8 de setembro de 2014

USP é a 1ª em 20 cursos e tem a maior nota geral

Pesquisa inédita avaliou áreas escolhidas por 93% dos calouros
FÁBIO TAKAHASHISABINE RIGHETTIDE SÃO PAULO, Folha de S.Paulo, 8/9/2014

A melhor nota entre as universidades do país. A primeira colocada em 20 de 40 áreas da graduação. Apesar de viver uma grave crise financeira, a USP é o principal destaque da terceira edição do RUF (Ranking Universitário Folha), a mais ampla avaliação de qualidade de instituições de ensino superior do país.
A análise alia indicadores objetivos, como volume de publicações científicas de cada universidade, à opinião de profissionais envolvidos no ensino superior -o Datafolha ouviu 611 professores universitários que avaliam cursos para o Ministério da Educação e 1.970 responsáveis por recursos humanos.
Espera-se que os resultados ajudem alunos a escolher seus cursos e permitam que instituições se comparem umas comas outras. Como no ano anterior, as 192 universidades foram analisadas em cinco aspectos: pesquisa, ensino, inserção no
mercado de trabalho, inovação e internacionalização.
Logo atrás da USP ficaram outras públicas-as federais UFMG (de Minas), UFRJ (do Rio) e UFRGS (do Rio Grande do Sul) e a estadual paulista Unicamp. A melhor particular foi a PUC-RS (18º lugar).
Em outra frente, a lupa foi voltada aos cursos de graduação de 2.134 instituições superiores. E é aqui que a edição 2014 do ranking traz as maiores novidades.
Os indicadores que consideram a opinião do mercado de trabalho e a qualidade de ensino foram unificados e passam a compor uma lista só, em vez de duas.
Esse resultado sintetiza aspectos importantes para um curso-inserção no mercado,
qualidade do ensino e aproximação com a pesquisa- por meio de indicadores como a proporção de docentes com doutorado ou mestrado.
Considera-se importante que graduação e pesquisa estejam próximas. isso indica que os estudantes estão em contato com os novos conhecimentos de cada área.
MAIS CARREIRAS
Outra alteração foi o aumento do número de cursos de graduação avaliados, de 30 para 40 com o maior número de ingressantes no país. A amostra abrange 93% de
todos os calouros no ensino superior em 2012. nessa avaliação de cursos de graduação, a USP foi a escola que mais obteve primeiros lugares (20), seguida das federais de Minas Gerais (7) e do Rio (5) e da Unicamp (3).
A USP, porém, não alcançou a supremacia nas duas maiores áreas. Em administração, a primeira colocação foi da federal do Rio; em direito, da federal de Minas. A instituição paulista é prejudicada, como no ano anterior, por não participar integralmente do Enade (exame federal de alunos). Por isso, zera no indicador, que vale 4% da nota dos cursos. Se tivesse resultado semelhante ao das duas federais,
a USP lideraria também em administração e em direito.
O ranking de cursos mostra ainda que faculdades com poucos alunos ou escolas privadas podem ter qualidade semelhante à das melhores universidades públicas.
A FGV de São Paulo ficou como segundo melhor curso de economia do país, o terceiro de direito e o quinto de administração; a Universidade Anhembi Morumbi, com o segundo lugar em turismo. Devido ao grande número de instituições e ao volume de dados, este suplemento contém uma síntese dos resultados.
As tabelas completas estão no site do RUF. Consulte o RUF

RAQUEL ROLNIK

A USP e a cidade

Se quisermos que a USP seja verdadeiramente pública precisamos superar essa lógica do enclave
Mais uma vez a USP toma conta das páginas dos jornais, agora em função de sua situação financeira, principal objeto da greve deflagrada por professores e funcionários há mais de cem dias, diante do anúncio de reajuste salarial zero por parte da administração da universidade.
Se tomarmos o debate em curso na mídia sobre a universidade e sua crise como expressão da relação da sociedade com a USP, parece que transitamos entre dois polos. De um lado, ela é reconhecida como a melhor universidade da América Latina, única presente entre as 150 melhores do mundo, responsável por 25% de toda a pesquisa produzida no Brasil e nossa principal formadora de mestres e doutores. De outro, é vista como uma universidade elitista, povoada por "marajás" e "baderneiros" e custeada pelo dinheiro de todos.
O que fundamenta esta relação de amor/ódio pela USP? Me parece que a pergunta central que a sociedade faz neste momento é: a USP é ou não um patrimônio de todos os paulistas e brasileiros?
O que está em jogo, portanto, é a dimensão pública da universidade, abrangendo muitos sentidos além da questão do seu financiamento. Ser "de todos" implica em produzir valores tangíveis e intangíveis que reconhecidamente beneficiem largas parcelas da população.
Como professora da instituição, não tenho a menor dúvida em relação à qualidade do que se produz na USP --que vai além de aulas, teses e artigos. Como ex-aluna de uma USP dos anos 1970, posso afirmar que o acesso à Universidade se ampliou e democratizou, embora haja ainda muito caminho pela frente nessa direção.
Mas é importante reconhecer que se a sociedade questiona a USP é porque, em muitas dimensões, não se reconhece como parte dela.
Podemos tomar o território ocupado pela USP como uma espécie de metáfora --além de uma das dimensões-- do que estou tentando dizer. Em São Paulo, o campus Butantã ocupa uma área de 5 milhões de m², encravada como um feudo, pouquíssimo permeável à cidade. O modelo urbanístico do campus é unifuncional, com densidade de ocupação baixíssima --as poucas moradias que temos foram construídas nos anos 1960 para os atletas dos Jogos Pan-Americanos--, com mobilidade baseada no automóvel, enormes espaços vazios, poucos espaços de convivência, uma espécie de branco interrompendo a cidade.
Como acontece com muitos outros campi do Brasil, esse modelo segregacionista herdado da ditadura militar até hoje não foi devidamente revisto, debatido e superado. Assim como não foi revista e superada a forma de gestão da universidade --uma espécie de cardinalato de professores no ápice da carreira acadêmica, que não necessariamente expressam a multiplicidade de atores presentes na instituição, nem aqueles com quem esta deve dialogar.
Se quisermos que a USP seja uma universidade verdadeiramente pública precisamos superar essa lógica do enclave. Isso significa não apenas democratizar e dar vida a seus espaços físicos, revendo completamente sua relação com o conjunto da cidade, mas também democratizar o acesso a seus cursos e serviços e, fundamentalmente, democratizar sua gestão. Tudo isso em intenso diálogo com a sociedade, a verdadeira dona da USP.

Por que não ter universidades só de ensino?

ROGERIO MENEGHINIESTÊVÃO GAMBAESPECIAL PARA A FOLHA
Hoje estão credenciadas pelo Ministério da Educação 195 universidades (192 classificadas pelo RUF), num universo de mais de 2.000 instituições de ensino superior.
Alcançar o status de universidade é um sonho das instituições de ensino, sobretudo das particulares. Muitas delas (mais de 60) não o alcança e apela para um recurso dúbio: usar uma sigla que se inicia com UN, ainda que o nome oficial mostre não se tratar de universidade.
Certamente uma sigla fantasia iniciada com UN é atrativa, e o MEC, aparentemente, faz vista grossa. O mais preocupante, porém, talvez sejam as escolas que mantêm o status de universidade com méritos duvidosos.
Afinal, qual o significado de universidade? O conceito que se desenvolveu por séculos em países avançados pode ser resumido em "uma instituição de educação superior e de pesquisa que concede diplomas em uma variedade de áreas de conhecimento tanto ao nível de graduação como de pós-graduação".
O MEC tem um conceito bem mais condescendente. São condições indispensáveis para que uma instituição se credencie como universidade, entre as oito estabelecidas: um terço do corpo docente com titulação de mestrado ou doutorado, um terço em regime de trabalho em tempo integral e oferta de ao menos quatro cursos de mestrado e dois de doutorado.
Por trás das exigências burocráticas parece existir a aspiração de que juntamente com o ensino haja produção científica, medida por publicações em periódicos e livros.
No RUF 2014, a média de publicações anuais nas dez universidades mais produtivas é de 1,12 por docente. No outro extremo, um terço das menos produtivas apresenta uma média anual de 0,03, o que equivale a 2,7% do índice das mais produtivas.
É aceitável haver essa desproporção entre escolas intituladas universidades? Certamente trata-se de coletividades de distintas naturezas e finalidades. Por que não reconhecê-las como portadoras de objetivos distintos?
Nos Estados Unidos, por exemplo, há, além de universidades de grande prestígio, "colleges" dedicados à pesquisa/ensino e "colleges" somente voltados ao ensino. Em ambos os gêneros se encontram os de renome.
Poderíamos entender também as nossas universidades como dirigidas a duas vertentes, como de fato o são: as "strictu sensu", cuja missão é a adotada pelas universidades mundiais de prestígio (no Brasil existe um conjunto delas), e as de ensino, que poderiam assumir a vocação de ensinar sem pesquisa.
O que as distinguiria de outras instituições de ensino superior seria o número expressivo de cursos, a infraestrutura qualificada e o corpo docente bem avaliado pelo MEC, por meio de comissões "ad hoc", com membros nacionais e internacionais.
Dessa forma evitaríamos universidades com raquíticas estruturas de pesquisa, voltadas para vultosos alunatos.

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