19 de dezembro de 2011
Correio Braziliense | Opinião | BR
VISÃO DO CORREIO
A Organização Mundial da Saúde considera epidêmico um índice de assassinatos igual ou superior a 10 por 100 mil habitantes. O Afeganistão, país em que a expectativa de vida é de 44,5 anos, conseguiu manter sua taxa aquém do limite da epidemia entre 2004 e 2007. Em pleno período de insurgência talibã, enquanto ali se caçava o grupo terrorista Al Qaeda, então liderado por Osama bin Laden, registrou 9,9. Nesse mesmo período, a média do Sudão (com história de mais de meio século de guerras civis) ficava em 8,8, e a do confronto israelo-palestino, em 8,3. Somados, os 12 maiores conflitos mundiais daqueles anos mataram 169,5 mil pessoas. Pois a ação de assassinos no Brasil conseguiu ser mais letal até que as armas de guerra, tendo feito 192,8 mil vítimas.
O dado é estarrecedor. Mas se torna ainda mais espantoso ao se fazer uma retrospectiva da situação. Afinal, 24 anos antes da faixa de tempo mencionada, em 1980, o Brasil já havia rompido a marca da OMS: 11,7 homicídios por 100 mil habitantes. Na década seguinte, mais do que dobrara o patamar: 22,2 em 1990. Em alarmante curva ascendente, se aproximou do triplo em 2003 (28,9). Apesar do ciclo desenvolvimentista e dos avanços sociais verificados a partir daí, o país deteve o crescimento do número de extermínios, mas ainda contou um homicídio a cada 10 minutos em 2010, com a taxa anual fechando em 26,2 por 100 mil pessoas. Nas últimas três décadas, a violência brasileira ceifou 1.091.125 vidas.
Até a bucólica imagem do sossego nas cidades interioranas sucumbiu diante das estatísticas. De 2000 para cá, a segurança pública colheu algum sucesso nas capitais e regiões metropolitanas, onde o índice de homicídios caiu de 43,2 para 33,6. Já no interior do país, houve um aumento de 46%, com a taxa pulando de 13,8 para 20,1. Ou seja, justamente os pequenos municípios sustentaram a taxa nacional nas alturas. Entre os estados da Federação, foi em Alagoas que mais se matou no ano passado (66,8 assassinatos por 100 mil habitantes). O ranking macabro segue com Espírito Santo (50,1), Pará (45,9), Pernambuco (38,8) e Amapá (38,7). O Distrito Federal aparece na 10ª posição, com média mais de três vezes superior à fixada pela OMS como parâmetro para determinar situação epidêmica: 34,2.
Elaborado pelo Instituto Sangari a partir de bancos de dados dos ministérios da Justiça e da Saúde, o Mapa da Violência 2010, divulgado na semana passada, não pode servir apenas para assustar ainda mais o cidadão. Em outubro, pesquisa do Ibope deu a medida de como a população está acuada. Oito em cada 10 brasileiros disseram ter mudado hábitos de vida nos 12 meses anteriores, preocupados com a própria segurança. Mais: 84% dos 2 mil entrevistados afirmaram já ter presenciado o consumo de drogas nas ruas. Com decidida vontade política, os poderes constituídos são capazes de mudar essa realidade. Está aí o exemplo do Rio de Janeiro, onde territórios dominados pelo crime organizado vêm sendo retomados pelo Estado. Urge estender esse tipo de ação a todo o país, sem dar trégua à bandidagem.
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