17 de novembro de 2011

Corte em saúde e educação preocupa espanhóis


17 de novembro de 2011
Educação no Brasil | O Globo | O Mundo | BR



Acostumada a benefícios sociais, população já sente redução no Orçamento em locais governados por conservadores
Priscila Guilayn internacio@oglobo.com.br
Correspondente

MADRI. A morte de uma mulher com aneurisma cerebral depois de um périplo por quatro hospitais públicos catalães disparou o alarme em toda a Espanha. A família afirma que a morte de Carmen Mesa foi consequência dos cortes orçamentários em saúde, que nos últimos cinco meses fecharam salas cirúrgicas e UTIs, além de 40 centros médicos e mil leitos na Catalunha, governada pelo conservador Convergência e União.
Carmen Mesa demorou 65 horas para ser operada e, neste tempo, sofreu duas hemorragias que agravaram seu estado. O caso catalão tem sido tomado como exemplo do que, em tempos de crise, pode piorar caso o governo federal caia em mãos conservadoras. O debate sobre o sucateamento da saúde e da educação públicas, grandes símbolos do Estado de Bem-Estar Social, tem provocado faíscas também em Madri, administrada pelo centro-direitista Partido Popular (PP) há 16 anos, e que vem intensificando as privatizações nos dois setores. Madri é considerada o epicentro da chamada maré azul (cor do PP) que, provavelmente, dará ao partido a Presidência do Governo com maioria absoluta nas eleições do próximo domingo.
- Cortes similares ao da Catalunha são esperados em Madri. O PP está esperando as eleições para endurecer. Em Madri, já excluíram 535 leitos e 5.000 médicos e enfermeiras, que foram transferidos a hospitais privados - diz Antonio Gómez Liébana, membro da Coordenadoria Antiprivatização da Saúde.
Espera de mais de 60 dias por cirurgia em Madri
Com uma cobertura universal, o desempenho da saúde pública espanhola está entre os melhores da União Europeia. Mas um coquetel de fatores preocupantes está colocando o Estado de Bem-Estar espanhol no olho do furacão. Com o envelhecimento da população, há mais aposentadorias a serem pagas, e com uma fila de mais de 5 milhões de pessoas em busca de trabalho, há menos arrecadação. Com os cortes orçamentários, o reflexo mais visível é a demora para conseguir marcar consultas, exames e cirurgias. A espera por uma operação num centro público pode durar mais de 60 dias, segundo a lista oficial de Madri, questionada pela imprensa espanhola.
- A primeira sensação é de queda na qualidade. Assim, a classe média, que confiava na saúde pública, passa a planos de saúde privados. E assim reduz o apoio popular aos serviços públicos, reivindicando-se a redução de impostos, já que deixaram de usufruir destes serviços - explica Joan Subirats, especialista em Políticas Públicas.
O pediatra Marciano Sánchez Bayle, diretor do Hospital Niño Jesús, constata uma situação difícil. Afirma que o número de pacientes encaminhados ao setor privado, subsidiado pelo Estado, é cada vez maior. Desde 2009 já foram abertos nove hospitais particulares em Madri, e até o fim do ano espera-se a inauguração de mais dois.
- O retrocesso é muito significativo. Vemos as equipes minguando. As vagas dos médicos que se aposentam não são preenchidas, há falta de equipamentos. Como a privatização é do serviço, e não do financiamento, os cidadãos são afetados porque gasta-se dinheiro para fazer o mesmo trabalho.
O Estado de Bem-Estar Social é uma "falácia" na opinião de Luis Fernández, fundador da associação de desempregados Adesorg, que está em greve de fome na Puerta del Sol.
- Como desempregado, perdi o direito à saúde pública. Para recuperá-la, devia me declarar "sem recursos", indigente. Não estou disposto a cair tão baixo.
Plano de saúde e escola subsidiada
A educação, com os professores em greve em plena campanha, está no mesmo caminho da saúde. A previsão em Madri para 2012 é de 1.190 docentes a menos para 4.313 alunos a mais na rede pública, como resultado de um maior investimento do Estado em escolas chamadas no país de concertadas (estabelecimentos privados que existem graças ao subsídio estatal).
Com desgosto, a comerciante Pilar Sáinz relutou mas acabou decidindo gastar parte do salário num plano de saúde e numa escola subsidiada para a filha. Educada em colégios públicos e acostumada aos excelentes serviços dos hospitais, começou a sentir-se em "outro planeta" quando pedia hora ao ginecologista e tinha que esperar quatro meses para um atendimento de, literalmente, dois minutos. O mais doloroso para ela foi a hora de escolher o colégio da filha.
- Os colégios públicos estão cheios de imigrantes. Por causa das dificuldades de idioma destas crianças, as aulas não vão para frente. Decidi optar por uma escola subsidiada, pago cerca de 240.
María Luisa Capell Sánchez-Rubio diz que tudo o que Pilar e outras mães passam atualmente é a pura realidade. Mesmo assim, esta diretora de escola pública insiste em que três de seus quatro filhos estudem em colégios do Estado. Seu filho mais velho, por ser autista, necessita de educação especial, que María Luisa encontrou num centro auxiliado pelo governo. Embora ela reconheça a tendência de privatização do Partido Popular, que ganhará seu voto, vê nos conservadores boas intenções como a promessa da educação bilíngue em centros públicos:
- Os concertados saem mais barato para os cofres públicos, embora sejam mais sectários. Vamos passar por uma época ruim, mas quero pensar que vamos melhorar.
BOCADITOS ELEITORAIS
EMPREGO E DESEMPREGO Fica na Andaluzia a capital espanhola do desemprego. Com 7.183 habitantes, Benalup registra uma taxa de desemprego de 40%. Os afetados são sobretudo do setor da construção. Do outro lado da Espanha, no País Basco, Oñati, com 10 mil moradores, ostenta o título inverso, com 5% de desemprego. Na cidade, 60% dos postos são em cooperativas.
BANDERAS EM CAMPANHA Apesar de viver há 22 anos fora da Espanha, o aclamado ator Antonio Banderas também entrou em campanha. No México, Banderas disse que, caso o Parido Popular vença, como indicam as pesquisas, o cinema espanhol vai perder os subsídios do Estado. Mas não vou chorar agora, se assim for, buscaremos outros caminhos , disse o ator.
O RICK PERRY ESPANHOL O secretário regional do Partido Socialista Óscar López virou o Rick Perry espanhol em referência ao pré-candidato republicano que teve um lapso de memória num debate. Ao dar três motivos para votarem em seu partido, o socialista teve um branco: aposentadoria, seguro-desemprego e .... . Entre risos, disse que diria a terceira razão depois.

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