12 de março de 2013

HÉLIO SCHWARTSMAN, Pobre Papa



SÃO PAULO - Hoje eu vou discordar do editorial da Folha de domingo e de boa parte dos comentaristas de religião que afirmam que os ensinamentos da Igreja Católica exercem influência no conjunto da sociedade, o que justificaria o clima de torcida por um papa mais afeito com nossas próprias convicções.
Num sentido muito trivial, o Vaticano, por existir no mundo sublunar, nele causa alterações. Mas, se não estou enganado, não se pretende aludir aqui ao estatuto ontológico do Vaticano, e sim a suas posições, em especial no campo da moral e da sexualidade. Se essa interpretação é correta, estamos diante de uma questão empírica. Que venham, então, os dados.
Pesquisa Datafolha de 2007 mostrou que, embora a igreja condene o uso da camisinha, 94% dos católicos brasileiros o defendiam, percentual idêntico ao da população geral. Em relação ao divórcio, os católicos estavam até mesmo à esquerda do conjunto dos brasileiros e dos evangélicos. A proporção dos que defendiam o instituto era de 74%, 71% e 59%, respectivamente. Os católicos também estavam mais próximos do brasileiro médio do que da Santa Sé em várias outras questões, como aborto, eutanásia, casamento gay e adoção de crianças por homossexuais.
Aparentemente, os católicos não têm problema para pôr em prática convicções contrárias às da igreja. Dados do Registro Civil de 2006 mostram que a proporção de católicas divorciadas, separadas ou desquitadas era de 8,5%, praticamente a mesma da população (8,8%).
A moral da história é que, em matéria de costumes e sexo, o papa já não convence nem os católicos, menos ainda o conjunto da sociedade -graças a Deus, ouso acrescentar.
Esses achados estão em linha com trabalhos feitos em diversos países que mostram que a religião, pelo menos no mundo moderno, interfere muito menos do que se imagina no comportamento e nos juízos éticos das pessoas.
Folha de S.Paulo.12/3/2013

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