Correio Braziliense/DF - Opinião, 24 de Dezembro de 2011
Professor aposentado da Universidade de Brasília
e membro titular da Academia Brasileira de
Ciências
Meu querido Papai Noel. É a primeira vez que lhe
escrevo. Como você deve receber muitas cartas de
crianças, vou avisando que sou adulto. Mas o
espírito natalino faz com que a criança que todos
temos dentro de nós desperte, revivendo as
esperanças de termos nossos sonhos realizados.
Por isso resolvi escrever esta carta.
Não tenho idade nem ingenuidade para pedir o que
todo fã de novelas da tevê pediria: ser milionário,
morar em uma mansão, ter uma coleção de carros
importados, ser famoso, enfim ser um protagonista,
um falso herói, construído na perigosa telinha, que
na maioria das vezes deseduca em vez de educar.
Eu queria que você distribuísse, entre outros
presentes, um saquinho de sabedoria para todos,
para os governantes e governados, para as
crianças e principalmente para os adultos.
Essa sabedoria certamente faria com que nosso
planeta pudesse continuar a ser um lar para todos
os seres vivos e particulamente para a família
humana. O planeta demonstra sinais de
esgotamento, estimulando competições,
desigualdades e guerras. O quadro é agravado por
uma crise social e econômica decorrente do jogo
financeiro e da má distribuição de renda, que já
desestabiliza países considerados ricos, que vêm
sofrendo uma lenta invasão de miseráveis de todas
as partes do planeta, em busca de sobrevivência e
oportunidades.
Estamos diante de uma encruzilhada. Se
pensarmos e agirmos coletivamente em prol do
futuro de todos, faremos jus ao nosso nome
biológico, homo sapiens sapiens, e deixaremos um
legado virtuoso para as próximas gerações. Por
seu lado, se nos omitirmos, seremos cúmplices da
decadência da humanidade, que corre o risco de
desaparecer.
Quando criança, ouvia repetidamente que “Deus é
brasileiro”. Assim, presumo que seria legítimo
nesta carta fazer alguns pedidos em nome do povo
brasileiro. Gostaria de pedir que iluminasse nosso
Brasil para termos uma reforma agrária séria que
contribuísse para atingirmos um patamar civilizado
de justiça social. Certamente acabaríamos com a
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fome e diminuiríamos o caos urbano, sem
comprometer a nossa rica biodiversidade,
fundamental para termos a pureza necessária em
nosso ar e nas nossas águas.
Aos poucos abandonaríamos iniciativas e
instrumentos tão importantes no presente como o
Bolsa Família e as cotas para universidades.
Concretizaríamos a utopia de um Brasil sem
miséria, com uma vida digna para todos. A reforma
agrária acompanhada de uma revolução na
educação que pudesse oferecer uma formação de
qualidade para todos os brasileiros seria
fundamental para a conquista dessa utopia.
Outras dimensões seriam também importantes.
Uma delas, a construção de sistema em que a
promoção da saúde seria o carro-chefe e os
equipamentos e serviços de saúde atenderiam com
qualidade as demandas de todos. Um povo
saudável e educado certamente proporcionará um
cotidiano civilizado, com respeito ao próximo, sem
violência urbana (assaltos, sequestros, agressões,
homicídios, etc.) e moral: (falsas promessas,
estelionatos, corrupção, etc.).
As leis construídas por parlamentares idôneos,
respeitados e com espírito público, seriam
cumpridas e a impunidade seria um capítulo triste
do passado. Eu sei, Papai Noel, que estou pedindo
muitas coisas. Sei que você não é um gênio da
lâmpada e que seria muito difícil atender a todos os
pedidos em um curto espaço de tempo. Proponho
então dividir essa tarefa com todos os homens e
mulheres, já que todos temos ainda um Papai Noel
no coração, com uma vontade enorme de
proporcionar alegrias e felicidades para todos.
Meu Bom Velhinho, desculpe pelos desabafos e
fantasias. Mas como diz a sabedoria popular, o
maravilhoso da fantasia é nossa capacidade de
torná-la realidade. Vou ficar observando o céu nas
próximas noites com a esperança de ver uma
estrela cadente e ouvir um alegre hô-hô-hô, que
será o sinal da chegada de melhores dias para o
nosso Brasil. Esse será o melhor presente de Natal
para todos os brasileiros.
Issac,
ResponderExcluirvocê me emocionou com seus pedidos simples de criança eterna.
Li sua carta entre as árvores de meu Sítio que preservo para contrabalançar a loucura das imobiliárias e construtoras urbanas.
Viva e seja feliz, pois o Papai Noel atenderá seus e nossos pedidos.
Eugênio Giovenardi
Issac,
ResponderExcluirConcordo contigo que precisamos sonhar antes para que algo se concretize e torço, para nosso bem, que Papai Noel atenda seus pedidos, mesmo que demore um pouco.
Que este próximo ano já venha com alguns pedidos atendidos,
Abraço,
Paulo Couto