UNIVERSIDADE EM CRISE
Conselho Universitário também decidiu propor reajuste salarial de 5,2% para grevistas, que reivindicam 9,78%
Entidades de docentes e funcionários criticam medidas, consideradas por reitor um 'processo de gestão moderna'
Em frente ao prédio em que o Conselho Universitário discutiu o tema e também na praça do Relógio, dentro do campus, cerca de 700 pessoas --entre alunos, docentes e funcionários-- fizeram um ato contra as medidas e a favor do aumento de recursos para as universidades paulistas.
O programa de demissões é uma das medidas propostas pelo reitor Marco Antonio Zago para conter os gastos, que, só com a folha de pagamento, chegam a 106% do orçamento da universidade.
Na semana passada, o conselho aprovou a transferência do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (Centrinho), em Bauru, para o Estado. A transferência do HU (Hospital Universitário) ainda será discutida.
O PDV abrange funcionários não docentes, preferencialmente com idade entre 55 e 67 anos e mais de 20 anos de carreira. Eles terão indenização de um salário por ano trabalhado (até o limite de 20 anos ou R$ 400 mil). As demissões ocorrerão de janeiro a março do próximo ano.
A USP investirá R$ 400 milhões no programa. O valor virá das reservas financeiras, em queda por causa do gasto com salários. A expectativa é que o plano traga economia de 6,5% a 7,5% na folha de pagamento a partir de 2016.
O Conselho Universitário aprovou uma proposta de reajuste salarial de 5,2%, não retroativo e dividido em duas partes: 2,6% em outubro e 2,6% em janeiro. É a primeira vez desde o início da greve que a USP propõe aumento. O índice é inferior aos 9,78% pedidos pelos funcionários.
A proposta será levada nesta quarta (3) à reunião do Cruesp (conselho de reitores de USP, Unicamp e Unesp) com o Fórum das Seis, que reúne os sindicatos de servidores e docentes. Tradicionalmente, as três universidades aplicam o mesmo índice.
A USP não divulgou o impacto do índice no orçamento.
A Adusp (associação dos docentes) afirmou esperar que a proposta melhore a partir da reunião desta quarta. Magno de Carvalho, diretor do Sintusp (sindicato dos servidores), qualificou o valor como "decepcionante" e disse que espera decisão mais favorável da Justiça do Trabalho. Ambas as entidades criticaram o PDV.
O reitor classificou o plano como um "processo de gestão moderna". "Estamos tentando recolocar a universidade em perspectiva de reequilíbrio financeiro a médio e longo prazos."
O ato de professores, estudantes e funcionários teve teatro, música, mesas de debate e fogueira. O músico Tom Zé fechou o evento. Ao subir ao palco, reclamou de "tanto discurso".
Folha de SP, 3/9/2014
Plano levará USP ao caos, diz sindicato de servidores
Entidades veem proposta de demissões como 'revés' e 'irresponsabilidade'
'Não tenho planos de me aposentar', diz servidora; professor elogia iniciativa, mas teme baixa adesão
A aprovação do plano de demissões voluntárias dividiu alunos e professores da USP e foi considerada um "revés" e um "irresponsabilidade" por entidades de funcionários.
Magno de Carvalho, do Sintusp (sindicato de trabalhadores da USP), classifica a medida como um "revés" e afirma que o corte "levará a universidade ao caos". "Temos setores que trabalham no limite de funcionários."
Francisco Miraglia, da Adusp (associação dos docentes), diz que a universidade não é uma empresa. "Temos técnicos centrais em laboratórios, por exemplo. Se demitir, como a reitoria vai fazer? Vai fechar?"
"É uma irresponsabilidade", diz Paulo Rizzo, presidente do Andes (sindicato nacional dos docentes de ensino superior). Para ele, a medida deve aumentar o número de funcionários terceirizados.
Mesma preocupação tem a estudante de letras Isadora Szklo, 22, do Diretório Central dos Estudantes. "[Terceirizados não podem fazer greve."
"Estamos desorientados", afirma uma funcionária de 60 anos, 30 deles na USP. "Ainda vou avaliar se vou aderir, mas com certeza vou perder dinheiro, porque não tenho planos de me aposentar agora."
Luanah Santos, 28, aluna de ciências contábeis, acha que a medida pode ajudar a USP, ainda que só a curto prazo. "Mas deve haver vantagem para os funcionários", pondera.
Já o professor José Carlos Santos, de economia, acha o PDV uma boa solução, mas considera difícil que haja adesão, pois os salários são superiores aos do mercado.
Paulo Matos, 40, que faz mestrado na FEA, diz que "como qualquer empresa" a USP precisa adotar a medida. "É a menos pior".
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