6 de setembro de 2014

'Precisamos programar cabeças para construir o conhecimento coletivo', diz Pierre Levy

GLOBO - Últimas notícias by Bruno Alfano  /  11h  //  6//92014


RIO - “Uma vez que a pessoa tenha a base das disciplinas, como história, geografia, matemática... ela precisa seguir um aprendizado autônomo, seja sozinho ou em grupo”. A afirmação do filósofo francês Pierre Lévy dá caminhos do pensamento apresentado em sua aula magna desta sexta-feira no encontro internacional Educação 360. De acordo com o estudioso, as novas ferramentas digitais possibilitam que o indivíduo seja o responsável por seu próprio aprendizado. No entanto, essa situação fica mais complexa quando se insere um componente ético no processo.
O seminário, que acontece na Escola Sesc do Ensino Médio, é uma realização dos jornais O GLOBO e "Extra" em parceria com Sesc, Prefeitura do Rio e Fundação Getúlio Vargas, com apoio do Canal Futura.
— Existem vários passos para que esse aprendizado seja realizado, como uma curadoria de dados e, logo após, uma categorização. Quando a pessoa faz isso em um ambiente compartilhado como a internet, acaba contribuindo para a construção do conhecimento coletivo. Por isso, há uma responsabilidade da sua atuação na rede. A pesquisa não é mais pessoal. Agora ela é social também — explica Pierre Lévy, que aposta nesse modelo como o ideal para o futuro da comunicação: — Precisamos programar cabeças para a construção do conhecimento coletivo.
As técnicas, ele explica, já estão criadas. Existem inúmeras ferramentas de distribuição de informação — especialmente via redes sociais. Para Pierre Lévy, falta agora a criação de uma cultura de responsabilidade da colaboração em rede dessa informação apurada. E aí que o professor é chamado ao posto de protagonista. De acordo como filósofo, o primeiro passo do profissional dessa categoria é aprender ele mesmo essa nova gerência de conhecimento para depois passar para os alunos.
— Nós causamos muito mais impacto na rede do que imaginamos. Não há, no processo de compartilhamento da informação, uma autoridade para dizer o que é falso e o que é verdadeiro. Assim, é importante ter capacidade crítica. Você pode criticar os dados, precisa consultar várias fontes, ver visões diferentes... O ciberespaço não está fazendo nada. As pessoas é que estão. Esse processo coloca a pessoa no centro do processo de aprendizado — define o filósofo, que também expõe desafios: — Uma rápida busca no Google não resolve. É um longo processo de pesquisa. Não é fácil e rápido, mas que aluno queremos formar? Queremos bons estudantes. Pessoas éticas. Essa é uma perspectiva da criação de um novo modo de fazer conhecimento e dá trabalho
O auditório principal do Educação 360 ficou lotado para assistir o filósofo francês. Na porta, uma fila enorme se formou, de quem não estava inscrito e tentava uma vaga. Quem conseguiu seu lugar, ouviu ainda que o desafio não é só escolher as melhores informações, mas também saber como usá-las.
— Os dados não são objetivos ou neutros. Os mesmos eventos podem ser observados de maneiras diferentes. É preciso considerar todas essas coisas para ensinar aos alunos e eles não virarem ovelhinhas que seguem qualquer coisa — desafia.
Esses são os pensamentos de Pierre Lévy de um cenário já existente. O filósofo ainda projeta que novas transformações estão por vir com o desenvolvimento mais apurado dos algorítimos (sequência de instruções que compõem os softwares).
— O futuro terá combinações de metadados. Assim, eles serão capazes de relacionar conhecimentos a partir de conexões semânticas. A partir daí criamos uma uma inteligência coletiva e reflexiva — projeta o filósofo.
A fala de Pierre Lévy inspirou quem estava na plateia. A jornalista Janaína Lellis, de 24 anos, percebeu que os meios de comunicação se desenvolveram (da impressão para o digital) e que a educação precisa acompanhar esse processo.
— A educação ficou travada em um momento anterior da comunicação — opina.

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