11 de novembro de 2011

MOISÉS NAÍM Adeus, Europa?


Europa precisa passar por ajustes dolorosos; é impossível ganhar, a não ser que se produza mais
Começou com uma tragédia grega, continuou com um fado português, hoje estamos assistindo a um melodrama italiano e daqui a pouco a história pode terminar com uma retumbante ópera alemã.
A crise econômica europeia cresce, se diversifica e se complica. Se continuar como está indo, pode acabar com o projeto mais inovador da geopolítica mundial: a integração europeia.
O ambicioso objetivo de consolidar a Europa como uma economia integrada e um ator geopolítico influente é indispensável para os europeus e bom para o resto do mundo. A Europa não poderá defender seus interesses com eficácia, manter o padrão de vida de sua população e ser um ator relevante no mundo se voltar a se fragmentar.
Lamentavelmente, uma Europa menos integrada já deixou de ser tão inimaginável quanto era até alguns meses atrás.
Há dois cenários possíveis para o pós-crise. Um deles se chama "Mais Europa". O outro é "Menos Europa". Esse último é o que vai acontecer se não ocorrerem mudanças drásticas em três coisas: as políticas econômicas dos governos, a impunidade com que políticos oportunistas mentem para o público sobre as soluções e, o mais importante, a complacência de um público propenso a repudiar os políticos que lhe dizem a verdade.
"Menos Europa" é o que resulta de uma "solução" para a Grécia ou a Itália que em pouco tempo mostre ser insuficiente, tornando obrigatório um novo socorro financeiro. Mas o socorro não aparece a tempo, nem nos valores suficientes, e assim o crash se aprofunda, contaminando os outros países.
Obviamente, a Europa continuará a existir e a emitir sons que emulam os que faria um continente verdadeiramente unido, economicamente são e politicamente coordenado. Mas o resto do mundo ouvirá esses sons com um sorriso maroto, ciente de que são feitos por um continente que saiu de sua crise sendo menos do que era antes e muito menos do que poderia ter sido.
Esse cenário é uma desventura que precisa ser impedida. "Menos Europa" não é inevitável, e "Mais Europa" não é apenas desejável, mas possível. "Mais Europa" não significa mais Bruxelas, mais burocracia ou mais exibições vergonhosas de incompetência.
"Mais Europa" se constrói a partir de líderes que saibam explicar a seus compatriotas que seus filhos estarão condenados a viver pior, a menos que se reformem as economias e o velho continente se integre de maneira muito mais profunda.
E que a Europa precisa passar por ajustes dolorosos que incluem o reconhecimento de que é impossível ganhar mais a cada ano, a não ser que se produza mais. Ou que os sindicatos devem permitir mais competição no mercado de trabalho, os empresários, mais competição no mercado de bens e serviços, e que os lucros exuberantes de alguns bancos são distorções inaceitáveis.
Estamos em um desses momentos em que a coragem, a audácia e a visão dos líderes podem mudar a história. A oportunidade de construir "Mais Europa" está ali, para quem saiba aproveitá-la. Será que existem esses líderes na Europa? Saberemos em pouco tempo.

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