Esse sistema é completamente incongruente com o tipo de escola e de processo de aprendizagem que precisamos. Cada aluno é único e aprenderá mais e melhor se estiver engajado, interessado e motivado. O processo de educar, de desenvolver competências e habilidades, é, essencialmente e inevitavelmente, pessoal, social, acontece num contexto específico, precisa de tempo para assimilação e requer a construção ativa e a associação de ideias.
Ao contrário da crença comum, também temos ventos que sopram a nosso favor. Educadores e especialistas brasileiros já deram dicas de como podemos transformar a escola que temos naquela que queremos e precisamos. O professor Antônio Carlos Gomes da Costa, por exemplo, sugeriu que devemos inovar em conteúdo, método e gestão e utilizar o que os brasileiros têm de melhor, como a diversidade, a criatividade e o "rebolado", em um novo tipo de "pedagogia bossa nova". A mudança no papel do professor, de conteudista e centralizador para facilitador e arquiteto da aprendizagem, já foi defendida por Paulo Freire e outros.
Temos a consciência de que nossos alunos já são nativos digitais e que as novas tecnologias podem quebrar as barreiras de tempo e espaço e nos auxiliar na implantação de um processo de aprendizagem mais customizado e personalizado para estilos e necessidades individuais. Experimentos importantes estão acontecendo atualmente não só em outros países, mas também em estados e cidades brasileiras.
É nosso dever moral incentivar essas experiências na busca por uma educação pública de qualidade. Não adianta reformar a casa se queremos, de fato, levar nossos alunos a desenvolverem conhecimentos suficientes para viverem confortavelmente num mundo superconectado, de mudanças cada vez maiores e mais constantes. Precisamos experimentar, ousar, reconhecer e responder a padrões emergentes. Precisamos de mudanças de ruptura, de novas formas de pensar e agir. Precisamos de uma educação completamente nova para que nossas crianças e jovens consigam assumir um papel protagonista num mundo totalmente novo.

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