11 de novembro de 2011

População se protege como pode da violência no interior



10 de novembro de 2011
Cinform | SE

O comerciante Dário dos Santos já perdeu as contas de quantas vezes teve sua mercearia assaltada. Ele mora no Conjunto Marivan, periferia da Barra dos Coqueiros, município que tem os maiores índices de homicídio em Sergipe. "Mal completou um mês que me roubaram e fui vítima outra vez esta semana", reclama o dono de mercearia.
Também moradora do Conjunto Marivan, a vendedora Isabela Baptista diz que, em sua rua, os moradores costumam se recolher nas casas assim que o sol vai embora. "Antes, a vizinhança até ficava mais nas portas, mas, com tanto crime acontecendo, a gente fica com medo", afirma. Ela diz que para proteger a casa, o marido até improvisou um alarme, pendurando panelas na porta e protegendo a entrada com um botijão de gás.
Outro bairro violento na cidade é o Moisés Gomes, onde os moradores têm medo de falar sobre a realidade do local, por causa das represálias que podem vir a sofrer. A regra é "cada um na sua" e, de preferência, sem ouvir e nem ver muita coisa. "De uns anos pra cá, a situação ficou terrível. O bairro é cheio de bocas de fumo e os traficantes agem em plena luz do dia", conta a dona de casa, que prefere não se identificar. Ela já teve a casa furtada e, quando precisou da polícia, demorou a ser atendida.
O capitão Cristiano Barbosa, da 4ª Companhia do 8º Batalhão da Polícia Militar, afirma que o efetivo poderia ser maior e aponta a dificuldade de policiamento nas margens do rio Sergipe. "Muitos bandidos chegam e fogem pelo rio, o que dificulta o trabalho, pois não dispomos de barcos", afirma. Ele ressalta que a atuação da Polícia Militar é integrada com a Civil, além de pontuar que as rondas são feitas constantemente com duas viaturas. Sobre a demora nos atendimentos, o capitão justifica que o policiamento atende a todo município, incluindo os povoados, o que dificulta a chegada em determinados locais.
Interiorização da violência
O ambiente violento que ocorre na Barra e nos demais municípios da região metropolitana de Aracaju é o reflexo de um fenômeno conhecido como interiorização da violência. De acordo com o sociólogo Júlio Jacobo, diretor de pesquisas do Instituto Sangari, essa mudança dos polos violentos, antes mais concentrados nas grandes capitais, começou a ser observada a partir de 2000. "Com o desenvolvimento do potencial econômico de novos centros urbanos em todo o país, a violência chegou ao interior e ainda foi disseminada para outros Estados, que antes eram considerados mais tranquilos", ressalta o sociólogo.
Sergipe está entre os Estados que passaram por essa transformação. Em 1998, ocupava a 23ª posição no ranking da violência no país, com um índice de 14,9 homicídios para cada 100 mil habitantes. Em 2008, o número de homicídios passou a ser de 47 e a posição no ranking pulou para 13ª, um aumento de mais 200% em uma década. No Mapa da Violência 2011, divulgado pelo Ministério da Justiça, quatro municípios sergipanos se mantiveram entre os 300 mais violentos do Brasil: Barra dos Coqueiros, Itabaiana, Propriá e Aracaju.

Nenhum comentário:

Postar um comentário