3 de março de 2013

No Rio, UPPs dão sinais de crise com a falta de segurança



Tiros de fuzil voltam a assustar moradores à noite e clima de tensão predomina em parte das favelas
Cidade ganha sua 31ª Unidade de Polícia Pacificadora com ocupação, hoje, do Complexo do Caju
DIANA BRITOMARCO ANTÔNIO MARTINSDO RIO, Folha de S.Paulo, 3/3/2013
De uma viela, no alto do morro do Chapéu Mangueira, zona sul do Rio, um rapaz sem camisa caminha despreocupado com uma pistola na cintura. Comunicando-se com alguém por um rádio transmissor, ele para e observa a movimentação da equipe da Folha no local.
Ele está a poucos metros dos 269 degraus que levam ao posto policial da favela.
A cena, comum em favelas cariocas há alguns anos, surpreende por acontecer em uma área ocupada há três anos por uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
No último dia 22, um grupo de traficantes do Comando Vermelho invadiu o morro de 4.000 moradores diante do mar do Leme em busca de rivais da ADA (Amigos dos Amigos) escondidos na favela. Moradores contam que à noite os tiros de fuzis voltaram a ser comuns.
Em outra ponta da cidade, na Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, zona norte, também surgem problemas.
Pela primeira vez, desde o início das UPPs, a Secretaria de Segurança do Rio detectou armamentos pesados em uma favela pacificada.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, admite que há fuzis na Vila Cruzeiro, mas não revela quantos. A Folha apurou que o serviço de inteligência da PM rastreou, há duas semanas, a entrada de oito fuzis na favela.
Na véspera da implantação da 31ª UPP, no complexo do Caju, zona portuária, o principal programa da segurança pública no Rio, com gasto anual em torno de R$ 480 milhões, enfrenta problemas.
Folha visitou nove localidades com UPPs e constatou que o clima é tenso na maioria delas. Na favela Fallet/Fogueteiro, centro, a reportagem não conseguiu entrar por causa do tráfico.
"Existem comunidades em que ainda constatamos focos de resistência", afirma o coronel Paulo Henrique de Moraes, coordenador das UPPs.
Na Nova Brasília, no Complexo do Alemão, policiais da UPP alertaram a Folha para evitar determinados locais, ocupados por criminosos.
Em quatro anos, 52 PMs lotados em UPPs foram presos sob acusação de envolvimento com corrupção.
No Morro do Turano, zona norte, e em outras comunidades, os policiais regulam serviços como transporte ou venda de gás. Antes da UPP, a kombi local cobrava R$ 1 para transportar os moradores. Depois da pacificação, passou para R$ 3. Desde então, o serviço tem a supervisão de um policial.
"As UPPs mudaram a configuração das negociações nas favelas. Antes era apenas o tráfico. Agora, os policiais corruptos investem em um novo mercado em que eles decidem o que pode ou não", analisa Ana Paula Miranda, antropóloga da Universidade Federal Fluminense.
Cerca de 2.000 policiais militares e 200 fuzileiros navais ocuparão hoje 13 favelas do Complexo do Caju, na zona portuária do Rio, para a implantação de duas UPPs.
Com elas, a cidade passa a ter 32 Unidades de Polícia Pacificadora. Será a sexta vez que a Marinha participa de uma ocupação de implantação de UPP. O complexo do Caju é dominado por traficantes da facção criminosa Comando Vermelho. Cerca de 20 mil pessoas vivem na região.

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