23 de novembro de 2011

Rio de Janeiro: Para jovens de favelas com UPP, a pobreza é o maior inimigo

Encontramos famílias extremamente pobres. Cinquenta por cento delas tem uma renda média de um a dois salários mínimos. São famílias com quatro ou mais pessoas que vivem com menos de mil reais por mês.
Miriam Abramovay, pesquisadora
Nosso foco são os jovens de áreas com UPP. Queremos saber quais são as expectativas deles e traçar programas que atendam a esses anseios.
Rodrigo Neves, secretário estadual de Assistência Social


O problema foi citado por 24% dos entrevistados e ficou na frente, inclusive, do desemprego (10%), do tráfico de drogas (10%) e da violência (8%)


Moradores do morro Pavão-Pavãozinho, na localidade Vietinã Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Moradores do morro Pavão-Pavãozinho, na localidade VietinãDOMINGOS PEIXOTO / AGÊNCIA O GLOBO

RIO - Em tempos em que o poder público e a população comemoram a retomada de territórios controlados há décadas pelo tráfico, uma pesquisa encomendada pela Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos mostra que o maior inimigo dos moradores de favelas pacificadas está longe de ser vencido. Na opinião de 700 jovens residentes em sete comunidades que receberam Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), a pobreza ainda representa o maior obstáculo em suas rotinas. O problema foi citado por 24% dos entrevistados e ficou na frente, inclusive, do desemprego (10%), do tráfico de drogas (10%) e da violência (8%). O estudo foi coordenado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), em parceria com a Uerj.
Os dados foram colhidos pelo Ibope nos últimos quatro meses. Os 700 jovens, com idades entre 15 e 29 anos, responderam a um questionário para mostrar quais são as necessidades atuais para uma vida segura e de boa qualidade em comunidades com UPP. As favelas escolhidas por sorteio foram Providência (Centro), São João (Engenho Novo), Pavão-Pavãozinho/Cantagalo (Copacabana), Turano (Rio Comprido), Andaraí, Macacos (Vila Isabel) e Batam (Realengo).
Maioria não quer deixar comunidades
O estudo faz parte de uma parceria entre o governo do estado e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para traçar programas específicos para a juventude de áreas carentes. O resultado será apresentado em janeiro. Como noticiou Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, a pesquisa mostra que 70% dos jovens não querem deixar suas comunidades e aguardam melhorias. Apenas 29% querem sair das favelas, sendo que, desse total, 65% pretendem continuar no Rio, mas no asfalto. Um por cento dos entrevistados não respondeu ou não soube responder a esse quesito.
— O acordo com o BID foi firmado há oito meses. O banco entrará com R$ 90 milhões e ao governo do estado caberá a contrapartida de R$ 35 milhões. Já criamos o Comitê Executivo de Políticas Sociais Para Áreas Pacificadas. Nosso foco são os jovens de áreas que receberam UPPs. Queremos saber quais são as expectativas deles e traçar programas que atendam a esses anseios — disse o secretário de Assistência Social, Rodrigo Neves.
A professora Miriam Abramovay, responsável pela elaboração dos questionários, disse que foram encontradas "famílias extremamente pobres":
— Cinquenta por cento delas têm uma renda média de um a dois salários mínimos. São famílias com quatro ou mais pessoas que vivem com menos de mil reais por mês.
Ela lembra que, embora a violência tenha ficado em quarto lugar na lista de problemas, quando a pergunta foi quais as principais ações para melhorar as condições de vida nas favelas, o combate à violência ficou no topo.
— Ainda estamos finalizando o levantamento qualitativo, no qual os jovens comentam as questões. Eles citam a polícia violenta, a violência entre vizinhos, a proibição de baile funk... Todos problemas relacionados à violência — disse a professora.
Outro ponto que chama a atenção é referente à ocupação dos jovens. Do total de 700 entrevistados, 44% só trabalham e 19% só estudam; 26% não fazem nem uma coisa nem outra. No quesito evasão escolar, 55% disseram ter interrompido os estudos.
— Entre os 55% que pararam de estudar, 41% disseram que os motivos foram falta de tempo e necessidade de trabalhar. Em segundo lugar ficou a gravidez, com 29%. Em terceiro, aparece cansaço da vida ou desânimo com o colégio.
A pesquisadora disse que ficou impressionada também com a quantidade de jovens que não conseguiam preencher o questionário, por não saber ler. A pesquisa, contudo, identificou apenas 2% de analfabetos. A grande maioria (31%) disse ter concluído o ensino fundamental. Apenas 1% declarou ter concluído o ensino superior. O questionário é concluído com uma pergunta sobre planos para o futuro e uma surpresa: 34% dos jovens sonham cursar uma universidade.
Jovens devem ganhar bolsas para estudar
Com base na pesquisa, entre os principais projetos a serem implantados, segundo o secretário Rodrigo Neves, está o programa de tutor, para acompanhar jovens que tiverem passagem pela polícia:
— Ainda estamos estudando como seria feito esse acompanhamento, mas seria uma forma de dar uma direção a esses jovens, estimulá-los a retornar aos estudos e capacitá-los para o mercado de trabalho.
Outra iniciativa é a criação de bolsas-poupanças, nos valores de R$ 3.100 a R$ 4.200 — concedidas pelo período de três anos —, a jovens que se mantiverem nas salas de aula.
— Seria concedido o benefício a famílias muito pobres, com renda abaixo de um salário mínimo, e que teriam de estar cadastradas na prefeitura para o Bolsa Cidadão — frisou o o secretário.

 Leia mais sobre esse assunto emhttp://oglobo.globo.com/rio/para-jovens-de-favelas-com-upp-pobreza-o-maior-inimigo-3298717#ixzz1eVv7U7BY

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