19 de dezembro de 2011
Educação e Ciências | Estado de Minas | Opinião | MG
Rogério Rodrigues - Professor de matemática e estatística do curso de administração da Faculdade Arnaldo
Em face das visíveis mudanças no universo escolar nos dias de hoje, algumas questões vitais desfilam à frente dos educadores, provocando um incômodo constante. A questão-síntese de todo o questionário: O que aconteceu com a escola?. Enquanto muitos buscavam um caminho para sair da escola tradicional, simplesmente renegando todos os seus atributos, inclusive os louváveis, a relevância da instituição, no foco de seus personagens , foi se relativizando, diluiu-se, escorrendo entre os dedos.
Nos anos 60, particularmente nas cidades do interior, depois do pároco, quem era mais ouvido era o professor, ele era um formador de opinião com uma cumplicidade incalculável com os pais; respeitado, admirado e invejado em todas as classes sociais pelo conhecimento que ele detinha. A escola era uma espécie de fonte abençoada, onde todos deviam beber. Havia um estufar de peito quando alguém se declarava aluno de uma escola de renome ou de algum professor notável. Lembro-me da dona Isabel Vieira, incansável educadora daqueles anos em Caratinga; todos queriam seus filhos aprendendo as letras e os números com ela.
Naqueles anos, estudar era o ideal de todos os pais para o futuro dos filhos; até mesmo por correspondência o movimento era gigantesco; muitos conseguiram profissionalizar-se a distância naqueles institutos que faziam propaganda nas revistas em quadrinhos. É atualmente possível verificar esse mesmo conceito social de relevância da escola e do processo educativo em Cuba. Deixando na porta as questões políticas da ditadura de Fidel, percebe-se um afã coletivo em face da educação. O pensamento de José Martí, o ideólogo da revolução cubana, é a cartilha daquele povo, que deve ter permanecido refratário nesses anos de embargo e/ou censura cultural.
A motivação natural para a aprendizagem, que antes contava com a ajuda conceitual da sociedade, já que se acreditava de fato na força do conhecimento para a ascensão social, ficou como responsabilidade exclusiva das metodologias pesquisadas pelos educadores até vingar a concepção libertadora de Paulo Freire e outros. Hoje, a escola que, numa certa medida, não acompanhou o desenvolvimento tecnológico, vive os desafios de socializar o conhecimento construído, agora com sua relevância questionada. Os educadores de hoje correm riscos de violência e até morte por eventuais confrontos acadêmicos.
Não se pode ignorar o fato de que o aprendiz-receptáculo, ou seja, depósito de informações mortas, improcessáveis, deve ser figura relegada ao passado; extinta, uma vez que nossas máquinas podem guardar informações, mas nós devemos ser competentes em utilizá-las para o proveito de todos. Então, há um novo paradigma a respeito do que ensinar: o egresso da escola secundária deve ter a competência de descobrir e criar caminhos para a sua aprendizagem, ou seja, desenvolver metodologias subjetivas de efetiva aprendizagem. Uma boa imagem para isso é a do craque de futebol, que recebe a bola de qualquer jeito e trata de dominá-la com competência. Assim deve ser o estudante diante do conhecimento de qualquer área: ter sempre uma metodologia própria de estudo para a devida apropriação desse conhecimento.
Felizmente, algumas instituições estão percebendo essa luz no fim do túnel e já inserem, em seus cursos, projetos de pesquisa científica, desenvolvendo, paulatinamente, os primeiro conceitos ligados à metodologia científica. O envolvimento dos alunos e os produtos desses projetos têm surpreendido os próprios educadores que orientam os projetos. De fato, é estimulante para toda a comunidade acadêmica produzir algo inédito, fruto da pesquisa participativa, o amassar do pão com as próprias mãos.
O passado tem boas lições para ensinar e que não deveriam ter sido excluídas no rol das transições, mas tem também práticas que não cabem no hoje e já eram ultrapassadas no seu tempo. Questionam-se muito os métodos de alfabetização do passado e as metodologias ligadas à aprendizagem da matemática, mas a eficácia desses métodos foi plena, uma vez que o fundamental era saber ler, escrever e fazer contas; o aluno egresso da escola secundária tinha, em geral, tais competências. Hoje, os entrantes da universidade, em grande número, não dão muito conta de textos e cálculos com a habilidade devida e isso cria um dominó de dificuldades crescentes em todas as disciplinas, já que tais competências são instrumentais. Então, é aconselhável investir na instrumentalização conceitual no curso fundamental e, posteriormente, indo ao encontro do pragmatismo vigorante, utilizar tais instrumentos na construção do conhecimento.
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