Persistência. Rosana Brito (à esquerda) e Zélia Alves voltaram a estudar: abandono de estudos é desafio para o país |
Indicador de bem-estar mantém o país no grupo do desenvolvimento elevado. Pnud elogia avanços
LUCIANNE CARNEIRO, MARTHA BECK E NICE DE PAULA
economia@oglobo.com.br, Globo, 15/3/2013
Pelo cálculo, o IDH do Brasil passaria para 0,754. O país estaria no mesmo nível do Cazaquistão, com IDH de 0,754, que ocupa o 69º lugar no ranking. Seria avanço de 16 posições, se as demais nações ficassem nas mesmas condições.
Mas o Pnud esclarece que não há qualquer alteração oficial no ranking, porque não foram recalculados os índices dos outros países.
A maior diferença seria na expectativa de anos de estudo. O IDH oficial considera que os brasileiros que entram na escola hoje terão, em média, 14,2 anos de escolaridade no futuro, com base em estatísticas de 2005.
Com as contas refeitas, a projeção de escolaridade salta para 15,7 anos - a mesma escolaridade projetada para a Suíça.
Apesar da melhora recente na distribuição de renda no país, se o IDH do Brasil fosse ajustado pela desigualdade do país, sua posição no ranking cairia para a 97ª, mostra o relatório.
A educação - que mostrou avanços expressivos nos anos 90 e no início da década de 2000 - foi um dos principais fatores a segurar o desenvolvimento humano brasileiro recentemente.
- O Brasil já esteve em 73º lugar no ranking de IDH, em 2010, e agora está em 85º. A distância do primeiro lugar hoje é maior do que já foi. Efetivamente, a situação do Brasil no ranking do IDH piorou - afirma o professor da Universidade de Cambridge e da UFRGS, Flávio Comim. - A educação é a imagem mais forte da parada, mas a renda não se mexe muito, e a expectativa de vida também não.
O governo brasileiro reclama do fato de o IDH relativo a 2012 ter sido calculado com dados defasados em até sete anos. O indicador que mais prejudicou o Brasil no IDH, por exemplo, foi o relativo aos anos de escolaridade esperados. Ele mostra quanto tempo um país consegue manter uma criança na escola. O Pnud fez a conta oficial usando média de 14,2 anos, registrada em 2005.
Já a conta informal foi feita com dados do Censo de 2010, o que elevou a média para 15,7 anos. A média de anos de escolaridade saltou de 7,2 anos da conta oficial para 7,4 anos na atualizada. A expectativa de vida - indicador de saúde para o IDH - subiu de 73,8 anos para 74,1 anos, e o indicador de renda, de US$ 10.152 para US$ 11.547.
Segundo o representante do Pnud no Brasil, Jorge Chediek, o cálculo do IDH traz informações defasadas de diversos países. Ele explicou que cada um tem formas diferentes de computar dados, o que torna difícil a uniformização para o cálculo do IDH.
Por isso, o Pnud se baseia em informações reunidas pela Unesco (no caso da educação), Banco Mundial (renda) e Divisão de População da ONU (saúde).
- O Brasil tem dados mais atualizados, tem o IBGE, mas a maioria dos países não tem o mesmo padrão e a mesma frequência de compilação (de informações).
Então, o Pnud tem de utilizar dados mais antigos. O governo brasileiro está ciente dessas limitações - disse Chediek, adiantando que não haverá mudanças no relatório.
Sobre os avanços em desenvolvimento no Brasil, ele lembra que, em 1980, metade dos brasileiros maiores de 25 anos tinha menos de três anos de escolaridade. Hoje são sete anos.
Apesar dos avanços, há desafios como o abandono de estudos. Como o caso de Zelia Alves.
Empregada doméstica e moradora de São Gonçalo, ela voltou a estudar este ano.
- É muito cansativo. Trabalho no Flamengo, vou para a escola e só chego em casa meia-noite.
Mas estou tentando realizar um sonho que não consegui quando deveria - diz Zelia, que havia parado de estudar no Ensino Fundamental.
Colega de turma de Zelia, Rosana Brito, moradora da Rocinha, diz que voltar a estudar "é uma grande chance, mas é muito complicado".
"A educação é a imagem mais forte da parada, mas a renda não se mexe muito, e a expectativa de vida também não"
Flávio Comim Professor de Cambridge e da UFRGS
Governo brasileiro financiou 92% dos recursos do Pnud
Repasse ao escritório brasileiro foi de US$ 99,33 milhões no ano passado
BRASÍLIA E RIO- O governo brasileiro repassou US$ 99,332 milhões (R$ 196,4 milhões) ao Pnud- Brasil em 2011, ou 92% do total dos recursos recebidos pelo programa das Nações Unidas (US$ 108 milhões ou R$ 213,5 milhões) naquele ano, segundo a última informação disponível no site do próprio programa.
Antes do anúncio do índice - que era conhecido sob a condição de embargo -, o Ministério da Educação contestou os dados em nota distribuída à imprensa na quarta-feira, alegando que eles eram defasados e tinham "graves distorções".
No cálculo oficial do IDH, a educação é medida a partir de dois indicadores. O primeiro é a expectativa de anos de estudo da população: estima-se a escolaridade futura das crianças que entram na escola hoje. Para este, o Pnud usou dados de 2005.
O outro é a escolaridade média da população adulta brasileira hoje. Neste caso, foram usadas estatísticas de 2010.
O Pnud alega que, até para permitir comparações internacionais, a metodologia do IDH prevê o uso dos dados da Unesco (órgão de educação da ONU), embora reconheça que, no caso brasileiro, estavam defasados.
Até o fechamento desta edição, o escritório da Unesco no Brasil não informara o motivo nem revelara a fonte dos dados.
Geralmente, o órgão recolhe números de dezenas de países e os trata para que sejam comparáveis internacionalmente.
O recálculo feito pelo escritório brasileiro do Pnud foi com base no estudo "Indicadores do Desenvolvimento Brasileiro", divulgado em fevereiro por IBGE e ministérios do Planejamento, Desenvolvimento Social, Educação e Saúde. (Martha Beck e Lucianne Carneiro)
Ministério pressionou por atualização do cálculo
Mercadante lembra que jornada escolar subiu para 9 anos-BRASÍLIA- O governo brasileiro se armou para atacar o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2013 dias antes do lançamento oficial do documento pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Os números foram apresentados previamente ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que ficou extremamente irritado com o fato de o Pnud ter utilizado dados defasados para calcular o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, país que é membro do Conselho da instituição e uma das estrelas do relatório de 2013.
Segundo interlocutores, o ministro cobrou explicações do organismo. Teria sido a pressão de Mercadante que levou o Pnud a refazer os cálculos do IDH do Brasil, para mostrar mais claramente os avanços do país. Mas, mesmo com os esforços do Pnud para minimizar a repercussão negativa do IDH, Mercadante e a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, deram entrevistas para rebater os dados anunciados pelo programa das nações Unidas.
- Temos sentimentos divididos em relação ao relatório.
Ele cita o Brasil diversas vezes como um modelo a ser seguido na redução da desigualdade, mas usa dados desatualizados no IDH. Foram dados injustos na área de educação - afirmou a ministra.
Mercadante, por sua vez, elogiou a atualização informal do IDH. Mas o ministro fez uma ressalva: - Esse exercício só mostra que estamos certos e que os dados precisam ser atualizados.
De acordo com Mercadante, o relatório não levou em consideração duas informações importantes. Uma delas é que a jornada escolar no país subiu de oito para nove anos. Além disso, não foram computados no cálculo 4,6 milhões de crianças de 5 anosque estão matriculadas na pré-escola. O Pnud não contabiliza em seus cálculos os dados sobre pré-escola, criticou Mercadante.
- Os dados utilizados são defasados e insustentáveis - afirmou o ministro.
Mercadante apresentou um cálculo mostrando que se essas duas informações tivessem entrado no cálculo do Pnud, os anos esperados de escolaridade teriam subido de 14,2 anos para 16,7 anos.
Segundo o ministro, isso teria feito o Brasil ganhar 20 posições no ranking do IDH.
Mercadante disse ainda que vai procurar o Pnud para discutir o que precisa ser feito para atualizar os dados brasileiros.
Ele também insistiu que pretende pedir ao organismo das Nações Unidas uma revisão do relatório à luz de dados mais atualizados.
- Não sei de quem é a responsabilidade dos dados defasados, mas o fato é que eles estão errados. Vamos apurar de quem é a responsabilidade - afirmou o ministro da Educação.
(Martha Beck)
O índice oficial
EXPECTATIVA DE VIDA: 73,8 anos (Fonte: Divisão de População da ONU)
ANOS ESPERADOS DE ESTUDO: 14,2 anos (Unesco, dados de 2005)
MÉDIA DE ESCOLARIDADE: 7,2 anos (Unesco, dados de 2010)
RENDA PER CAPITA: US$ 10.152 (Banco Mundial)
O índice recalculado
EXPECTATIVA DE VIDA: 74,1 anos (Fonte: Censo 2010, do IBGE)
ANOS ESPERADOS DE ESTUDO: 15,7 anos (Censo 2010)
MÉDIA DE ESCOLARIDADE: 7,4 anos (Pnad 2011, do IBGE)
Segundo interlocutores, o ministro cobrou explicações do organismo. Teria sido a pressão de Mercadante que levou o Pnud a refazer os cálculos do IDH do Brasil, para mostrar mais claramente os avanços do país. Mas, mesmo com os esforços do Pnud para minimizar a repercussão negativa do IDH, Mercadante e a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, deram entrevistas para rebater os dados anunciados pelo programa das nações Unidas.
- Temos sentimentos divididos em relação ao relatório.
Ele cita o Brasil diversas vezes como um modelo a ser seguido na redução da desigualdade, mas usa dados desatualizados no IDH. Foram dados injustos na área de educação - afirmou a ministra.
Mercadante, por sua vez, elogiou a atualização informal do IDH. Mas o ministro fez uma ressalva: - Esse exercício só mostra que estamos certos e que os dados precisam ser atualizados.
De acordo com Mercadante, o relatório não levou em consideração duas informações importantes. Uma delas é que a jornada escolar no país subiu de oito para nove anos. Além disso, não foram computados no cálculo 4,6 milhões de crianças de 5 anosque estão matriculadas na pré-escola. O Pnud não contabiliza em seus cálculos os dados sobre pré-escola, criticou Mercadante.
- Os dados utilizados são defasados e insustentáveis - afirmou o ministro.
Mercadante apresentou um cálculo mostrando que se essas duas informações tivessem entrado no cálculo do Pnud, os anos esperados de escolaridade teriam subido de 14,2 anos para 16,7 anos.
Segundo o ministro, isso teria feito o Brasil ganhar 20 posições no ranking do IDH.
Mercadante disse ainda que vai procurar o Pnud para discutir o que precisa ser feito para atualizar os dados brasileiros.
Ele também insistiu que pretende pedir ao organismo das Nações Unidas uma revisão do relatório à luz de dados mais atualizados.
- Não sei de quem é a responsabilidade dos dados defasados, mas o fato é que eles estão errados. Vamos apurar de quem é a responsabilidade - afirmou o ministro da Educação.
(Martha Beck)
O índice oficial
EXPECTATIVA DE VIDA: 73,8 anos (Fonte: Divisão de População da ONU)
ANOS ESPERADOS DE ESTUDO: 14,2 anos (Unesco, dados de 2005)
MÉDIA DE ESCOLARIDADE: 7,2 anos (Unesco, dados de 2010)
RENDA PER CAPITA: US$ 10.152 (Banco Mundial)
O índice recalculado
EXPECTATIVA DE VIDA: 74,1 anos (Fonte: Censo 2010, do IBGE)
ANOS ESPERADOS DE ESTUDO: 15,7 anos (Censo 2010)
MÉDIA DE ESCOLARIDADE: 7,4 anos (Pnad 2011, do IBGE)
Desigualdade do Brasil em queda
Diario de Pernambuco
Brasília e Rio - Com um crescimento de 24% no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desde 1990, o Brasil está entre os 15 países que mais conseguiram reduzir o déficit no índice que mede o desenvolvimento humano de cada país. Os dados estão no relatório de Desenvolvimento Humano 2013, lançado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e levam em conta dados do ano de 2012.Em relação ao desempenho de 2011, no entanto, houve estagnação. O Brasil manteve a colocação de 85º lugar, entre os 187 países avaliados. A posição coloca o país entre as nações com desenvolvimento humano elevado, com IDH de 0,730. A escala do índice varia de 0 a 1: quanto mais perto de 1, maior é o desenvolvimento humano no local.
Noruega, Austrália e Estados Unidos são os primeiros colocados. Na outra ponta aparecem a República Democrática do Congo, destruída por conflitos internos, e o Níger, como os países com menor pontuação no IDH. O ranking avalia o desenvolvimento humano dos países em três dimensões: vida longa e saudável, acesso à educação e padrão decente de vida.
O relatório destaca a ascensão dos países do Sul, com destaque para Brasil, Chile, Índia e China. De acordo com o estudo, eles estão "remodelando a dinâmica mundial no contexto amplo do desenvolvimento humano". "Alguns países adotaram modelos de desenvolvimento com maior destaque para a participação do Estado e políticas de transferência de renda que tiveram um resultado histórico", disse o representante do Pnud no Brasil, Jorge Chediek.
A manutenção do índice entre 2011 e 2012, no entanto, gerou críticas do governo. Diante disso, o Pnud decidiu refazer as contas para o Brasil informalmente. Assim, o IDH do país passou para 0,754. O Brasil estaria, então, no mesmo nível do Cazaquistão, que ocupa a 69ª posição no ranking.
O recálculo foi feito com dados da Pesquisa Nacional Por Amostragem de Domicílios (Pnad) de 2011, enquanto no cálculo oficial do IDH a fonte é o Instituto de Estatísticas da Unesco. "Alguns países podem ter um retrato diferente, com dados mais recentes. Foi apenas um exercício", minimizou Daniela Gomes Pinto, analista de desenvolvimento do Pnud.
Noruega, Austrália e Estados Unidos são os primeiros colocados. Na outra ponta aparecem a República Democrática do Congo, destruída por conflitos internos, e o Níger, como os países com menor pontuação no IDH. O ranking avalia o desenvolvimento humano dos países em três dimensões: vida longa e saudável, acesso à educação e padrão decente de vida.
O relatório destaca a ascensão dos países do Sul, com destaque para Brasil, Chile, Índia e China. De acordo com o estudo, eles estão "remodelando a dinâmica mundial no contexto amplo do desenvolvimento humano". "Alguns países adotaram modelos de desenvolvimento com maior destaque para a participação do Estado e políticas de transferência de renda que tiveram um resultado histórico", disse o representante do Pnud no Brasil, Jorge Chediek.
A manutenção do índice entre 2011 e 2012, no entanto, gerou críticas do governo. Diante disso, o Pnud decidiu refazer as contas para o Brasil informalmente. Assim, o IDH do país passou para 0,754. O Brasil estaria, então, no mesmo nível do Cazaquistão, que ocupa a 69ª posição no ranking.
O recálculo foi feito com dados da Pesquisa Nacional Por Amostragem de Domicílios (Pnad) de 2011, enquanto no cálculo oficial do IDH a fonte é o Instituto de Estatísticas da Unesco. "Alguns países podem ter um retrato diferente, com dados mais recentes. Foi apenas um exercício", minimizou Daniela Gomes Pinto, analista de desenvolvimento do Pnud.
- IDH do Brasil melhora pouco no primeiro biênio de Dilma
Resultado manteve Brasil em 85º lugar no ranking mundial de um total de 187 países, segundo Nações Unidas
Indice de Desenvolvimento Humano do país teve a menor alta dentre os Brics
DE BRASÍLIA, Folha de S.Paulo, 15/3/2013
Relatório das Nações Unidas destaca o Brasil como um dos modelos mundiais para o aumento de desenvolvimento humano, mas indica que essa melhora desacelerou na primeira metade do governo Dilma Rousseff.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil em 2012 o mantém no 85º lugar num ranking de 187 países, segundo informações do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgadas ontem.
Seu índice é de 0,73 -sendo 1 o máximo possível. É um número parecido com o da Jamaica ou de Omã.
Entre 2010 e 2012, primeiro biênio de Dilma, o IDH brasileiro subiu 0,5%. É cerca de um terço da evolução do país tanto entre 2008 e 2010 quanto entre 2006 e 2008.
O crescimento no período é o pior dentre os Brics -grupo de emergentes composto por Índia, China, Rússia, África do Sul e Brasil. Nenhum deles teve nos últimos dois anos alta inferior a 0,7%.
A evolução do IDH brasileiro é também baixa quando comparada com a de países da América do Sul e com o México. Nesse conjunto, só Venezuela e Paraguai melhoraram menos que o Brasil.
O primeiro lugar de 2012 continua sendo da Noruega (0,955). A última posição é ocupada pelo Níger (0,304).
É difícil saber exatamente o que causou a desaceleração do Brasil nos últimos dois anos, uma vez que os componentes atualizados do indicador não foram apresentados.
É possível que o PIB (Produto Interno Bruto), que com Dilma cresceu em ritmo menor do que com Lula, seja uma causa, já que a renda é um dos três elementos do IDH -outros dois são saúde (expectativa de vida) e educação.
Representantes do Pnud também não apontaram uma causa e disseram que o ranking é mais fiel como um indicativo de longo prazo.
O governo federal questionou os dados. "A questão é: os dados brasileiros estão incorretos. A avaliação é injusta com o Brasil", afirmou a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social).
A principal reclamação refere-se ao fato de o Pnud ter desconsiderado 4,8 milhões de crianças, entre 5 e 6 anos, que já iniciaram sua atividade escolar e que teriam ficado de fora do relatório (porque não foi considerada a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos).
Segundo o ministro Aloizio Mercadante (Educação), com esse indicador atualizado, o Brasil subiria 20 posições.
O Pnud diz que parte dos dados é antiga (de 2010 e 2005) porque é a única forma de comparar o Brasil com o resto do mundo.
Índice é útil, vai além da renda, mas deixa fugir pontos essenciais
HÉLIO SCHWARTSMANCOLUNISTA DA FOLHAO IDH é útil para medir o desenvolvimento de um país, mas, como todo instrumento, tem limitações.
A principal vantagem do IDH, criado a pedido da ONU nos anos 90, é que ele não limita a medida do desenvolvimento a indicadores puramente econômicos, como o PIB per capita, ainda largamente utilizado. Além da renda, começaram a ser considerados -e valorizados- aspectos de saúde e educação.
A lista dos problemas, porém, não é pequena. O IDH, como todo índice compósito, simplifica demais a realidade. Para cada dimensão incluída em seu cálculo, podemos citar meia dúzia de tópicos igualmente relevantes que ficaram de fora.
O problema principal, entretanto, é que índices compósitos muitas vezes deixam escapar coisas essenciais. O melhor exemplo é o dos IDHs dos Estados.
A pontuação do Distrito Federal tomada isoladamente é comparável à da Holanda. A de Santa Catarina bate com a da Finlândia, e a de São Paulo, com a de Israel. Basta um passeio pelas ruas para constatar que não é bem assim.
Relatório das Nações Unidas destaca o Brasil como um dos modelos mundiais para o aumento de desenvolvimento humano, mas indica que essa melhora desacelerou na primeira metade do governo Dilma Rousseff.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil em 2012 o mantém no 85º lugar num ranking de 187 países, segundo informações do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgadas ontem.
Seu índice é de 0,73 -sendo 1 o máximo possível. É um número parecido com o da Jamaica ou de Omã.
Entre 2010 e 2012, primeiro biênio de Dilma, o IDH brasileiro subiu 0,5%. É cerca de um terço da evolução do país tanto entre 2008 e 2010 quanto entre 2006 e 2008.
O crescimento no período é o pior dentre os Brics -grupo de emergentes composto por Índia, China, Rússia, África do Sul e Brasil. Nenhum deles teve nos últimos dois anos alta inferior a 0,7%.
A evolução do IDH brasileiro é também baixa quando comparada com a de países da América do Sul e com o México. Nesse conjunto, só Venezuela e Paraguai melhoraram menos que o Brasil.
O primeiro lugar de 2012 continua sendo da Noruega (0,955). A última posição é ocupada pelo Níger (0,304).
É difícil saber exatamente o que causou a desaceleração do Brasil nos últimos dois anos, uma vez que os componentes atualizados do indicador não foram apresentados.
É possível que o PIB (Produto Interno Bruto), que com Dilma cresceu em ritmo menor do que com Lula, seja uma causa, já que a renda é um dos três elementos do IDH -outros dois são saúde (expectativa de vida) e educação.
Representantes do Pnud também não apontaram uma causa e disseram que o ranking é mais fiel como um indicativo de longo prazo.
O governo federal questionou os dados. "A questão é: os dados brasileiros estão incorretos. A avaliação é injusta com o Brasil", afirmou a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social).
A principal reclamação refere-se ao fato de o Pnud ter desconsiderado 4,8 milhões de crianças, entre 5 e 6 anos, que já iniciaram sua atividade escolar e que teriam ficado de fora do relatório (porque não foi considerada a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos).
Segundo o ministro Aloizio Mercadante (Educação), com esse indicador atualizado, o Brasil subiria 20 posições.
O Pnud diz que parte dos dados é antiga (de 2010 e 2005) porque é a única forma de comparar o Brasil com o resto do mundo.
Índice é útil, vai além da renda, mas deixa fugir pontos essenciais
A principal vantagem do IDH, criado a pedido da ONU nos anos 90, é que ele não limita a medida do desenvolvimento a indicadores puramente econômicos, como o PIB per capita, ainda largamente utilizado. Além da renda, começaram a ser considerados -e valorizados- aspectos de saúde e educação.
A lista dos problemas, porém, não é pequena. O IDH, como todo índice compósito, simplifica demais a realidade. Para cada dimensão incluída em seu cálculo, podemos citar meia dúzia de tópicos igualmente relevantes que ficaram de fora.
O problema principal, entretanto, é que índices compósitos muitas vezes deixam escapar coisas essenciais. O melhor exemplo é o dos IDHs dos Estados.
A pontuação do Distrito Federal tomada isoladamente é comparável à da Holanda. A de Santa Catarina bate com a da Finlândia, e a de São Paulo, com a de Israel. Basta um passeio pelas ruas para constatar que não é bem assim.
Brasil melhora pouco no IDH, mas é destaque em relatório da ONU
País está entre os que mais reduziram o déficit social nas últimas duas décadas
14 de março de 2013 | 13h 00
LÍGIA FORMENTI, DANIEL BRAMATTI, JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, AMANDA ROSSI E DIEGO RABATONE - Agência Estado
LÍGIA FORMENTI, DANIEL BRAMATTI, JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, AMANDA ROSSI E DIEGO RABATONE - Agência Estado
O Brasil manteve o 85º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano preparado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, posto apresentado desde 2007. O índice obtido foi de 0,730, em uma escala que vai de 0 a 1. Com essa nota, o País permanece no grupo de Desenvolvimento Humano Alto.
Apesar da estagnação refletida no ranking, integrantes do PNUD capricharam nos elogios feitos ao desempenho do País nas últimas décadas. "O País mudou o padrão histórico em muito pouco tempo e é reconhecido por isso", afirmou o coordenador residente do sistema ONU no Brasil, Jorge Chediek.
O IDH é calculado com base em indicadores de renda, educação e longevidade, ou seja, saúde. Os dados revisados para 2011 atribuem ao Brasil o índice 0,728. A Noruega, primeira colocada no ranking, chegou a 0,955.
O PNUD reconheceu que utiliza em seu trabalho dados menos atualizados que os do governo brasileiro - motivo de críticas oficiais no passado. Se os dados mais recentes tivessem sido utilizados, o IDH seria mais alto: 0,754.
O Brasil aparece 137 vezes nos textos, gráficos e tabelas do relatório - um recorde desde a primeira avaliação do PNUD, feita em 1990. Uma das razões desse destaque é o próprio enfoque do trabalho, centrado no crescimento econômico dos países em desenvolvimento e nas consequências sociais do fenômeno. O título do relatório é "A ascensão do Sul - progresso humano em um mundo diverso".
Entre 1990 e 2012, praticamente todos os países tiveram melhoras em seu IDH. Mas o Brasil aparece em um grupo de 40 nações que, no período, apresentaram desempenho "significativamente superior" ao previsto, dada sua condição em 1990. Na mesma categoria estão China, Índia, Coreia do Sul, Turquia e México, entre outros.
Para os autores do relatório, o que explica a performance superior de alguns países nas últimas duas décadas são fatores como "Estado desenvolvimentista proativo, aproveitamento dos mercados mundiais e inovações em políticas sociais".
Educação e saúde
O desempenho na área social foi o principal impulsionador dos avanços do Brasil: o País teve melhoras mais significativas na educação e na saúde que na renda média de sua população.
De 1990 a 2012, entre os 15 países que mais reduziram seu "déficit de IDH" (distância em relação à pontuação máxima), estão Brasil, Argélia e México, "apesar de sua renda per capita ter crescido, em média, apenas entre 1% e 2% ao ano".
O desempenho econômico não tão forte desses países foi compensado, de acordo com o relatório, pela "primazia nos investimentos estatais (...) em saúde, educação e nutrição".
No caso da educação no Brasil, os pesquisadores detectaram uma melhora "espetacular". Citaram o fato de o País ter apresentado, entre 2000 e 2009, o terceiro maior "salto" de pontuação em matemática nos testes do Pisa, programa internacional de avaliação do desempenho de estudantes. Como deflagrador desse avanço, o relatório cita a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), em 1996, que estabeleceu um piso nacional de gastos por aluno e ampliou os investimentos em ensino nas regiões mais pobres do País.
O Brasil também ganhou elogios por ter reduzido a desigualdade entre seus cidadãos, graças "à criação de um programa de redução da pobreza, à extensão da educação e ao aumento do salário mínimo".
O relatório destaca o fato de o Bolsa Família - "versão otimizada do Bolsa Escola", programa criado em 2001 - ter alcançado mais de 97% de sua população-alvo em 2009. Como resultado, além da redução da pobreza, observou-se um fenômeno de "empoderamento das mulheres", já que elas têm prioridade no recebimento dos cartões magnéticos para a retirada do benefício.
Governo contesta dados do IDH e questiona pesquisa
Ministra do Desenvolvimento Social afirmou que dados utilizados pela ONU estão defasados
14 de março de 2013 | 14h 41
RAFAEL MORAES MOURA - Agência Estado
Insatisfeito com o resultado do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o governo apressou-se para contestar os dados e questionar o levantamento feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). "Alguns países podem não ter dados atualizados, mas nós temos. (O Pnud) Sistematicamente, usa dados que nós não reconhecemos, dados defasados", criticou a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello. "Os dados brasileiros estão incorretos, a avaliação é injusta com o Brasil."
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, também criticou o levantamento: "Se distribuímos renda, se reduzimos a população em extrema pobreza, se temos uma grande mobilidade social, por que o indicador do IDH não reflete tudo que fizemos?". O Brasil manteve o 85.º lugar na lista do Índice de Desenvolvimento. A média obtida foi de 0,730 de uma escala que vai de 0 a 1. Com essa nota, o País permanece no grupo de "desenvolvimento humano alto".
De acordo com Tereza, o governo recebeu o relatório "com sentimentos divididos". "A leitura do relatório qualitativo é uma leitura que, particularmente, nos orgulhou a todos; durante todo o relatório (há), referências elogiosas, somos citados como modelo (de) novo desenvolvimento inclusivo, novo paradigma, em vários momentos o Brasil é destacado como referência nas inovações de políticas sociais", afirmou. "Quando vamos para a construção dos indicadores, os dados continuam desatualizados, se todos os países tivessem dados desatualizados, ficariam todos frustrados. Algumas metodologias não entendemos, continuamos frustrados com esses indicadores e ranqueamento."
Em nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) considera que os dados de educação usados no relatório são "de 2005 e de fontes não reconhecidas pelas agências estatísticas nacionais". "Para alguns países, os dados utilizados no cálculo são atualizados para o ano de 2010", alega.
Segundo o Inep, dois importantes indicadores da área - a média dos anos de escolaridade e anos de escolaridade esperados - "apresentam graves distorções". "No que se refere à ''média de anos de escolaridade'', os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2011 indicam um valor de 7,4 anos para a população de 25 anos ou mais, enquanto o Pnud utiliza um valor de 7,2 anos. Quanto aos ''anos de escolaridade esperados'', o Pnud apresenta um valor para o Brasil igual a 14,2 que se mantém constante desde o ano 2000. A razão dessa grave distorção, além da desconsideração dos dados oficiais mais recentes, é a não consideração das crianças de 5 anos matriculadas na pré-escola, bem como das matriculadas nas classes de alfabetização (CA), ou seja, são desconsiderados no cálculo cerca de 4,6 milhões de matrículas de crianças brasileiras", diz a nota. "Só queremos que corrijam aquilo que é de direito do País", declarou Mercadante. Conforme ele e a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, funcionários da administração federal viajarão a Nova York para discutir com técnicos do Pnud os dados usados no levantamento.
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