16 de dezembro de 2011

Quantas mortes mais?


Paula Miraglia

Antropóloga analisa segurança pública, justiça e cidadania

Antropóloga e diretora geral do International Centre for the Prevention of Crime, Paula analisa segurança pública, justiça e cidadania

Redundância das informações do Mapa da Violência 2012 são importantes e podem ser encaradas quase como uma denúncia

15/12/2011 15:02
que a taxa de homicídios segue crescendo no País – 124% nos últimos 30 anos, resultando em mais de um milhão de pessoas assassinadas nesse período. Mostra, ainda, que as maiores vítimas são jovens entre 15 e 24 anos. A concentração de mortes entre esse grupo é 156% maior quando comparada outras idades.
Além do recorte etário, vemos que não apenas jovens negros são as vítimas preferenciais de homicídios, mas que enquanto as mortes entre a população branca vêm diminuindo desde 2002, entre a população negra esse número está crescendo. Em 2002, a diferença entre as mortes de negros e brancos era 45,8%. Já em 2010, foram assassinados 139% mais negros do que brancos.
Mas é justamente sua redundância que faz com que essas informações sejam tão importantes e possam ser encaradas quase como uma denúncia.
A publicação anual dos Mapas da Violência revela que há décadas o Brasil é vítima da letalidade. Um número tão elevado de mortes não fala apenas de criminalidade urbana, mas é um retrato de um país que parece ter aprendido, ou ainda pior, se acostumado a conviver com a violência.
Tal quadro é agravado quando reconhecemos que, da forma como esta distribuída hoje, a violência letal é um instrumento a serviço da reprodução das desigualdades. E, com efeito, não é apenas incompatível com as recentes conquistas brasileiras no campo econômico e social, mas se configura como um verdadeiro obstáculo a qualquer projeto de desenvolvimento almejado pelo país.
Mas se há consenso sobre a gravidade da situação e as informações são tão precisas e disponíveis, o que impede que uma política de combate aos homicídios seja prioridade no Brasil?
Esse é um tema que extrapola a esfera de segurança pública e interessa às políticas de juventude, igualdade racial, desenvolvimento social e econômico. Nesse sentido, torná-lo central, além de urgente, deve ser fruto de um esforço coletivo.

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